Junior Concianza Severino, de 24 anos, PcD, foi morto a tiros por policiais militares na aldeia Panambizinho, em Dourados, na frente da família
Por Assessoria de Comunicação – Cimi –
Familiares de Junior Concianza Severino, de 24 anos, indígena Guarani e Kaiowá morto pela Polícia Militar na tarde desta quinta-feira (16), na aldeia Panambizinho, em Dourados (MS), contestam a versão policial de que o jovem estava “em surto” ou que tenha tentado tirar a arma dos policiais, conforme nota divulgada pela corporação.
“Eu vou cobrar, não vou deixar barato. Por que tiraram a vida do meu filho assim? Ele é jovem ainda. Eu pedi pra salvar a vida dele. Ele tem a questão da saúde mental, é verdade, mas não é um bicho pra matar desse jeito. O que é isso. Eu sou da roça, meu marido, Nhanderu Nivaldo, é da roça. Eu comprava medicamento, ele tomava tudo direito”, diz Fineida Neusa Aquino Concianza.
A indígena Guarani e Kaiowá diz que na tarde desta quinta foi ao Posto de Saúde da aldeia, acompanhada de Junior, para tratar de um problema no pé do jovem. “Fui conversar com o pessoal do postinho para saber como ele seria medicado, tomar banho, cortar o cabelo. Então chamaram o Samu, mas eu até agora não entendi a razão”, conta.
Fineida explica que o rapaz não estava em surto, mas ao ver o Samu ficou agitado. “Sentiu medo, se tremendo todo”, explica. O comportamento assustou os pronto-socorristas, que foram embora. Na sequência, a Polícia Militar foi acionada. A indígena não sabe dizer exatamente quem chamou os policiais, mas acredita ter sido o próprio Samu. Quando os soldados chegaram, tudo se deu na frente dela e sob um pé de manga, onde na terra uma mancha de sangue podia ser vista nesta sexta (17).
“Vou cobrar porque também não quero que aconteça com outros. Não podem nos tratar feito animais”, diz Fineida
“A polícia chegou perto da (árvore de) manga, e não veio falar comigo ou o pai dele. Nem falou, polícia. Desceu correndo (policiais) e veio para cima do meu filho, na árvore (mangueira). Quando começou a jogar cacetada, deram um tiro no meio da barriga dele. Segundo que atirou, e ele (o jovem indígena) correndo ao redor da árvore. Quando cheguei perto, ouvi outro tiro e fiquei afastado. Se eu chegasse perto do meu filho, ia acertar bala em mim. Acertou bem no ombro dele, caiu bem aqui, nos meus pés, sem vida. Por que fizeram isso?”, relata.
Conforme os familiares, o jovem era oficialmente declarado como Pessoa com Deficiência Psicossocial (PcD). Há cinco anos passou a viver sob constantes cuidados, sendo medicado diariamente – após o almoço e o jantar. “Tem muitos indígenas assim, nessa situação. Vou cobrar porque também não quero que aconteça com outros. Não podem nos tratar feito animais”, diz Fineida.
“Meu coração não está bom, não. Ele toma remédio, anda pela aldeia. Normal. Fomos ao posto por conta das feridas no pé dele. Só isso. Matar o menino, na frente da família, como fizeram isso… essa é a minha palavra”, conclui Fineida.
Dona Fineida e seu marido, o Nhanderu Nivaldo Francisco Severino. Foto: Andréa Moratelli/Cimi
Versão da Polícia Militar
Questionada pelo portal Campo Grande News a respeito da morte, a Polícia Militar, por meio de nota, justificou a ação dos policiais dizendo que “foi necessário o uso progressivo da força. Inicialmente, foram utilizadas técnicas de contenção com equipamentos não letais (bastão e munição de impacto controlado), que se mostraram ineficazes para conter a agressão. […] O homem avançou sobre um dos policiais e tentou pegar a arma de fogo”.
Os familiares de Junior negam a informação e explicam que ele estava assustado, tentando fugir. De acordo com os entrevistados, havia outras maneiras de lidar com a situação. Os indígenas ouvidos entendem que desde o início os policiais foram violentos.
“Imediatamente após o fim da agressão, a equipe do Samu, que já se encontrava no local, prestou os primeiros socorros ao ferido, encaminhando-o com vida ao Hospital da Vida. Contudo, o homem não resistiu aos ferimentos e veio a óbito na unidade hospitalar”, diz a nota. Um processo administrativo foi instaurado.