Por questão de segurança foi pedido o anonimato do autor.
Em alguns momentos me surpreendo divagando se um dia, todo esse discurso de ódio contra a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, parte de seus professores e até mesmo alunos, não poderá se materializar em uma grande tragédia.
Diferentemente de Campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, não possuímos um serviço de segurança.
É possível identificar facilmente o discurso de ódio dirigido a UEMS, parte de seus professores, e também, parte de deus alunos[1] especialmente disseminado nas Redes Sociais.
O alvo preferencial de todo o discurso de ódio geralmente está direcionado àqueles professores um pouco mais críticos, que buscam a reflexão permanente de seus alunos e sua independência pedagógica no processo do ensino/aprendizagem, e/ou, àqueles professores que lecionam disciplinas relacionadas aos Direitos Humanos, Sociologia, Antropologia, Educação, Filosofia, dentre muitas outras disciplinas. Também, aos professores que citam em suas aulas o filósofo e educador Paulo Freire, talvez o pesquisador brasileiro mais conhecido do Planeta, dentre outros.
A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul é uma universidade que presta um serviço muito relevante e de altíssima qualidade. De seus 61 (Sessenta e um) Cursos de Graduação, 47 foram muito bem avaliados no “Guia Quero Estadão da Faculdade”.[2] Certamente, os demais, serão em um futuro muito próximo avaliados com igual rigor e qualidade.
A questão é: se todo esse discurso de ódio disseminado nas redes sociais contra a universidade não possui qualquer forma de controle por parte dos gestores da Universidade, do Estado e até mesmo por parte dos principais alvos e vítimas do discurso que talvez estejam cansados demais para buscar ajuda do Estado, ou da Gestão Universitária, o que é possível fazer?
Ocorre que há grande quantidade de estudos científicos nacionais e Relatórios de Organizações Internacionais para fundamentar e demonstrar o real risco que a Universidade e seus membros estão correndo.
Segundo relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA), intitulado “SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL”, organizado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, publicado neste ano de 2021[3], há na página 104, o título “MORTES VIOLENTAS DE PESSOAS ATIVISTAS E DEFENSORAS DOS DIREITOS HUMANOS”, na página 180, o título: “DISCURSO DE INCITAÇÃO DE ÓDIO E DISCRIMINAÇÃO”. Há um capítulo inteiro orientando as instituições do Estado brasileiro com relação a situação atual. Trata-se do Capítulo 06 intitulado “INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS DE DIREITOS HUMANOS”.
Por seu turno, um estudo da FREE TO THINK 2019, avaliou ataques realizados a comunidades acadêmicas de ensino superior de 56 países e, pela primeira vez, colocou o Brasil em destaque. O estudo cita que: Um aumento nas pressões de motivação política nas universidades brasileiras, incluindo ataques a campus, ameaças e
[1] No caso dos alunos, relacionado, infelizmente, com questões de raça, identidade de gênero e militância em defesa de direitos sociais e direitos humanos.
[2] publicacoes.estadao.com.br/guia-da-faculdade
[3] http://www.oas.org/pt/cidh/relatorios/pdfs/Brasil2021-pt.pdf
ataques a estudantes minoritários e legislação que ameaça as atividades e os valores essenciais das universidades.[1]
Merece destacar que foi a primeira vez que o Brasil foi citado no relatório. Quem desejar ter acesso ao relatório inteiro basta acessar o link do rodapé.[2]
Outro importante estudo publicado por uma instituição sediada em Berlim, intitulada GPPI (GLOBAL PUBLIC POLICY INSTITUTE), alerta que a Universidade brasileira e a liberdade de cátedra estão sobre ataque, senão vejamos:[3]
[…] destaca ofensivas em várias frentes contra professores, pesquisadores e instituições brasileiras. Sinais claros de corrosão da autonomia acadêmica já vêm desde as eleições. A liberdade acadêmica de pesquisar e ensinar, em um ambiente com autonomia didática e científica nas universidades públicas, é garantida pela Constituição, mas está sob ameaça no Brasil.
Você pode ter acesso a integralidade do relatório no link do rodapé.[4]
Há outros relatórios internacionais de ONGs atentas a situação brasileira, como é o caso da Organização Artigo 19 que pode ser acessada por meio do site https://artigo19.org/.
Por fim, a revista THE INTERCEPT BRASIL publicou uma extensa matéria com o título: “O COMANDO QUE ESTÁ CAÇANDO ESQUERDISTAS NAS UNIVERSIDADES PERSEGUIU 181 PROFESSORES”. A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul é citada nominalmente nesta matéria. O link de acesso para a matéria está disponível na nota de rodapé.[5]
Diante de tantos relatórios de instituições internacionais sérias denunciando os ataques às Universidades brasileiras, seus professores e alunos e, infelizmente, diante dos reiterados discursos de ódio disseminados, principalmente, nas redes sociais, em face da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, talvez, nos reste, pedir socorro:
A) Pedir socorro às autoridades públicas brasileiras Estaduais e Federais, especialmente do âmbito do sistema de justiça, que possuem condição de monitorar as redes sociais, bem como, monitorar tais discursos de ódio dirigidos à instituição;
B) Pedir socorro também, aos nossos Legisladores Estaduais que poderão, talvez, dirigir um pouco de atenção e carinho as necessidades de UEMS e legislar no sentido de coibir ataques de discurso de ódio que são dirigidos a instituição;
C) Igualmente, pedir socorro, aos Gestores da UEMS que já devem ter tomado conhecimento de inúmeros ataques de discurso de ódio realizados em face da instituição, seus professores e alunos. Talvez, agir de forma mais firme, com apuração e punição dos responsáveis, bem como, um programa de conscientização da comunidade acadêmica e, até mesmo, um convênio para contratação de seguranças terceirizados que possa impedir a triste concretização do discurso reiterado em tragédia.
Talvez, esse texto, se resume a isso, um eloquente pedido de socorro!
[1] http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/594659-estudo-global-free-to-think-2019-avalia-ataques-a-comunidades-de-ensino-superior-em-56-paises-brasil-e-destaque
[2] https://www.scholarsatrisk.org/wp-content/uploads/2019/11/Scholars-at-Risk-Free-to-Think-2019.pdf
[4] https://www.gppi.net/media/GPPi_LAUT_2020_Academic_Freedom_in_Brazil.pdf
[5] https://theintercept.com/2018/10/26/universidades-censura/