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Crônica de Elairton Gehlen: ‘O espetáculo das ruas, o Dia das Crianças’

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Elairton Gehlen – escritor 

Estou passando uns dias no Paraná, cumprindo minha tarefa de cuidador de idosa! De verdade são os dias que estão passando por mim, em altíssima velocidade, fecho os olhos e quando abro tem uma criança esperando os dias da gravidez se cumprirem para ver a luz do mundo. Os dias são de um tempo em que as matas deveriam ser derrubadas para o desenvolvimento mostrar sua face mais brutal. Dias em que a pobreza alimenta mais de fome e desesperança do que as compras fiado no Empório da Colonizadora, junto com meio litro de leite por dia. 

Três dias na Ala Covid do Hospital Rondon, onde a morte se anuncia em tubos de oxigênio e bolsas de sangue e aquela placa: SUSPEITO escrita na porta. Enfermeiros gentis que entram e saem constantemente trocando roupas e higienizando as mãos em álcool gel. Você não pode sair do quarto, nem ao corredor, agora você é um contaminado em potencial! Não posso sair, não posso nascer! Exames, muitos exames. A doente convalesce, o dia do parto se anuncia, a luz das ruas espera pela alta hospitalar. 

Me perco nos pensamentos com as histórias repetidas que de vez em quando acrescentam uma informação nova, daquelas que vale a pena ter tido paciência para ouvir pela n-ézima vez. Quando fiquei grávida de ti, senti tristeza, não queria mais um, já estava difícil demais com três! Se pudesse parava o tempo. Em três dias uma informação de sessenta e um anos atrás.  

Sessenta e um anos e o tempo volta a passar de segundo em segundo. A criança, oitenta e seis anos de idade não sabe mais se cuidar, teve alta hospitalar e viu a luz do dia, volta para casa no aconchego da ambulância, numa cadeira de rodas reaprende a andar, tem a comidinha no prato e toma banho com ajuda de um adulto, já consegue dar alguns passinhos!  

Doze de outubro chegou, o Dia das Crianças. Que felicidade! É um dia especial, a criança que não era esperada cuida da criança que não esperava! O comércio se debate entre a necessidade de aumentar o lucro e a obrigação de proteger os clientes. O capitalismo é o adulto de uma criança indesejada. Meio litro de leite e as compras fiado no Empório da Colonizadora; O desmatamento nas terras da empresa. A pobreza; A riqueza. Quem é a criança?  

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