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Criança gay e o bullying na aula de Educação Física

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12/08/2020 08h44 – Por: Folha de Dourados

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(Por Otavio Furtado) Todos nós sabemos da importância da prática de atividade física na formação de uma criança. Até por isso, por muito tempo a aula da Educação Física era obrigatória nas escolas. Mas o que era para ser saudável acabou sendo motivo de bullying na aula de Educação Física e gerou trauma em muitas crianças gay.

Existia quase que a obrigatoriedade de meninos jogarem futebol na aula de Educação Física. Mesmo em alguns outros esportes coletivos, quando existia essa opção, nem toda criança se sentia incluída. E a falta de habilidade de professores em lidar com esse tipo de situação gerou trauma em muitos gays, que levou até em alguns casos ao distanciamento durante longo tempo de qualquer atividade física.

Eu tinha medo que a Educação Física revelasse algo sobre mim. Medo que a bola ao tocar em mim revelasse que eu era gay.

Sem entender muito sobre sua sexualidade, as crianças já eram obrigadas a lidar com situações de bullying na aula de Educação Física. Lucas Mappa lembra que em seu colégio militar o esporte era importante. Mas não se sentia incluído na hora da Educação Física. Sem saber jogar bem, não era escolhido pelos colegas de turma para o time: “Eu ficava sem saber pra onde ia”.

A mesma sensação de “não pertencimento” também aconteceu com Marcio Rolim. Para piorar, ele revela em um vídeo feito para seu canal que o professor ao perceber isso o colocava no time. A situação chegou a tal ponto que ele convenceu sua mãe a ir ao colégio reclamar com o professor que aquilo não era certo. “Ela foi no colégio brigar e disse que o professor tinha que dar aula de ginástica e não apenas colocar os meninos pra jogar bola e ficar olhando”, lembra Márcio.

Mas, apesar da boa intenção de sua mãe, a situação só piorou para ele. O professor então passou ginástica apenas para eles, que fazia no ginásio sozinho em um horário em que um dos turnos da escola estava no recreio.

Passeis dois anos sendo extremamente humilhado. Eu fazia os exercícios sozinho com uma multidão me assistindo. Voltava pra casa chorando. Foi pior do que tentar jogar futebol.

Obviamente o trauma gerado pelo bullying na aula de Educação Física, tanto em Márcio quanto em Lucas, acabou se refletindo em boa parte da sua vida, assim como em outras crianças que passaram por situações parecidas. Márcio revela que só voltou a praticar qualquer atividade física depois dos 30 anos, quando entrou para a academia. Já Lucas acabou redescobrindo o prazer de jogar futebol anos depois, quando entrou para o time Bharbixas, formado exclusivamente por gays.

Toda criança tem prazer em brincar em grupo, em estar incluído. O bullying acabou me afastando dos esportes.

Os times de futebol gay formado nos últimos anos em diversas cidades do Brasil ajudaram Lucas e muitos outros a voltarem a ter prazer no esporte e se sentir incluído. Lucas lembra que no Bharbixas sempre se sentiu acolhido: “Tudo bem se eu errasse, ninguém reclamava que eu era ruim”.

Isso o motivou a ir treinando cada vez mais e ao viajar pro Rio para assistir seu time jogar a primeira edição da Ligay teve a certeza que queria se dedicar aos treinos técnicos (até então participava apenas dos recreativos) para se desenvolver no esporte.

Quando assisti a Ligay senti algo diferente. Eu nunca tinha chorado por um time de futebol. Naquele dia eu decidi que ia treinar mais para poder entrar em campo.

Os dois casos citados nessa matéria são apenas exemplos de uma agonia que muitas crianças passaram no período escolar. A inabilidade de muitos professores em saber lidar com esse tipo de situação gerou trauma em muitas crianças que acabaram se afastado do esporte.

Hoje a aula da Educação Física não é mais obrigatória. Mas isso não é a solução do problema, pelo contrário. O certo é investir na saúde física das crianças e até mesmo usar o esporte coletivo como forma de inclusão. Mas, para isso é preciso dar preparo aos profissionais para que saibam como atuar quando detectarem situações de exclusões, que podem acontecer por diversos motivos, desde a sexualidade até a forma física da criança.


Criança gay e o bullying na aula de Educação Física


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