Bastou um fim de semana para se perceber que rotinas de contenção não estão sendo tratadas com o rigor necessário pela população
16/03/2020 09h38 – Por: Folha de Dourados
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A segunda-feira começou com ônibus dos BRTs lotados na Zona Oeste do Rio, mostrando que boa parte da população está indo na contramão da recomendação para combater o coronavírus. No domingo de sol, os relógios de rua marcavam 17h no dia de calor. A Mureta da Urca, point na Zona Sul da cidade, estava abarrotada. Horas antes, na Praia de Copacabana, a areia ferveu, quase sem respiro entre as barracas dos banhistas.
Em São Paulo, na Avenida Paulista, manifestantes pró-governo compartilhavam canetas para registrar seus nomes em um abaixo-assinado.
Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro, em quarentena após dez pessoas de sua comitiva aos Estados Unidos testarem positivo para coronavírus, cumprimentava apoiadores.
Erros básicos no protocolo de prevenção e contenção da doença que assola o mundo e já acomete 200 pessoas no Brasil. O número é deste domingo. Na véspera, estava em 121 — para se ter uma ideia da velocidade de contágio.
Nota divulgada no início da noite deste domingo pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) sobre mais pessoas infectadas pela Codiv-19 na comitiva presidencial acabou expondo que Bolsonaro violou as recomendações.
Segundo o texto, servidores com exame negativo continuariam “no autoisolamento, cumprindo o protocolo determinado pelas autoridades sanitárias’’.
O presidente, cujo teste deu negativo na semana passada, chegou a apertar com vigor a mão de manifestantes. Ele recebeu críticas dos presidentes da Câmara Federal, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre.
Mas a autoridade máxima do país não esteve só. Bastou um fim de semana para se perceber que rotinas de contenção não estão sendo tratadas com o rigor necessário, apesar de medidas drásticas já terem sido tomadas, como a suspensão de aulas, o cancelamento de eventos e até o fechamento de fronteiras. No topo das recomendações sanitárias impera: “evitar aglomerações’’.
Realidade bem distante de um mar de gente reunida na praia, de confraternizações em bares, de filas em pontos turísticos — para citar alguns dos erros capitais flagrados. Sem contar a propagação da “desinformação’’ e a corrida desenfreada aos supermercados, o que provoca o abastecimento de uns e a falta de produtos para muitos.
— Se puder evitar a aglomeração, é melhor. A questão é a mesma, seja ao ar livre ou em ambiente fechado. A pessoa tosse ou espirra muito perto da outra — afirmou Leonardo Weissmann, infectologista consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, ao desaconselhar as manifestações.
A ponderação passa longe de paranoia ou histeria. Especialistas explicam que evitar o contato em massa atrasa o pico da doença e, pensando no dia de amanhã, ajuda a não sobrecarregar o sistema de saúde.
Jogo dos 7 erros
1 – Mau exemplo vem do alto
Mesmo com vários integrantes de sua comitiva aos EUA positivos para coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro descumpriu recomendação sanitária e apertou a mão de manifestantes em Brasília.
2 – Juntos e misturados
Evite aglomerações, dizem os especialistas. Mas, no fim de semana, bares ficaram lotados e points, como a Mureta da Urca, no Rio, e a 25 de março em São Paulo, tinham gente pelo ladrão.
3 – De mão em mão
Manifestantes pró-governo correram às ruas em várias cidades. No lugar de álcool gel para higienizar as mãos, compartilharam canetas para participar de um abaixo-assinado.
4 – Ponto negativo
No Rio, os pontos turísticos ficaram abertos ao público, com direito a Bondinho do Pão de Açúcar como lata de sardinha e fila no trenzinho que leva ao Cristo Redentor. Nesta segunda-feira, ônibus do BRT estavam lotados na Zona Oeste.
5 – A areia ferve
Depois de vários dias de chuva em pleno verão carioca, o fim de semana de sol provocou uma corrida às praias. No Leme, no Leblon e em Ipanema, era até difícil enxergar espaço entre as barracas dos banhistas.
6 – Uns com tanto…
Carrinhos de supermercado com 20 latas de leite em pó e 16 pacotes de papel higiênico. Do lado, prateleiras vazias. Condenada por especialistas, a corrida aos mercados supre alguns e faz faltar produtos para muitos.
7 – Desinformação
Inúmeros vídeos foram compartilhados à exaustão em grupos de WhatsApp. Um dizia que a febre da Covid-19 é alta; outro garantia que é baixa. Informação é bom, mas precisa ser confiável e disseminada com bom senso. (O Globo)
