Entre uma coroa e uma imagem de São Jorge e sob uma bandeira do Flamengo, e embalada por salva de palmas de integrantes da Mocidade Independente de Padre Miguel e amigos e familiares, Elza Soares foi velada na manhã desta sexta-feira no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A cantora morreu na tarde de quinta-feira, aos 91 anos, em casa, de causas naturais.
— Elza mostrou que esse mundo tem jeito se as mulheres tomarem conta. Ela se reinventou várias vezes e vai deixar a lição de que a gente precisa amar. E ela amou — disse Pedro Loureiro, empresário e representante legal da cantora.
Segundo Loureiro, esse ano Elza seria novamente destaque da Mocidade, sua escola do coração, num enredo sobre Oxóssi, e lançaria um novo álbum de estúdio, com cinco músicas inéditas. O disco foi gravado no fim do ano passado.
— Elza vinha muito bem, passou por Covid em outubro. Ela tinha muitos planos. Queria gravar o último DVD de carreira e ele foi gravado no Municipal de São Paulo — disse Pedro, revelando também que ela tinha o sonho de lançar a bisneta, Maria Eduarda, como cantora. — Ela falava que a Maria Eduarda tinha que estar pronta, porque esse mundo é muito cruel.

Vanessa Soares, neta mais velha (Elza deixa quatro filhos, oito netos e seis bisnetos), lembrou do dia a dia com a matriarca, com quem dividia apartamento.
— Ela me deu um apartamento. Estávamos morando juntas. Minha avó deixa na família mulheres fortes, ela nos ensinou isso.
Amigo e diretor musical do espetáculo “Elza”, que encenou a vida da artista, Pedro Luis destacou a alegria de viver da carioca.
— Elza deixa a reflexão de “viva a vida no seu máximo”, algo que ela sempre fez. Nunca gostou de falar de tristeza. É um exemplo de viver intensamente mesmo na adversidade.
O casal Tais Araújo e Lázaro Ramos também foi ao velório se despedir cantora, a quem chamaram de “uma das maiores artistas do mundo”.
— Elza é um fenômeno porque todas as gerações se apaixonaram por ela em algum momento, da nossa filha aos nossos pais. Ela estava sempre se renovando — disse Lázaro.
Muito emocionada, Tais ressaltou o legado que a artista deixa para as mulheres do país.
— Tenho a sensação de que ela preparou o terreno para a nossa geração. Óbvio que a gente queria que a vida dela não fosse de tanta luta, tão dura, mas é uma vida cheia de glória também. A gente tem que lembrar de tudo que ela conquistou.

O aposentado Paulo Cezar Ferreira, de 76 anos, veio até o Theatro com uma foto de Elza e da filha, Paula Cristina, também falecida, fã da cantora. Ele trouxe um livro para deixar com a família Soares.
— Eu sou muito grato a essa cantora pelo trabalho social que ela fazia com o pessoal de periferia. É a maior sambista do Brasil. Eu não posso deixar de orar pela alma dela — disse Paulo Cezar.
O prefeito Eduardo Paes também prestou homenagens à carioca de Padre Miguel:
— Óbvio que todos nós estamos tristes, a família, a legião de fãs, mas acho que hoje é dia de celebrar a vida dessa mulher, essa grande representante da cultura brasileira, da força da mulher brasileira, das pessoas, das pessoas que nascem nas favelas e periferias, das pessoas pretas que enfrentam dificuldades no dia a dia. Essa mulher soube permanentemente se levantar. Vamos celebrar a vida de Elza Soares porque o Brasil deve muito a ela. (Extra)