Juliel Batista –
O Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Dourados (CMDM) emitiu, nesta terça-feira (7), nota pública de repúdio contra os comentários machistas e racistas direcionados à delegada Thays do Carmo Oliveira de Bessa, durante transmissão ao vivo realizada pela Folha de Dourados nas redes sociais. A delegada concedeu entrevista ao veículo sobre um homicídio registrado no município, e foi alvo de ataques verbais na seção de comentários da live.
A transmissão, conduzida pelo repórter Cido Costa, alcançou mais de 1,2 milhão de visualizações, se tornando uma das mais repercutidas nas redes sociais em Mato Grosso do Sul nos últimos dias. No entanto, a reportagem foi maculada pela conduta de alguns internautas, que, além de insultos, reproduziram falas abertamente discriminatórias, dirigidas à delegada.
Um dos comentários mais chocantes, que viralizou negativamente, afirmava:
“Nossa delegada feia tá mais para ser empregada doméstica aqui da minha casa que qualquer outra coisa e tratar ela igual a cachorro aqui.”
Além dessa frase, outras manifestações de teor misógino e racista foram registradas na live, o que motivou indignação de instituições, ativistas e representantes da sociedade civil.
Na nota, o CMDM afirma que Thays Bessa foi alvo de uma violência “hedionda, misógina, racial e de desrespeito à autoridade”, pelo simples fato de ser uma mulher negra ocupando cargo de poder. A manifestação ressalta que o episódio não é um caso isolado, mas reflexo do racismo e do machismo estrutural ainda enraizados na sociedade.
“Racismo e misoginia são crimes, não opiniões”, afirma um dos trechos da nota.
Diversas entidades assinam a manifestação, entre elas a OAB – Subseção Dourados/Itaporã, a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), a UEMS, a Delegacia da Mulher (DAM), Polícia Militar, sindicatos, coletivos de mulheres, representantes da população negra e organizações indígenas.
O texto cobra resposta imediata das autoridades, com apuração rigorosa dos fatos e punição dos responsáveis, conforme a Lei 14.532/2023, que equipara injúria racial ao crime de racismo.
A delegada Thays Bessa é adjunta da Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) e tem atuação reconhecida na cidade, inclusive no combate à violência contra a mulher.
A nota encerra com solidariedade à delegada e a todas as mulheres que enfrentam cotidianamente discriminações ao ocupar espaços historicamente negados.
Confira a nota na íntegra:
Angela Maria Plotzki – secretária em exercícios do CMDM
O Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Dourados-CMDM/MS, juntamente com as Instituições e Entidades abaixo relacionadas, vêm a público manifestar seu mais profundo REPÚDIO ÀS DECLARAÇÕES RACISTAS E MISÓGINAS, proferidas em rede social, contra a Delegada Adjunta Thays do Carmo Oliveira de Bessa, da Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário de Dourados/MS (Depac), após conceder entrevista para portais locais sobre um homicídio ocorrido na região.
Dra. Thays do Carmo Oliveira de Bessa sofreu, de modo hediondo, violência misógina, racial e de desrespeito a autoridade, por ser mulher, negra e desempenhando cargo de autoridade e poder.
O episódio representa mais um triste retrato do racismo e do machismo estruturais, que insistem em tentar calar e deslegitimar as vozes das mulheres, principalmente, negras, que ocupam espaços de poder e autoridade. Não aceitaremos que o ódio, o preconceito e a violência simbólica sejam normalizados sob o falso argumento de liberdade de expressão.
Racismo e misoginia são crimes, não opiniôes.
Tais manifestações, que atacam a honra, a dignidade e a competência de uma mulher negra, que exerce com reconhecida responsabilidade suas funções públicas, são inadmissíveis em uma sociedade democrática e plural. O racismo e o machismo, em qualquer de suas formas, constituem crimes e violências que ferem os direitos humanos, a Constituição Federal e os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.
As agressões dirigidas à delegada não atingem apenas sua pessoa — são ataques contra todas as mulheres, contra todas aquelas que diariamente enfrentam a misoginia institucional e o patriarcado em suas múltiplas formas.
Tentam diminuir o mérito, a competência e o direito de existir e falar, de quem ousa ocupar um espaço que historicamente lhes foi negado.
Expressamos nossa solidariedade e total apoio à Delegada Thays do Carmo Oliveira de Bessa, reconhecendo sua trajetória, compromisso e importância no enfrentamento à violência e na defesa da justiça e da cidadania.
Diante da gravidade dos fatos, requeremos das autoridades competentes a imediata apuração dos fatos e a responsabilização dos autores das ofensas, conforme previsto na legislação vigente Lei 14.532/2023, que equipara a injúria racial ao crime de racismo. Além da misoginia, manifesta em ato de calúnia, injuria e difamação. O silêncio e a impunidade não podem continuar sendo as respostas diante da violência racista e de gênero.
Reiteramos nosso compromisso com a promoção da igualdade de gênero, racial e o enfrentamento de todas as formas de discriminação, reafirmando que não aceitaremos retrocessos, nem silêncio, diante de violências dirigidas às mulheres, em especial às mulheres negras, que diariamente rompem barreiras e ocupam espaços de decisão e poder.
Dourados/MS, 07 de outubro de 2025.
Gilvane Bezerra da Silva Dias Presidente do CMDM
Raimunda Luzia de Brito – CMNEGRASMS
Eliselle Lopes
Presidente da Comissão da Mulher Advogada – OAB 4°Subseção Dourados-ltaporã
Alyne Joyce dos Santos Koehler
Presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB 4°Subseção Dourados-ltaporã Coordenadoria de Políticas públicas para mulheres de Dourados
Centro de Atendimento à Mulher Vítima de violência doméstica – Viva Mulher
Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação de Dourados/MS -SIMTED Grupo de Trabalho Todas – Sindicato dos Técnicos-Administrativos da UFGD (SINTEF) Organização Terenas da Grande Dourados – OTGD
Delegacia da Mulher — DAM/Dourados-MS] Polícia Militar do Mato Grosso do Sul Universidade Federal da Grande Dourados/UFGD
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul /UEMS