Dr. Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –
O conservadorismo no Brasil é um fenômeno complexo e multifacetado, que envolve aspectos históricos, culturais, religiosos, políticos e sociais. Não há a definição única ou consensual do que é ser conservador no Brasil, mas é possível identificar algumas características comuns entre os que se identificam ou são identificados como tal.
O sentido do conservadorismo no Brasil está relacionado com a defesa de valores, tradições e instituições considerados essenciais à manutenção da ordem social. Os conservadores brasileiros tendem a valorizar a família, a religião, a hierarquia, a autoridade, a propriedade privada, a segurança, o patriotismo, a competição, o livre mercado. O conservadorismo se opõe a qualquer tipo de mudança social que ameace esses valores, especialmente se for por meio de movimentos revolucionários e progressistas. Prefere a continuidade, a estabilidade e a reforma gradual.
O conservador tem a forte tendência de apresentar o fanatismo ideológico (programação emocional decorrente de lavagem cerebral) e agir de forma inconsciente, excessivamente egoísta, violenta, repressiva. Quem, como diz a palavra, quer conservar a dor, se torna conservaDOR.
No entanto, apesar da oposição dos conservadores, a mudança é indispensável e necessária à evolução: permite a adaptação dos seres vivos às novas condições ambientais, culturais e históricas. A evolução é o processo natural e contínuo que ocorre em todos os níveis da vida, desde o biológico até o social. O conservadorismo é contra a evolução, porque se posiciona contrário à mudança, que é a força motriz da evolução.
A origem do conservadorismo no Brasil remonta ao período colonial, quando o País era dominado pela Coroa Portuguesa e pela Igreja Católica, que impunham a visão de mundo baseada na fé, na obediência e na tradição. O conservadorismo se fortaleceu durante o Império do Brasil, quando surgiu o Partido Conservador, que defendia os interesses da elite agrária, escravocrata e monarquista. O conservadorismo também se manifestou durante a República Velha, quando os coronéis controlavam o poder político e econômico nas regiões rurais.
O conservadorismo no Brasil tem diversas formas e em diferentes contextos, mas é possível perceber algumas tendências e movimentos que expressam essa ideologia. Um deles é o conservadorismo religioso baseado na fé cristã, especialmente católica e evangélica, e que defende princípios morais como a defesa da vida, da família e da sexualidade tradicional. Outro é o conservadorismo político, que se alinha à direita ou à extrema-direita, e que defende ideias como o liberalismo econômico, o patriotismo, o anticomunismo, o militarismo e o autoritarismo. O terceiro é o conservadorismo cultural, que se opõe à diversidade, à pluralidade e à tolerância, e que defende a preservação da cultura nacional, da língua portuguesa formal em desfavor de outras modalidades linguísticas, da história oficial e dos símbolos patrióticos.
Os prejuízos do conservadorismo à sociedade são vários e graves. Historicamente, impedem o avanço, a transformação e a emancipação do povo brasileiro. O conservadorismo limita a liberdade, a igualdade, a democracia, a cidadania, a educação, a ciência, a arte, a cultura, a diversidade, a inclusão, a justiça, os direitos humanos, o ambiente natural, o desenvolvimento e a paz. O conservadorismo reproduz e reforça as desigualdades, as injustiças, as violências, as opressões, as discriminações, as explorações, as corrupções, as alienações, as intolerâncias, as ignorâncias, as mentiras, os medos e os ódios.
O modo de prevenir, enfrentar e superar o conservadorismo é o amor, a conscientização, a mobilização, a organização, a participação, a resistência, a contestação, a denúncia, a proposição, a educação crítica e emancipatória, a informação, a comunicação, a cultura, a arte, a política, a democracia participativa, a solidariedade, o respeito à diversidade, a tolerância, a esperança. É preciso construir a sociedade mais justa, mais livre, mais igualitária, mais democrática, mais plural, mais inclusiva, mais educada, mais científica, mais artística, mais cultural, mais ecológica, mais desenvolvida, mais pacífica e mais feliz. É preciso construir o Brasil mais humano, mais diverso e mais unido.
O conservadorismo atrasa o Brasil de diversas maneiras. Em primeiro lugar, impede o desenvolvimento social, pois, se opõe a mudanças socioeconômicas mais profundas. Isso significa que o conservadorismo dificulta a implementação de políticas públicas que promovam a igualdade, a distribuição de renda, a justiça social e a defesa dos direitos humanos.
Em segundo lugar, limita a liberdade individual, pois, defende valores tradicionais e hierarquias sociais. Isso significa que o conservadorismo pode restringir a liberdade de expressão, a liberdade de associação e a liberdade de religião.
Em terceiro lugar, pode levar à intolerância e à violência, pois, se opõe à diversidade e à pluralidade. Isso significa que o conservadorismo pode gerar a discriminação, o racismo e a violência contra grupos minoritários.
Para mudar essa realidade, é preciso promover a cultura de conscientização e de resistência ao conservadorismo. Essa cultura construída com ações educativas, culturais e políticas. No âmbito educativo, a educação crítica e emancipatória ensinar os estudantes a pensar por si mesmos e a questionar as estruturas sociais e políticas. No âmbito cultural, propagar a diversidade e a pluralidade, valorizando as diferentes expressões artísticas e culturais. No âmbito político, fortalecer os movimentos sociais e a democracia, para que a população cada vez mais participe diretamente das decisões políticas e exija os próprios direitos.
Algumas ações específicas que podem ser tomadas para enfrentar o conservadorismo no Brasil incluem:
- Promover a educação sexual e a educação à diversidade, o autoconhecimento em todos os níveis educativos, para tornar a população mais consciente e amorosa, dissuadir a discriminação e a violência contra grupos minoritários.
- Fortalecer as políticas públicas de igualdade racial e de gênero, para promover a equidade e a justiça social.
- Proteger o ambiente natural, urbano e rural, para garantir o futuro do planeta e dos habitantes.
- Promover a paz e a não-violência, para construir a sociedade mais justa e igualitária.
A cultura da conscientização leva à superação do conservadorismo, e é construída a partir da visão de mundo inclusiva, plural e progressista. É preciso educar para pensar criticamente e questionar as estruturas sociais e políticas. Ainda, valorizar a diversidade e a pluralidade. Defender que o ordenamento jurídico promova mais a vida do que favoreça a proteção da propriedade privada e a concentração da renda.
A construção da sociedade mais justa, livre, igualitária, democrática, plural, inclusiva, educada, científica, artística, cultural, ecológica, desenvolvida, pacífica e feliz depende da erradicação do conservadorismo. Para isso, a população precisa se mobilizar e engajar na construção do um Brasil mais amoroso onde o povo tenha o pleno acesso ao autoconhecimento, para se tornar mais consciente e amoroso.
(*) É Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.