Artigo – 21/12/2011
Com certeza você não está preocupado com a recessão mundial anunciada para o próximo ano. Mas deve estar inquieto com uma possível seca que já mostra sua cara por aqui e, se persistir, ela pode trazer uma crise.É isso mesmo, já se pode ver a preocupação estampada no rosto dos produtores rurais. Eles evitam externar pessimismo, mas não esquecem as secas sofridas há poucos anos. Ainda estão pagando as renegociações feitas com os bancos que os financiaram. Preocupam-se e com razão.Tudo indica que esse veranico é mesmo o La Niña, fenômeno causado pelo resfriamento das águas superficiais no Oceano Pacífico, na costa oeste do Peru. Quando isso acontece “há um excesso de chuvas no Nordeste do Brasil e estiagem no Oeste dos estados do sul do Brasil e no Paraguai” como ensina a Wikipédia. Nos estados do sul, a oeste deles, como é nosso caso, todos temem novamente uma seca severa por conta do La Niña; este é o motivo da preocupação. E o que se pode dizer disso agora? A respeito disso somente dizer que é um fenômeno natural. Que faz parte da própria vida da Terra. Hoje ainda não podemos fazer nada para evitá-lo. Mas se não podemos fazer nada quanto aos malefícios de uma seca podemos, sim, nos prevenir quanto à recessão que, assim como os efeitos do La Niña, já está mostrando a cara pelo Brasil sem a gente perceber. Os efeitos dela, a recessão, ainda não se mostram à maioria da população, mas você não se iluda, eles chegarão até nós. E isso pode trazer uma grande crise. Vejamos: a China, a maior compradora do Brasil reduziu suas compras nestes últimos meses em mais de 10%. Nos produtos alimentícios, especialmente soja, ainda não, até porque, eles também precisam comer. Mas em algumas das demais commodities a redução chega a 20%.A Europa atravessa uma crise pra lá de séria. A União Europeia está encrencada até o pescoço por conta de dívidas astronômicas de alguns de seus países-membros; como Grécia, Portugal, Itália, Espanha e mais alguns outros menos expressivos. O endividamento desses países colocou a maioria dos grandes bancos europeus em crise e agora não há recursos para financiar importações. Os bancos não têm dinheiro para financiar compras de produtos brasileiros; esta é a maneira simplificada para mostrar a gravidade da crise deles.Os Estados Unidos, para falar somente de nossos maiores parceiros comerciais, é nosso mais forte concorrente nas vendas de commodities, especialmente as agrícolas, mas continua mantendo um bom intercâmbio conosco. Mas não se pode esperar grande acréscimo em nossas transações com ele, até pelo contrário, porque ainda não conseguiu se recuperar da sua grave crise imobiliária. Sim, mas e daí, deve estar se perguntando você? Daí que nós também – estou me referindo ao Brasil – já estamos sentindo o efeito disso tudo. O governo continua tratando isso como mais uma marolinha, mas a verdade é que nossa indústria teve um crescimento de 10,4% em 2010. E neste ano apenas 1,8%. Para 2012 é previsto um crescimento máximo de 2,3%. Consequentemente, a recessão já está aqui e cada um de nós precisa “botar as barbas de molho”. O que fazer, então? Primeiro, frear todos os gastos supérfluos. Segundo, nada de aumentar a produção, mas tratar de aumentar a produtividade; e isso serve de conselho para qualquer tipo de atividade. Terceiro, manter a calma e não fazer empréstimos, pois essa recessão pode até ser mais uma marolinha, mas recessão é crise e com isso não se brinca. *Membro da Academia Douradense de Letras; foi vereador, secretário do Estado e deputado federal.
Fonte: Folha de Dourados