13/07/2017 07h57
Coluna arTura: poesia ‘O segundo coração’, por Rebecca Loise
Por: Folha de Dourados
O SEGUNDO CORAÇÃO
(*)Rebecca Loise
A escrita dá o acento
às palavras de meu corpo
É a música que me escuta
É a bomba que implode em onda
É a bandeira da política verdadeira
Se não escrevo,
marcapasso
Piso torto
Manco em cheio
Se não me faço escrita,
barulhenta borbulho
Descalça estilhaço
Bambo na corda
A escrita segura
minhas pontas
Minha dor aponta
É a pérola da ostra
que aos porcos não ofereço
Se não escrevo,
Fumo até as cinzas
Tranco a porta
Atraso o boleto
Levo susto
Piso em cobra
Atrofio o relógio
Deixo de pintar
a boca, as unhas,
o amor, o cabelo
Me duvido inteira
diante do espelho
Se não escrevo,
o ritmo do peito taquicardia
Para fora de mim
transplanto-me em agonia
S.O.S!
Dêem à poeta que sou
Silêncio Ou Solidão
para que eu escreva
este poema-respiração
A escrita é o segundo coração
que no ventre carrego
para pulsar em mil
& sem impulsos
O primeiro coração
-tão biológico-
é bombeado pelo
segundo órgão
-tão semiótico-
A escrita, Escuta!
Bate bate bate
Arte arte arte
para que viva
eu não morra
na U.T.I do amor
– tão utópico –
(*)Rebecca Loise é psicóloga e mestra em Psicologia (PUC-SP), professora universitária (UNIGRAN) e atua como psicanalista em consultório particular. Bailarina formada, escritora, poeta e estudante de Artes Cênicas (UFGD). Desde 2010 alimenta seu blog “De Sóis Noturnos” (www.rebeccaloise.blogspot.com). E-mail: [email protected]