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Coletivo celebra condenação de jornalista por racismo religioso em Dourados: ‘A justiça caminhou com Xangô’

Juliel Batista –

O Centro Cultural Quintal de Palmares e outros coletivos de matriz africana e movimentos negros de Dourados celebraram nesta semana a condenação de um jornalista local por racismo religioso. A sentença é resultado de uma queixa-crime apresentada em 2021, após o réu compartilhar em um grupo de WhatsApp uma imagem que associava religiões de matriz africana a “forças das trevas que destroem a nação”, utilizando ainda a imagem do então candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, segurando a entidade Zé Pelintra.

A publicação gerou indignação entre os praticantes e defensores das religiões de matriz africana, que organizaram uma denúncia formal por crime de intolerância e discriminação religiosa. Agora, após quatro anos de processo, a decisão judicial foi comemorada como uma vitória simbólica e coletiva.

“Após anos de luta, resistência e fé, anunciamos com orgulho: o jornalista douradense foi condenado! Hoje é dia de celebrar a força dos nossos ancestrais, o poder da coletividade e a justiça que caminha com Xangô”, publicou o Quintal de Palmares em suas redes sociais.

O coletivo relembrou a mobilização feita ao longo dos anos e ressaltou a importância de não silenciar diante de atos de preconceito. “Denunciamos, cobramos, resistimos. Porque sabíamos que silenciar seria compactuar. Sabíamos que não podíamos deixar passar”, afirmaram. Para os integrantes, a decisão representa mais do que uma condenação individual: “Essa vitória não é apenas nossa — é de toda uma história de luta e resistência dos povos de terreiro, dos pretos e pretas que carregam em seus corpos, suas rezas, suas danças e seus saberes a memória viva da África”.

Além do aspecto legal, os ativistas também enfatizaram o valor simbólico da sentença no enfrentamento histórico à perseguição religiosa. “Essa vitória é de Ogum, que abre os caminhos e empunha sua espada com coragem; é de Xangô, que bate seu machado no chão e exige justiça; é de Zé Pelintra, o malandro justo, defensor dos marginalizados, que caminha conosco nas encruzilhadas, enfrentando o preconceito e a hipocrisia.”

A mobilização foi articulada por meio da advocacia popular, com envolvimento direto das comunidades de terreiro. “A cada ataque, respondemos com organização. A cada tentativa de nos calar, respondemos com tambor, atabaque e direito. A justiça foi provocada — e respondeu”, escreveram.

O post ainda faz referência à luta histórica dos povos de matriz africana contra a intolerância: “As comunidades tradicionais de terreiro, que há séculos enfrentam perseguições e demonizações, estiveram lado a lado. Nossos mais velhos e mais novas seguraram o axé, firmaram o corpo e não permitiram que mais uma violência passasse em branco.”

Para o coletivo, a condenação marca um divisor de águas. “Não foi só uma condenação. Foi o reconhecimento de que nossa fé, nossa cultura e nossa história não são folclore, não são ‘coisa do demônio’ — são civilizações inteiras que sobreviveram ao açoite, à escravidão, ao racismo, e seguem vivas, pulsantes e sagradas.”

A publicação encerra com uma mensagem de resistência e esperança: “Que esse dia fique marcado: não passarão! Seguimos, de pé, com nossas folhas, nossas ervas, nossas tecnologias ancestrais, conectados ao futuro que Ogum já prepara com sua espada. E a cada injustiça faremos tremer a terra. Porque lembramos Jorge: ‘Quem cede a vez, não quer vitória’. E nós não cedemos.”

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