Redação –
Pesquisadores brasileiros identificaram um vírus gigante no Pantanal de Mato Grosso do Sul, batizado de Naiavírus. O vírus foi encontrado em uma única amostra de água, coletada entre 439 amostras no rio Paraguai, em Porto Murtinho. Diferente dos vírus comuns, que medem entre 20 e 200 nanômetros (nm), o Naiavírus tem cerca de 1.350 nm, sendo o maior vírus com cauda já detectado.
De acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o vírus não representa risco à saúde humana, pois infecta exclusivamente amebas. Sua estrutura é única: possui um corpo envolto por um manto e uma cauda flexível que pode se dobrar e alongar, atuando como uma ferramenta para se aproximar das amebas e facilitar a infecção.
Genoma surpreendente e importância científica
O genoma do Naiavírus contém quase 1 milhão de pares de bases de DNA, com muitos genes sem equivalentes conhecidos até o momento. Alguns desses genes desempenham funções que antes eram atribuídas apenas a células mais complexas, como bactérias e eucariotos, sugerindo que processos evolutivos muito antigos estão relacionados a essa estrutura.
Segundo os pesquisadores, as proteínas do Naiavírus derivam de uma divergência remota, próxima ao surgimento da vida na Terra. Essas características fazem do vírus um importante objeto de estudo para o desenvolvimento de novos fármacos e enzimas biotecnológicas. Além disso, o vírus pode ajudar a compreender o processo de eucariogênese, que é a formação de células com núcleo.
Estudo e colaboração internacional
A pesquisa foi liderada por Jônatas Abrahão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com apoio da Fapesp, e contou com a colaboração de diversas instituições brasileiras e internacionais, como o Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBio-CNPEM), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Virginia Tech (Estados Unidos) e Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFSC-USP).
A descoberta do Naiavírus foi publicada na revista científica Nature Communications, no artigo intitulado Naiavirus: an enveloped giant virus with a pleomorphic, flexible tail.