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‘Camarão no Caranguejo’, por Elairton Gehlen

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Elairton Gehlen – escritor –

Não tenho absolutamente nada para fazer nestes dias de Natal, então fico observando gente, isso enche de ideias um escrevinhador que de repente resolve se perder nos cafundós do Nordeste. E gente não falta, nestes tempos de pandemia o avião falava repetidas vezes da necessidade de se manter o afastamento e tudo o mais para evitar a transmissão do vírus, mas os assentos estavam todos ocupados e o distanciamento era de aproximadamente cinco centímetros entre um passageiro e outro, lucrar é preciso! A refeição, ou seja lá como chamam aquilo que se serve nos aviões hoje em dia, não foi servida por motivo de cuidados com a saúde. 

E por falar em refeição, ontem fui almoçar num restaurante chamado Caranguejo, pedi um prato com camarão e fiquei um longo tempo curtindo música nordestina ao vivo até que o garçom trouxe a comida. Podia demorar mais, nenhum problema na espera, além da boa música de forró, na mesa ao lado tinha uma atração mais que especial, daquelas que dá vontade de ficar ali só observando que não cansa. Também esperando pelo pedido, um senhor de uns oitenta anos tomava suco de melão enquanto procurava por algo no celular. Com o celular na mão, sua esposa, talvez com a mesma idade, se deliciava num copo de caipirinha, bebericava, olhava a telinha, esboçava um sorriso e voltava para mais um gole. Só por isso já valeu a espera, a música veio de brinde. Só espero que o Couvert especial que paguei tenha sido para esses artistas! 

Do outro lado da rua um mar de gente atraídos pelo mar de Ponta Negra, parecia ter esquecido completamente os perigos da pandemia. Fiz umas contas com minha cabeça de matemático e calculei que seria impossível servir almoço para toda aquela multidão sem que acontecesse por ali o milagre da multiplicação dos pães e peixes, talvez camarão ou quem sabe caranguejos. Observando com cuidado dava para perceber que boa parte esperava mesmo por um milagre, mas pelo comportamento, acho que o Mestre teria ido logo cedo para a outra margem do mar do atlântico. 

Muito parecidos com templos religiosos, os restaurantes escalavam seus ministros para receberem os visitantes na porta convidando-os a entrarem onde eram recebidos com alegria e júbilo, participavam do ritual dos pedidos, depois de ingerirem muita bebida muitos confessavam publicamente seus pecados, se fartavam de comida até transbordar e por fim deixavam na maquininha do cartão as suas ofertas abundantes. 

Estávamos sem nenhuma pressa, o casal de idosos e eu, eles com suas bebidas e o celular, eu com eles. Meu almoço foi servido, olhei para a mesa ao lado, outro atendente servia uma panela de barro da qual nossa talentosa personagem tirou um caranguejo e foi destruindo no modo esquartejador, primeiro com as mãos e depois com um Socador. Finda a caipirinha, veio a cerveja e eu, que tomava água mineral, fiquei pensando que aos oitenta vou querer uma caipirinha e caranguejo com cerveja, se o destino me presentear uma velhinha de companhia. Talvez eu volte para Natal! 

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