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Braz Melo: ‘Não imagino o Marçal fora do programa de rádio; MDB vai indicar o vice’

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Redação Folha de Dourados –

O engenheiro Antonio Braz Genelhu Melo foi prefeito de Dourados em duas gestões. A primeira, de 1989 a 1992, e a segunda, de 1997 a 2000. No primeiro mandato saiu com uma grande aprovação popular, porém não conseguiu eleger o sucessor. Em 1994 foi eleito vice-governador na chapa encabeçada pelo então senador Wilson Barbosa Martins, porém renunciou em 1997, para exercer a segunda gestão, na qual não conseguiu repetir o êxito da primeira.

Em 2016, Braz Melo foi eleito vereador, mas teve o mandato extinto em 2016 pela Câmara de Vereadores em decorrência de acusação de improbidade administrativa ainda no período em que foi prefeito, a qual nega.

Aguçado observador da política douradense, nessa entrevista exclusiva à Folha de Dourados, Braz Melo faz uma análise da conjuntura atual, e afirma, nas entrelinhas, não acreditar na candidatura a prefeito do radialista Marçal Filho [que nesta sexta-feira, 15, filia-se ao PSDB para ser pré-candidato] afirmando ainda que quando assumiu, o atual prefeito Alan Guedes não estava preparado para administrar a cidade.

Folha de Dourados – O senhor fez uma administração, entre os anos 89 a 92, tendo saído com cerca de noventa por cento de aprovação popular. Quais foram as condicionantes que levaram a essa administração exitosa?

Braz Melo – Eu acredito no seguinte: primeiro, a nova Constituição Federal. Na época, houve uma mudança no sistema tributário nacional. Foi instituído, por exemplo, um percentual obrigatório para a educação, de 25%. A segunda coisa: o meu antecessor, o Luis Antônio, tinha encontrado muitas dificuldades. Ele sofreu muito, porque faltavam recursos. Terceira coisa: coragem. Um dia o doutor Pedro Pedrossian, que era o governador da época, me perguntou: como é que você consegue fazer tanta obra? E eu disse: Doutor Pedro, eu gasto 15% com o pessoal. Está aí a resposta. Quando eu voltei, no segundo mandato, eu já encontrei 35% de gasto com folha salarial. Hoje a gente nem pode falar quanto que é, mas eu imagino que esteja beirando 60%.

Mas voltando àquela administração inicial, a equipe que o senhor montou também foi responsável por parte do sucesso?

Nós formamos uma equipe de pessoas que trabalhavam em Dourados, que gostavam de Dourados e também que não tinham vínculo político. Nós pegamos pessoas por suas capacidades técnicas. Pegamos pessoas com experiência, que foi o caso do Harrison de Figueiredo, pessoal da parte contábil. Esse pessoal nos ajudou muito.

Quais as principais dificuldades que encontrou, no início da gestão?

O déficit escolar era grande aqui… Na época o [ex-deputado federal] Biffi, que morava em Dourados e foi candidato a vereador pelo PT, falava sempre em seus discursos que Dourados tinha 10 mil crianças fora da sala de aula. E então nós fizemos um projeto, aproveitando os vinte e cinco por cento da educação, criando o CEU – Centro de Educação Unificada.

Além do CEU, quais as outras marcas da sua administração, naquela época?

No primeiro mandato, eu fiz oito CEUS, no segundo eu fiz três. Veja:  há 30 anos, implantamos onze escolas em tempo integral. Depois disso, o município não conseguiu fazer mais. Outra marca foram as linhas de ônibus pavimentadas, sempre executadas com recursos próprios. O único dinheiro que eu consegui de fora, foi um financiamento para fazer o asfalto do Jardim Ouro Verde. E como tinha recurso disponível, próprio, nós fizemos as linhas de ônibus, para atender todos os bairros de Dourados. Na época, o cara lá do Jockey Club nunca imaginava ter asfalto, e nós levamos para lá.

E na saúde, como foi?

Fizemos alguns postos de saúde, quatro deles atendendo até 22 horas, e isso aliviava o PAM, que foi implantado pelo então governador Marcelo Miranda, durante minha gestão, e que fazia o atendimento médico que hoje é prestado pela UPA [Unidade de Pronto Atendimento]. Aliás, há pouco tempo o atual prefeito veio me visitar e eu falei pra ele: você sabe o pico de atendimento na UPA? Eu mesmo respondi: o pico da UPA é às 19 horas. Não precisa nem falar nada não, nem botar alguém pra testar não, porque o cara chega do trabalho, vê o filho dele com febre, ele vai levar aonde? Vai levar onde está aberto, que atualmente é a UPA.  Então, há 30 anos nós tivemos essa percepção e implantamos quatro postos de saúde na periferia funcionando até as 22 horas. Porque não tem mais?

Quais outras ações destacaria?

Quando assumi meu primeiro mandato, Dourados não tinha sequer uma quadra pública coberta. A do CAD [Clube Atlético Douradense] tinha acabado e tinha a do AABB [Associação Atlética do Banco do Brasil]. E nós fizemos 14 quadras cobertas e o ginásio de esportes. Tudo com recursos próprios. No primeiro mandato, fizemos o Distrito Verde. No segundo mandato fizemos a Agrovila, que até hoje funciona muito bem, com quarenta e poucos assentados. Na época, a Prefeitura fez o recapeamento do asfalto do aeroporto de Dourados, fizemos a iluminação e sinalização noturna; criamos a Clínica do Rim, o Centro Homeopático, que foi o primeiro do Brasil… criamos uma fábrica de remédio para atender os pacientes do SUS, isso já na segunda administração… Chegamos a atender 38 itens do SUS, que hoje atende apenas 34.

Isso, há mais de 20 anos…

Tem 23 anos que eu saí. Quantas escolas o Município construiu nesses 23 anos? Três. E a população de Dourados aumentou em 90 mil pessoas nesse período. O que a Prefeitura fez de lá para cá, foi a Escola Avani, onde era o presídio, a Escola “Luiz Antônio Álvares Gonçalves”, do Jardim Novo Horizonte e outra escola no Jardim Guaicurus.

O que falta para administradores que vieram depois?

Quando eu falo que era preciso de coragem, era de acordar cedo e dormir tarde. Andar na cidade, conversar com a população. Porque hoje o pessoal se fecha muito nos gabinetes. E a pior coisa que tem é ser envolvido com puxa-saco, né? Porque o administrador acha que tá tudo bem… Tem que andar, conversar, porque quem vai dizer o que precisa ser feito são as pessoas. Essa é a receita.

“Porque hoje o pessoal se fecha muito nos gabinetes. E a pior coisa que tem é ser envolvido com puxa-saco, né?”

A sua segunda gestão não alcançou o mesmo sucesso da primeira. O que aconteceu?

Primeiro, a questão política. Eu era vice-governador, e o governador Wilson [Barbosa Martins] não queria que eu voltasse para Dourados. Mas eu me senti mal em Campo Grande. Me senti um pintinho fora da casinha, tá certo? Só para você ter uma ideia: em abril de 1995, o governador me chamou e perguntou: o que você quer aqui no governo? Falei: eu quero mexer com o Mercosul. Mas ele não queria que eu saísse. Ele me chamou e falou: Braz, eu vou ter que ir para os Estados Unidos. Vou atrás de recursos e você assume o governo. Falei: tudo bem doutor Wilson, o senhor quer alguma coisa específica? Ele disse: não, você atende na sua sala… Eu me levantei e disse: o senhor está vendo aquelas árvores ali? Minha sala fica embaixo delas… e em seguida disse falei: doutor Wilson, vou voltar para Dourados. Não tem como ficar aqui, onde o pessoal me trata como adversário. Vou voltar porque me sinto  um peixe fora d’água. E ele: “não faz isso, você vai virar governador, e tal…” No outro dia, ele arrumou uma sala para mim. Mas eu vim para Dourados para ser candidato a prefeito novamente. Tive uma vitória muito grande contra o Zé Elias. Da primeira vez, foram 41 votos, na segunda, 11 mil e tantos votos. Mas, juntou-se todo mundo contra. O governo ficou quatro meses sem mandar ICMS para nós. Eu sinto que Dourados tem esse problema: quando entra alguém na prefeitura, junta todo mundo contra.

Essa situação que o senhor sentiu lá atrás, continua até hoje?

Continua. Por exemplo, o atual vice-governador, parece que tá tudo bem, não é? Mas o pessoal não tem ideia do que ele sofre. Porque todo mundo acha que o vice quer o lugar do titular e não é isso. Todos os vices, eles tentam tirar de Campo Grande. O que deu mais certinho foi o Murilo, que pegou uma secretaria, mas no final acabou com dificuldade com o governo.  Então, na minha segunda administração, falaram o seguinte: o Braz voltou, teve 11 mil votos a mais que o adversário, esse cara vai virar o “bambambã”… e criaram muitas dificuldades para a nossa administração.

Como o senhor vê o atual modelo de gestão em Dourados?

Tem coisas que eu penso que precisam ser debatidas, tem que ser conversadas e resolvidas. Por exemplo, o fato de 60% do orçamento ser absorvido com pagamento de pessoal… Ah, como é que vai fazer? Sei lá, mas vai ter que dar um jeito. Eu sei como faz, só não posso falar. Mas, tem de tomar uma posição. Outra coisa: colocaram expediente de seis horas na Prefeitura. Você vai lá às 11h30, está todo mundo almoçando. A prefeitura não pode funcionar das 07h00 às 13h00. O cara que vem de Caarapó para pagar o imposto aqui, se chegar às 13h30 não paga mais imposto. Então, tem como resolver, mas tem que ter união, chamar todo mundo para conversar…

Como seria isso?

Quando o Alan entrou, nós conversamos e eu fui bem claro, e disse: chama todo mundo. Bota numa mesa grande, e chama o [hoje vice-governador] Barbosinha, chama o [deputado] Geraldo [Resende], chama o [deputado] Zé Teixeira, chama o [ex-vice-governador] Murilo [Zauith], chama a [ex-prefeita] Délia [Razuk], chama toda a classe política, e fala: gente, vamos tocar isso junto. Mas tem situações em que ninguém está sendo ouvido.

Cite um exemplo…

Um deles é o [empréstimo] do Fonplata. Sem projeto. Não fizeram audiência pública até hoje. Como é que você vai fazer uma obra de 50 milhões, sem fazer audiência pública?
E são obras para oito anos E tem projetos que vão ligar algumas coisas a nada. Outra situação é a Guarda Municipal. O trabalho que ela faz, é muito mais forte que a Polícia Militar, muito embora a responsabilidade da segurança pública é do governo do Estado.
O prefeito tinha que falar com o governador. Tinha que sentar à mesa e pedir recursos em forma de compensação…

“Como é que você vai fazer uma obra de 50 milhões, sem fazer audiência pública?”

Falando agora em política. Como o senhor analisa o atual momento? Vai participar de algum projeto político para as próximas eleições?

Eu acho que ainda vai ter muita novidade em Dourados. Eu estou inelegível, tá certo?
Até o início de 2026, eu estou inelegível… Um negócio que eu nem fiz pra isso. Mas o que eu vou fazer? Estou inelegível. Mas eu sou o secretário do MDB. Claro, devemos participar, mas até agora… Você que é antigo em Dourados, você fecha o olho e imagina o dia 13 de março de 2025. Daqui a um ano. Você consegue ver o [pré-candidato a prefeito] Marçal [Filho] fora do programa [de rádio] dele? Você enxerga isso? Como é que o cara vai tocar a Prefeitura? Será que ninguém pensa isso? O amor dele pelo programa dele, pela rádio… Ele não leva ninguém ao programa. Nunca levou o governador. Não que ele seja mau ou ruim, não é nada disso, não. É porque ele ama aquilo. É a vida dele. Aí, fazem um acerto lá por Campo Grande e o resto…

Qual a influência que, na sua opinião, terá o ex-governador Reinaldo Azambuja nas próximas eleições em Dourados?

O Reinaldo foi um grande governador para nós. Um senhor governador. Fez tudo. Eu acho até que o [prefeito] Alan [Guedes] aproveitou mal.  Depois que ele entrou no governo, ele disputou várias eleições e perdeu em Dourados. No primeiro mandato, ele e a Rose perderam o primeiro e segundo turno aqui. Ele apoiou o [ex-governador e candidato a presidente da República] Aécio [Neves] e perdeu. Ele apoiou o [candidato a prefeito, deputado federal] Geraldo Resende, perdeu. Apoiou o [candidato a presidente da República, Geraldo [Alckmin], perdeu, no primeiro e segundo turnos. Ele e o Murilo [Zaiuth] perderam o primeiro e segundo turnos, aqui. Perdeu com o [candidato a prefeito, atual vice-governador] Barbosinha. E perdeu o primeiro turno com o [atual governador, Eduardo] Riedel. Dez eleições ele perdeu aqui, Só ganhou a última. Mas foi um senhor governador. Então, alguma coisa está errada. Não sei se é problema do agro, se é problema do Fundersul, que aumentou, dos impostos…

 “Depois que ele (Reinaldo) entrou no governo, ele disputou várias eleições e perdeu em Dourados”

O senhor acredita que Bolsonaro e Lula vão ter influência na eleição municipal do Brasil?

Eu acho que não vai ser tanto assim. Até porque os interesses municipais são diferentes do âmbito federal. Percebe? Eu acho o Bolsonaro muito forte aqui.  Já demonstrou isso por causa do agro. Mas eu acho que é muito mais o Tupiniquim aqui, o Caiuás. E a disputa em Dourados é sempre apertada. Sempre três mil votos, quatro mil votos, dois mil e tal, quarenta e um votos… [risadas]. Então, eu sinto que vai ter muita coisa para acontecer. Você, como político, não pode falar que dessa água eu não vai beber… porque é a conjuntura. Eu sou secretário do partido e falam para mim que já está acertado, o MDB vai indicar o vice do PSDB, e que o candidato do PSDB é o Marçal. Então, pode-se falar que é o ideal? Não sei, mas às vezes vou estar lá no palanque dele, batendo palmas e apoiando. O Marçal entrou na política em 88. Eu que botei ele para ser candidato e perdi a eleição. Depois disso, ele ganhou algumas, perdeu outras, tal. É o cara que tem um domínio muito grande da população com a rádio. Mas qual o grupo político dele? Quantos vereadores o Marçal já fez na vida? Foi deputado federal, deputado estadual, vereador… Então, é complicado isso.

“falam para mim que já está acertado, o MDB vai indicar o vice do PSDB, e que o candidato do PSDB é o Marçal”

E a candidatura do atual prefeito à reeleição?

A gente sente no Alan o interesse em pagar pessoal. Não estava preparado para ser prefeito. O prefeito tem que estar preparado. Chega de experimentar. Chega. Eu acho que Dourados já teve bons prefeitos, mas hoje, vamos parar com esse negócio de “vamos escolher o fulano que no final vai dar certo”.

E em relação às movimentações de outros partidos?

Tem a situação do [vice-governador] Barbosinha. Ele é o cara que “esqueceram de mim” Poxa, ele é o vice-governador. Acertaram, nem deram bola pra ele. No PT, tem uma briga de foice lá dentro… A [ex-vereadora] Bela Barros, por exemplo, botou a cara agora, esses dias. Deve ser pra ser vice do PT. No grupo dos seguidores do Bolsonaro eu confesso que o [deputado federal] Rodolfo Nogueira tem me surpreendido porque o que ele propôs a fazer, está fazendo muito mais que os outros. Pelo menos ele tem coragem de defender o Bolsonaro, claro que do jeito dele, mas não vejo ele com o intuito de encabeçar uma chapa. Tomara que eles arrumem um candidato, mas eu não vejo…eu acho que ajuda bem, o eleitor da direita aqui vai ajudar muito, mas eu acho que eles estão com outro pensamento. Então eu acho que é muita ainda coisa para ser colocada no liquidificador.

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