Desde 1968 - Ano 56

23.7 C
Dourados

Desde 1968 - Ano 57

InícioTecnologiaBrasil pode viver apagões digitais que paralisam serviços essenciais, alerta estudo do...

Brasil pode viver apagões digitais que paralisam serviços essenciais, alerta estudo do TCU

O Brasil corre o risco de enfrentar apagões digitais capazes de interromper serviços essenciais como energia, telecomunicações, pagamentos, logística e saúde. O alerta está no estudo Futuro mais seguro: o futuro da segurança pública brasileira, do TCU (Tribunal de Contas da União), que aponta a crescente dependência de infraestruturas digitais e de fornecedores estrangeiros como um fator crítico de vulnerabilidade

Segundo a advogada Bianca Mollicone, especialista em regulação de novas tecnologias, um apagão digital não se limita a falhas pontuais de internet. Trata-se da interrupção grave de sistemas automatizados, dados e inteligência artificial que sustentam a operação de serviços essenciais. “Se esses sistemas forem comprometidos, o efeito é imediato, porque não há operação manual equivalente capaz de sustentá-los”, explica.

O estudo do TCU descreve um cenário de risco sistêmico: infraestruturas altamente interligadas tendem a propagar falhas em cadeia. Um problema em grandes provedores de nuvem ou em sistemas de comunicação, por exemplo, pode afetar simultaneamente energia, transporte, hospitais, meios de pagamento e serviços públicos digitais.

Para Mollicone, a dependência crescente de automação sem governança adequada amplia não apenas o risco técnico, mas também o risco jurídico, ao ameaçar a continuidade de serviços que o Estado é constitucionalmente obrigado a garantir.

Episódios recentes reforçam o alerta. Em julho de 2024, uma falha em um software de cibersegurança da empresa norte-americana CrowdStrike derrubou sistemas no mundo inteiro, afetando companhias aéreas, hospitais e serviços financeiros, inclusive no Brasil. O caso evidenciou a fragilidade de uma infraestrutura digital global concentrada e a vulnerabilidade de países que não controlam tecnologias críticas.

Outro ponto destacado pela especialista é a concentração geográfica dos data centers brasileiros, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. Segundo alertas da Anatel citados no debate, essa concentração aumenta o risco de paralisações simultâneas em caso de incidentes físicos ou falhas sistêmicas. A medida provisória que criou o programa Redata busca incentivar a descentralização desses centros, mas seus efeitos ainda são de médio e longo prazo.

No cenário internacional, a preocupação não é exclusiva do Brasil. A União Europeia avança no projeto Eurostack, que busca reduzir dependências externas em nuvem, semicondutores e inteligência artificial.

Já os Estados Unidos passaram a tratar a autonomia tecnológica como eixo central da segurança nacional. Para Mollicone, o contraste evidencia o atraso brasileiro: “Hoje, grande parte da nossa infraestrutura digital está nas mãos de provedores estrangeiros, sem normas integradas de contingência. Em uma crise global, o país pode se tornar um usuário passivo, aguardando soluções externas”.

O estudo do TCU chama atenção ainda para um risco menos visível: a acumulação silenciosa de pequenas falhas operacionais e regulatórias. Em sistemas altamente interdependentes, erros aparentemente corriqueiros podem se sobrepor e levar a colapsos de grande escala. Com a expansão do uso de inteligência artificial, esse risco tende a crescer, criando pontos únicos de falha em decisões automatizadas, APIs e data centers externos.

Para a especialista, o recado é claro: sem infraestrutura distribuída, governança integrada e redução da dependência tecnológica, o Brasil permanece exposto a apagões digitais com impactos econômicos, sociais e jurídicos profundos. A soberania digital, defendida por grandes economias, deixa de ser um conceito abstrato e passa a se consolidar como condição básica para a resiliência do Estado e a continuidade da vida cotidiana.

(Informações R7 )

- Publicidade -

ENQUETE

MAIS LIDAS