Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –
No Jardim Guaicurus, a história se repete: o asfalto chega como quem traz a salvação,
capa preta que cobre, elegante, a promessa antiga, e esconde — com classe — o buraco na obrigação.
A prefeitura sorri em fotos de drone, a manchete brilha: “Avanço histórico!”
Enquanto a enxurrada já ensaia seu desfile, e a lama, paciente, espera o próximo tópico.
No chão, o velho truque: tapa-se um buraco, abre-se um voto, o povo aplaude o tapume, o verniz, o asfalto fotogênico, sem saber que o esgoto — ah, esse continua poético — segue a céu aberto, lírico e insalubre, crônico.
Guaicurus, bairro épico das eternas promessas, as máquinas posam, os políticos agradecem, e o povo — esse verso cansado — reaprende: o asfalto não pavimenta o respeito que merecem.
*Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.