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‘As loucuras no negócio imobiliário’, por Elairton Gehlen

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Elairton Gehlen – escritor –

Já pensou em comprar um apartamento de trinta metros quadrados, num resort de luxo, por um milhão e quinhentos mil reais? Pois é, tem quem compra, e não são poucos. Esse negócio é gigantesco e já se espalha pelo Brasil à fora com a promessa de um excelente investimento financeiro! Afinal, o que um cronista tem a ver com isso? 

Às vezes as crônicas servem para se fazer uma denúncia grave de um jeito bem-humorado. Rubem Braga era mestre, escrevia críticas ácidas aos governos em forma de crônica, talvez na próxima eu faça uma referência a ele. Hoje vou relatar o acontecido comigo, já pela segunda vez, quando me fizeram essa proposta imperdível de investimento financeiro. Não que eu tenha um milhão e meio de reais, se tivesse comprava uma fazenda em vez de um apartamento. 

As autoridades não ligam nenhum pouquinho para esse negócio, afinal, estamos num país capitalista e liberal, nada mais justo que tirar o dinheiro das pessoas, desavergonhadamente, e receber medalhas de mérito pelo sucesso alcançado nos negócios! Funciona mais ou menos assim: As moças bonitas fazem o papel delas, ficam pela orla, atraem visitantes, oferecem prêmios se algum desavisado concordar em entrar e ver a proposta. O prêmio é real, que me perdoem os malandros milionários, mas sabendo que ia mesmo ganhar o brinde, aceitei gastar uma hora de meu tempo inútil e conhecer o projeto. 

Há uns três ou quatro anos atrás quando estive em Caldas Novas, ganhei um almoço, agora o brinde foi de oitenta reais para fazer um passeio turístico. Nada mal para quem tem consciência que não vai mesmo fechar negócio milionário em uma hora de conversa. Por questão moral, antes de entrar avisei que não faria qualquer negócio, a moça deu um sorriso amigável e disse que se eu entrasse, além de ganhar o brinde, ainda a ajudaria a cumprir sua meta, o seu salário depende de quantas pessoas ela é capaz de enganar, quer dizer, convencer a ser iludido, digo, ouvir o que os representantes da empresas tem a dizer. O salário deles também depende de quantos eles conseguem enganar, quis dizer convencer a assinar imediatamente o contrato de compra e venda de pelo menos uma parte de cinquenta e duas de um apartamento de trinta metros quadrados. 

A proposta não diz que tu estás comprando um apartamento por um milhão e meio. Também não diz que tu tens que assinar imediatamente o contrato. Mas, se concordares em assinar imediatamente irás pagar a bagatela de trinta mil reais, mais alguma coisa, por uma de cinquenta e duas partes, isso significa que o mesmo apartamento terá cinquenta e dois donos, cada um podendo utilizá-lo por, no máximo, sete dias por ano! 

Bendita hora que fiz o vestibular para matemática: Cinquenta e dois donos, cada um pagando trinta mil reais para ter direito a sete dias de utilização por ano, o apartamento, no fim das contas será vendido por nada menos que um milhão quinhentos e sessenta mil reais! E, ainda, o comprador terá que pagar sessenta reais por mês de condomínio, que, lógico, multiplicados por cinquenta e dois donos, dará para a empresa, a bagatela de três mil cento e vinte reais por mês em cada apartamento. É um negócio da China, quer dizer, do Brasil! E viva o liberalismo!!!!!! 

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