“Contar a minha história em Dourados é praticamente reviver minha vida inteira. Nessa cidade vi meus filhos crescerem, meus netos nascerem, meus negócios prosperarem. Aqui fui acolhido como filho da terra, percorri a maior parte da minha caminhada, recebi muito e pude doar também. Fiz amigos, parceiros, tive momentos de muitas alegrias e conquistas e, claro, bastante dificuldades. Mas, ao final, o sol sempre brilhou”. Quem narra esses fatos é o empresário Arno Guerra, sócio fundador da empresa Sementes Guerra, que conta sua chegada e trajetória de lutas e conquistas na cidade de Dourados.
Arno Guerra chegou a Dourados em janeiro de 1972, vindo do Paraná. Natural de Soledade, no Rio Grande do Sul, é neto de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil no final do século XIX, procedentes da região de Pádua, ao Norte da Itália. Filho de Prosdócimo Guerra e de Adele Fumagalli Guerra, foi o terceiro de oito irmãos.
A infância no interior foi simples, mas repleta de felicidade. E tal como em muitas famílias da época, as oportunidades de estudo eram limitadas. Ainda assim, frequentou o colégio interno dos ir mãos Maristas em Guaporé/RS, onde concluiu o primário e iniciou o ginásio. No entanto, precisou retornar para ajudar os pais no trabalho. “Como não visualizava muito futuro na pequena cidade do interior gaúcho, ainda muito jovem e sonhador, resolvi migrar para o sudoeste paranaense, ainda na década de 50, para tentar uma nova vida, destaca o empresário.”
Seu pai havia realizado um frete de mudança para aquela região e ficou encantado com o local, o que influenciou na decisão de Arno de se mudar para lá. Estabeleceu-se, então, em Pato Branco, onde conheceu sua esposa, Maria Ioles, com quem se casou em 1962 e teve quatro filhos.
No início, trabalhou com uma sorveteria e, logo depois, ingressou no ramo madeireiro. A experiência no setor o incentivou a trazer seu pai e irmãos para a região. Com a chegada de todos, adquiriram uma pequena área destinada à pecuária, que, posteriormente, transformaram em agricultura.
Em 1967, passou por um drama familiar: a perda de seu irmão mais velho, Lydio, em um acidente aéreo. Esse evento o fez repensar seu futuro. Junto com seu irmão Waldir, decidiu investir no estado de Mato Grosso, escolhendo Dourados (município do hoje estado de Mato Grosso do Sul) para iniciar uma nova fase. Diz então Arno Guerra: “E aí começa minha história aqui”. E continua:
A ideia inicial era adquirir uma área para cultivo de soja. Naqueles tempos, dizia-se que até a região de Dourados era possível produzir. Mais ao norte, a cultura não desenvolvia. Saímos, eu e Waldir, no nosso veículo, uma Chevrolet C-14. Na época praticamente não havia asfalto. Fomos até Amambai, onde pernoitamos. Todavia, as áreas 78 Arno Guerra não nos agradaram e seguimos viagem até Ponta Porã. Chegamos ao entardecer e fomos avisados pelo proprietário do hotel sobre o perigo da cidade, sugerindo que não saíssemos à noite. De fato, escutamos tiros na madrugada e, no dia seguinte, haviam dois corpos numa rua próxima ao local. Fomos em direção a Maracaju, pela estrada onde hoje está localizado o Assentamento Itamarati. Seguimos para Dourados, entrando pela Picadinha; passamos pelo aeroporto e avistamos uma área que nos interessou muito e, assim, compramos a Fazenda São Lourenço, área que nos pertence até os dias atuais.
A infraestrutura precária da época também revelou oportunidades. Arno Guerra investiu na produção, no beneficiamento e na armazenagem de sementes, o que deu origem à Sementes Guerra, principal empresa do grupo. “Nos anos 70, Dourados se desenvolvia rapidamente. Participamos ativamente deste período. Ajudei a fundar a Cotrisoja, uma das primeiras cooperativas agrícolas do estado, junto com meu amigo Celso Dal Lago Rodrigues”, recorda-se Arno Guerra.
O empresário também participou, como conselheiro, do Sindicato Rural, cargo no qual permanece até hoje, há mais de 50 anos. Foi membro do CTG, do Lions Clube e de outras entidades. Mais tarde, essas atuações lhe renderam alguns títulos, como o de cidadão douradense e, mais recentemente, o de cidadão sul-mato-grossense, motivo de muito orgulho para Arno Guerra e sua família, cuja esposa também sempre foi ativa nos movimentos sociais locais.
Na década de 80, Arno Guerra ampliou suas atividades: comercialização de cereais, revendas de insumos, comércio e distribuição de calcário. Ele foi um dos pioneiros no sistema de plantio direto na palha. Produziu as primeiras sementes de milho safrinha adaptadas à região, em parceria com a Embrapa, por intermédio 79 Arno Guerra dos gerentes Ademar Zanatta, Salvador Ribeiro e Ubirajara Fontoura. Também foi parceiro do Centro Universitário de Dourados (CEUD), campi da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), depois transformado em Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Por estar na vanguarda, o empresário recebeu muitos visitantes e autoridades, entre elas os ex-presidentes da Re pública Ernesto Geisel, João Batista Figueiredo e Fernando Collor.
Conforme Arno Guerra:
A expansão levou a investimentos em novas áreas, incluindo propriedades em Ponta Porã, Maracaju, Rio Brilhante, Caarapó, Deodápolis e Laguna Carapã. Empregávamos centenas de colaboradores. Surgiu a nova fronteira agrícola no Brasil, o Mato Grosso. E lá fomos nós. Adquirimos uma extensa propriedade em Campos de Júlio. Mais uma vez, ajudamos a investir na região, construindo uma grande estrutura na nossa propriedade.
Arno lembra que, nesse período, também diversificou os negócios, atuando na construção civil, na indústria de tubos de PVC e em restaurantes.
Segundo o empresário, na década de 90, no entanto, houve mudanças políticas que afetaram significativamente a economia nacional, especialmente as elevadas taxas de juros e o descontrole da inflação: “Nossos negócios sentiram um forte abalo pela brusca mudança nas regras econômicas, com a restrição do crédito, que se tornou muito caro. Tivemos uma retração nos investimentos nos obrigando a se desfazer ou mesmo encerrar as atividades de parte destes”.
Mas, com o apoio da família, superou as adversidades e decidiu concentrar os investimentos exclusivamente no agronegócio. Nos anos 2000, separou a sociedade com seu irmão Waldir, que seguiu para o Mato Grosso. “Eu permaneci em Dourados. Porém, tínhamos

um passivo muito grande. Nesse momento, pude contar com o apoio de minha companheira de vida, a Ioles, e dos meus filhos, Lidio, Claudio e Fabio, a quem dei a missão de encontrar soluções na dura tarefa de reerguer nossas empresas”.
O empresário afirma que aquele foi um período muito difícil, sendo necessário muita habilidade e criatividade para fazer acordos com instituições credoras. “Mesmo em meio à crise, adquiri uma propriedade rural e doei para minha filha mais velha, Clari Rejane, nessa época já casada e mãe, para que tivesse seu próprio negócio, como era de sua vontade”, diz o empresário.
Em 2014, Arno Guerra participou do lançamento do Terras Al phaville Dourados, em parceria com a Alphaville Urbanismo. Em 2021, tomou uma decisão que considera uma das mais importantes de sua vida: a doação de uma área para a construção do Hospital de Amor de Dourados. “Não tivemos dúvida de que Deus nos deu a chance de devolvermos um pouco do que Ele havia nos proporcionado”, expõe Arno.
Encerrando sua narrativa, Arno Guerra conta:
Quando cheguei em Dourados (1972), dizia-se que a cidade tinha 38 mil habitantes. O Brasil tinha 90 milhões (alguns devem lembrar da marchinha da Copa de 70). Hoje o país tem cerca de 220 milhões e Dourados 240 mil habitantes. Isto prova que o local de oportunidades deu certo, como visualizamos, eu, meu irmão Waldir e tantos outros que aqui chegaram.
E acrescenta: “Deixo minha gratidão a esta terra que me acolheu como seu legítimo filho. Muito obrigado, Dourados, por tudo”.