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‘Agosto Lilás e Setembro Amarelo: Casamento como fator de risco ou de proteção?’, por Bruna Gayozo

Bruna Gayozo (*) –

O mês de agosto é marcado pela campanha Agosto Lilás, que busca conscientizar a sociedade sobre a necessidade de enfrentar e erradicar a violência doméstica e familiar contra a mulher. Já setembro se ilumina de amarelo com a campanha de prevenção ao suicídio, que chama atenção para a importância do cuidado com a saúde mental. Colocar esses dois movimentos em diálogo permite refletir sobre como as relações afetivas, especialmente o casamento, podem ser vividas tanto como espaço de proteção quanto de adoecimento.

A OMS aponta que no Brasil a taxa de suicídio é de 3 a 4 vezes maior entre os homens. Ao mesmo tempo, pesquisas indicam que, de modo geral, homens casados apresentam índices mais baixos de suicídio quando comparados a homens solteiros, separados ou viúvos. O casamento, nesse sentido, funciona como um fator de proteção para a saúde mental masculina, oferecendo companhia, apoio emocional, estabilidade social e até incentivo a hábitos mais saudáveis. Em outras palavras, o vínculo conjugal contribui para reduzir sentimentos de solidão e isolamento, que são reconhecidos como gatilhos importantes para ideação suicida.

Entretanto, essa realidade apresenta uma contradição quando observada pela perspectiva das mulheres. Embora para os homens o casamento possa significar apoio e cuidado, para muitas mulheres ele se transforma em um fator de risco, sobretudo em contextos marcados pela desigualdade de gênero. A violência doméstica, que pode se manifestar em formas físicas, psicológicas, sexuais, patrimoniais e morais, ainda é uma realidade presente na vida de inúmeras mulheres brasileiras. Nesse sentido, aquilo que deveria ser espaço de proteção e afeto acaba se tornando território de medo, opressão e sofrimento.

O Agosto Lilás nos lembra que o combate à violência contra a mulher é uma pauta urgente, que precisa ser enfrentada tanto no âmbito legal e institucional quanto nas relações cotidianas. O Setembro Amarelo, por sua vez, convida a pensar o cuidado com a saúde mental de toda a população, mas especialmente dos homens, que muitas vezes não encontram espaços de acolhimento fora do casamento e acabam sobrecarregando suas companheiras como únicas fontes de apoio.

Portanto, aproximar essas duas campanhas permite lançar luz sobre uma questão central: o casamento não pode ser pensado apenas como uma instituição que protege os homens do suicídio, mas também como um espaço que, em muitos casos, coloca em risco a vida e a saúde mental das mulheres. É necessário romper com os padrões de gênero que naturalizam a dependência emocional masculina e a submissão feminina, construindo relações baseadas no respeito, na equidade e na corresponsabilidade.

Refletir sobre o Agosto Lilás e o Setembro Amarelo juntos nos leva a perceber que prevenir a violência doméstica e promover saúde mental caminham lado a lado. Um casamento saudável pode, de fato, ser fator de proteção, mas somente quando se estabelece em bases de afeto, cuidado mútuo e igualdade. Quando isso não acontece, ele se converte em um risco que precisamos enfrentar coletivamente.

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