Culturamente Falando – 23/12/2009
Era Dezembro de 1952, minha mãe a pouco havia se mudado para Dourados quando foi informada que defronte a casa da família Kanashiro que ficava na Avenida Presidente Vargas, realizava-se aos domingo uma feira livre.
Minha mãe então preparou uma cesta com pastéis e mandou que meu irmão Irlian levasse até a feira para serem vendidos. Contava minha mãe que a venda não foi das melhores e que o guardanapo de tecido bem branquinho que cobria os pastéis ficou vermelhinho de poeira devido às ruas serem de terra vermelha formando uma camada de pó fino que se espalhava com facilidade no ar e ter sofrido a ação dos redemoinhos.
Aqui em Dourados era muito comum a formação desses redemoinhos, e esses quando aconteciam , fazia as sombrinhas das mulheres virar de baixo para cima. Era até engraçado, pois elas nunca sabiam se segurava a sombrinha ou segurava o vestido rodado e o saiote usado por baixo, que subiam até a cabeça deixando-as em apuros.
A feira durante um bom tempo se realizou naquele local, em seguida foi transferida para a rua Dr. Nelson de Araújo entre a Avenida Marcelino Pires e a Rua Rio Grande do Sul, atual Avenida Weimar Gonçalves Torres. Começava em frente a casa de Dona Quinha uma professora que lecionava no Grupo Escolar Joaquim Murtinho, mais que ficou muito conhecida pelos seus pirulitos, feitos com açúcar, mel de abelha e limão. Tinha um sabor muito especial que só de lembrar me dar água na boca. Os pirulitos eram feitos em tabuleiro de madeira e fazia muito sucesso com as crianças.
Na esquina da Marcelino Pires atual Lojas Centauro funcionava o Bar e torrefação Café da Hora que além de vender café torrado e moído também vendia o cafezinho feito na hora, salgados, pão com manteiga, leite, bebidas entre outros.
Aquele local servia também de ponto da jardineira, ônibus que fazia a linha para o Panambi. Tudo isso fazia daquele local um lugar muito frequentado proporcionando a feira livre um grande desenvolvimento.
Dali a feira foi transferida para a Rua Santa Catarina atual Onofre Pereira de Matos entre a Presidente Vargas e João Rosa Góes, não tendo mais o cafezinho do senhor Adolfo (proprietário do Café da Hora), o que despertou a vontade na família Miagui e Kanashiro em montar um quiosque para vender cafezinho e espetinhos de carne assada. O objetivo era alimentar os feirantes que chegavam de madrugada para montar as bancas.
As vendas começavam às três horas da manhã por isso o charreteiro Sr. João Libório que era encarregado do transporte dos produtos para a venda tinha que levantar bem cedo para o serviço. Os responsáveis pelo preparo e a venda era os casais Yossi Myagui (Teresa) e Seikiti Miagui, Kió Kanashiro e Massa Kanashiro com a ajuda das filhas Noemia e Margarida Miagui. Margarida me contou que seus pais tinham que acordar a meia noite para o preparo dos produtos.
Os freqüentadores do Clube Social também se tornaram freqüentadores da feira livre e ao término dos bailes se dirigiam para a feira para tomar café e comer espetinhos com mandioca amarelinha.
Roberto Kanashiro que na época tinha apenas nove anos continua no ramo hoje com sua loja de espetinhos na Rua Mato Grosso e conta que quando a feira livre se mudou para a Rua Cuiabá sua família parou com o negócio.
A mudança da feira para a Rua Cuiabá foi motivada por falta de espaço para que a feira pudesse se desenvolver, o que aconteceu no novo local.
Outra pessoa que dedicou seu trabalho a feira foi o Sr.Waldemar Zacarias de Macedo, vindo da Paraíba junto com sua esposa Dona Geralda, o casal trabalhou na feira livre durante 35 anos e somente a seis anos atrás por motivos de saúde parou com o trabalho na feira. Pai de Fátima, Edvaldo e Genivaldo e avô de quatro netos o Sr. Waldemar diz sentir saudades dos companheiros que trabalhavam com ele e busca na memória alguns deles como os irmãos Marcelino e Manuel, Valto filho do Pedro Mineiro, Sr.João Pernambuco, José Cearense, Sr. Antonio Constantino e seu filho Arlindo o Valdecir, Manoel Costino, Fernando Alagoano, Enéias, Dona Lídia Perusso, o açougueiro Zé Lopes, Jorge Minahara, Maeda, Alcides Palhano o saudoso Celestino, Paulinho, Nei, Nelson do Café, Josias o cearense, Zé Pequeno, Waldemar caminhoneiro, Adão Paraibano e de outros que não consegue se lembrar mais do nome.
A nossa feira sobrevive apesar das muitas mudanças de local e com o pouco investimento dos nossos governantes, talvez falte a cultura das feiras, como em outras regiões do país onde estas são ponto de convergência da população não só como local de comercialização de alimentos mas também como local de passear com a família, rever os amigos , encontro de negócios tornando-se um espaço mult de convívio cultural com seus artistas de ruas, mágicos, palhaços, repentistas, retratista, enfim muita coisa cabe em uma feira livre pois na rua existe muito espaço fator que acredito seja determinante na existência e permanência da “Feira Livre”.
Aqui em Dourados a Feira da Rua Cuiabá apesar dos pesares está cada vez mais forte precisando de benfeitorias, mas que isso não implique em mudança de local. Válida foi uma iniciativa do ex-vereador Eduardo Marcondes solicitando esse cuidado e a incrementação desse espaço democrático com atividades artístico-culturais.
Uma boa iniciativa nesse campo foi também através do governo estadual passado juntamente com a boa vontade dos coordenadores culturais daqui realizando algumas apresentações do projeto Temporadas Populares tendo a nossa “Feira da Cuiabá” como palco e o público aprovou essa idéia.
Aqui esperamos todos que ela continue a ser esse espaço bem utilizado por boêmios, nordestinos, agregados, e que possamos ainda por muito tempo dar uma paradinha na garapa do Batata e se deliciar com os deliciosos pastéis preparados por sua mãe, que lembrando os pastéis da minha mãe chega quentinhos cobertos com um pano branquinho e sem a ação dos redemoinhos.
Cantinho da Poesia
Feira Livre
Claudio Nucci e Cacaso
Olha o trôco, olha a troca! dou-lhe duas, dou-lhe três! amendoim de paçoca, uva de vinha e de vez! milho que dá pipoca, remédio de gravidez, anzol, caniço e minhoca, casal de burro pedrês, sanfona que quase toca, jogo de dama e xadrez, toda e qualquer engenhoca, que agradar ao freguês.
olha que tá na hora! não use em vão seu tostão pastilha de catapora xarope de sarampão! melão, melado e amora, cavalo velho trotão, bolinho frito na hora, penacho de gavião, vacina pra quem namora, anel de segunda mão, as maravilhas da flora, à vista e à prestação.
olha que é hoje só! oferta de ocasião! farinha de pão de ló, bigode de camarão! um terno sem paletó, um futebol de botão, receita de bisavó, patente de capitão, papa-capim, curió, pipa, peteca e pião, barbante que não dá nó, cordel que puxa cordão.
Fala Jesus Cristo!
“Para isto eu nasci e vim ao mundo, para dar testemunho da verdade; todo o que está pela verdade, ouve a minha voz.”
– A todos: FELIZ NATAL!
Imagens para ser vista e admirada!
Fonte: Folha de Dourados