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‘A insegurança que a negligência alimenta’, por Victor Teixeira

Victor Teixeira (*) –

Dos 16 casos de homicídio doloso registrados em áreas indígenas de Mato Grosso do Sul no ano passado, 7 ocorreram na Reserva Indígena de Dourados (RID). Números de eventos que resultaram na morte das vítimas não são, no entanto, o inteiro da situação ameaçadora da segurança percebida entre os ocupantes a quem a comunidade se destina por herança ancestral. Outros tipos de crimes relatados evidenciam para o Estado e a opinião pública a vulnerabilidade de quem é alvo deles à perda da vida.

As sete vítimas fatais da violência na RID certamente enfrentaram circunstâncias desfavoráveis similares às envolvidas em dois casos de ameaças à vida e propriedade de vítimas individuais, 21 de lesão corporal ou tentativa de assassinato e na retenção de cartões para acesso a benefícios governamentais de um número maior de indígenas por comerciantes locais de fora da Reserva. E os poderes políticos e econômicos responsáveis pela manutenção do contexto que favorece estas ocorrências e as de homicídio consumado, na desejável hipótese de não quererem que todas estas vidas sejam aviltadas até terem um igualitário fim definitivo, ao menos não estão familiarizadas com a necessidade de proporcionar a dito grupo de pessoas as mesmas condições para uma vida saudável e pacífica melhor disponíveis entre os não índios.

Esses setores influentes precisam reaver a forma como estão permitindo o acesso da população da RID a saúde, ensino, geração de empregos e prevenção da criminalidade perante o nível em que os habitantes estão concentrados no espaço. Dificuldades para atravessar todas as fases de estudo e conseguir uma ocupação profissional bem remunerada e que incentive o aprimoramento de habilidades atraem muitos jovens a grupos de pertencimento onde muitas vezes são norma o uso inadequado de álcool e o consumo de drogas ilegais, que entram driblando os esforços das famílias e lideranças comunitárias. E, quando permeiam os ambientes familiares, os vícios espalham suas consequências em uma direção geracional.

A Reserva também é alvo de ataques premeditados de origem externa, perpetrados por homens armados a mando de ruralistas vizinhos à área. A ordem do Ministério Público Federal, em 2022, para a fiscalização pela Polícia Federal (PF) que, em função de tais atividades, aplicou punição administrativa a uma empresa de segurança privada precisa ser repetida pelo mesmo tanto de vezes em que isso torne a ocorrer.

Deste tipo de violência não houve registros no ano passado. Os casos de agressão ou morte intencional registrados nesse período onde tanto o perpetrador como a vítima pertencem à comunidade não precisavam de complemento para o fardo que representam suficientemente para os indígenas. O ano em curso ainda dá chances para os poderes competentes agirem demonstrando entender a preocupação que sonda residentes da RID sobre quem e quantas serão as próximas vítimas de ambas modalidades de ataque até dezembro!

(*) É acadêmico de Jornalismo e estagiário na Folha de Dourados

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