Desde 1968 - Ano 56

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Desde 1968 - Ano 56

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‘À espera da felicidade’, escreve Elairton Gehlen

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Elairton Gehlen – escritor 

Quem não quer ter um amor verdadeiro? O Fábio quer! Há poucos dias fiz referência a esse homem barbudo que encontrei sentado na calçada da Avenida Marcelino Pires. Confesso que fiquei intrigado e meio confuso com a serenidade com que me falava sobre suas peripécias dos tempos da juventude e também da idade adulta e, claro do momento atual em que vivia tranquilamente, isso, sem traumas, sua vida de rua. 

Eu o encontrei sentado no chão, as costas encostadas num muro com propaganda de aluguel de betoneiras, andaimes e escadas, as pernas um pouco afastadas uma da outra e a mudança toda em duas malas ao seu lado. Vestia roupas limpas, calçava tênis e na cabeça um boné. Não fazia frio, mesmo assim estava de blusa e tinha as unhas das mãos pintadas de azul. Abri a minha bolsa a tiracolo e tirei dois livros que lhe ofereci, uma bela desculpa para iniciar um bate-papo. 

Sem se comprometer nenhum milímetro com meus livros ele pegou e devolveu dizendo que não conseguia ler por que seus olhos estarem ruins, depois de ter trabalhado como soldador de ferragens em construções, também fora pintor e por quinze anos trabalhou num lava-jato, limpando carros. Ganhou muito dinheiro, tivera sua casa própria, seu carro e até uma moto. Minha família é tudo daqui, mas nenhum presta! 

Com essas informações todas fiquei pensando: por que está “desse jeito”? Não foi difícil de compreender, na década de 1.980, quando desembarquei na rodoviária desta cidade, passei, eu também, por situação semelhante, como diz o ditado: faltou ‘isso’ para botar as roupas na mochila e dormir no pátio da rodoviária! Fábio se animou de me contar mais sobre seus desejos e sentimentos, então sentei-me ao seu lado e fiquei ouvindo uma história surreal! Os detalhes que me contou não posso publicar, mas tu podes bem imaginar! 

Interrompia de vez em quando para pedir dinheiro a um transeunte depois voltava ao assunto, parando outra vez para tomar um gole de pinga e então continuava. De que falava? De mulheres! Passara a vida toda procurando o amor! Agora estava apaixonado pela secretária da clínica onde dormia em frente, às vezes chegava lá mais cedo só para vê-la. Estava apaixonado também pela dona da lojinha, próximo do local onde estava agora, mas ela, depois que deixara o marido, ajuntou-se com um funcionário da loja, parece que não vê! E fez um elogio impublicável à beleza da mulher. 

Nenhuma delas dava bola para ele, nem nenhuma outra também. Tivesse um carrão, tava todas em cima! Mas, não tenho, já tive, gastei tudo na zona! Disse isso, tomou mais um gole, respirou e, meio desiludido confessou estar faltando só uma coisa. Queria uma japonesa, gastara todo seu dinheiro pegando mulheres na zona, mas nunca conseguira uma japonesa! 

Fábio só tem uma ambição, aliás três, namorar a secretária da clínica, casar com a dona da lojinha e pegar uma japonesa! Enquanto isso, ganha dinheiro cuidando de carros no estacionamento do supermercado, dorme em frente da clínica e sonha acordado ao lado da lojinha. Dei a ele quatro livros, que ele vendeu a dois reais cada! 

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