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‘Criminosos e punições’, por Isaac Duarte de Barros Junior

Opinião – 01/06/2012

                                   Depois de passar tantos anos advogando causas criminais, defendendo as pessoas acusadas das práticas delituosas, concluí que o mundo evoluiu sensivelmente em violências urbanas e rurais. Inclusive, cresceu muito o desassossego na população, com a ausência da segurança pública, cujas críticas ganham espaços nos noticiários brasileiros. E embora estejamos acostumados a ver pela imprensa, crimes escabrosos acontecerem, diversos desses dolos pavorosos ainda surpreendem, quando confessados. Os comparando com as maldades mais divulgadas no começo da minha carreira profissional, admito que as atuais, pelo aspecto, causem espanto.
                                    E nestas reminiscências, quero apenas rememorar fatos passados, de quando acusado era acusado, bandido era simplesmente bandido e policial um agente da lei confiável, sem exceções. Em síntese, ao menos essas diferenças marcantes, noutros idos separavam os homens bons dos maus e a sociedade quando julgava alguém punia, caso fosse considerado malfeitor. No gesto defensivo, acreditávamos estar fazendo justiça, conseguindo inocentar os acusados de crimes.
                                    Quanto aos rebeldes sem causa; gente vaidosa; tolos falando bobagens; políticos polêmicos; geólogos alarmistas e vigaristas reincidentes, certamente que esse tipo de gente, sempre existiu. Mas, no tempo presente, comparando-o ao de antigamente, as diferenças comportamentais, realmente foram outras. Pois, repórteres policiais, homens valentes do microfone, figuras conceitualmente incorruptíveis desta geração, na minha época de locutor no rádio, marcaram suas presenças enquanto estavam ativos. Depois, não apareciam sequer na galeria reservada aos destemidos, mesmo sendo mortos trabalhando. Também as exigências atuais, nada exigentes outrora, diferem-se daquelas velhas culturas populares, mesmo que lembrem remotamente, uma época quando os pensamentos eram outros. Hoje, esquecidos, eles são considerados ultrapassados, perfeccionismos forçados pelos religiosos.
                                   Desse modo, no mundo atual, futilidades ainda desfilam de óculos escuros, enquanto bocas murchas pintadas mascam chicletes, copiando os animais ruminantes. Embusteiros, passam por espertos e bolsas mudam de dono no centro das urbes, sob a mira das armas, segundo divulga a mídia. E tudo isso é noticiado, mostrando diariamente nas telinhas, as desgraças do próximo. Diluídas na taça fervente dessas audiências televisivas, muitas delas serão absorvidas pelo público, sedento de embriagar-se com novas calamidades. Distraindo-se, os desocupados assistem as cabeças dos outros rolarem, nessa ciranda grotesca. Como telespectadores, comendo pipocas, alguns babam de prazer, vendo derramar o sangue vermelho dos infaustos desconhecidos, até coagular-se no asfalto negro.
                                   Desta maneira, o quadro cena destes novos tempos criminosos, revela junto às tripas expostas de pedestres atropelados, os corpos dos motociclistas espatifados nas ruas. Geralmente, com ossos quebrados a mostra, entre os vitimados descobre-se, carregavam alguém de forma irregular. Enquanto isso, crimes de altos representantes do povo, praticados na casa de Ruy Barboza, são contestados por senadores criminosos, com assento no Congresso Nacional. Lá, em salões reservados aos homens prudentes, diante de provas incontestáveis, esses parlamentares malandros, refutam-nas. Deslavadamente, mentem diante dos seus pares, ao invés de atenuarem seus delitos, com a espontaneidade da confissão.
                                   Apegados no cargo e nas mordomias decorrentes, usufruindo de foro privilegiado, esses arrogantes acham estar acima da lei. Isto, por haverem sido investigados, sem uma autorização superior, que averiguou falcatruas comprovadas, descobertas graças à tecnologia. Sei, entre os advogados douradenses, inscritos nos quadros inaugurais da OAB, no dia que instalaram nossa 4ª subseção, militando na comarca, daqueles restamos três: os Drs. Altair da Costa Dantas (decano), José Alberto de Vasconcelos (aposentado) e este escriba. Mas, pela janela das lembranças, escoltados sob o comando do folclórico “petiscão” (apelido carinhoso dado ao Dr. Ayrton Barboza Ferreira) nosso primeiro presidente, desfilam meus valorosos colegas hoje falecidos. Entretanto, pudessem eles ressuscitar e inteirar-se das novas leis vigentes, protegendo rapinas safados, morreriam novamente… desta vez de raiva!
 
*advogado criminalista, ex-jornalista.
  e-mail: [email protected]

Fonte: Folha de Dourados

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