Entre os fatos que marcaram a agenda social e política de Mato Grosso do Sul este ano, um deles, sem dúvida alguma, foi a campanha das eleições diretas para o comando da Federação dos Trabalhadores em Educação Pública (Fetems). A manutenção da longa hegemonia do grupo liderado por Jaime Teixeira não trouxe qualquer surpresa.
O surgimento de uma chapa alternativa, liderada pelo experiente professor e advogado Joaquim de Oliveira Neto, foi a novidade. Suas ideias acenderam profundos questionamentos sobre o exercício dos mandatos sindicais e o compromisso dos dirigentes com as reais causas da categoria, entre as quais a liberdade para fazer as escolhas, a plenitude da democracia, da higidez e da transparência na gestão e a blindagem dos bens patrimoniais e institucionais da entidade contra quaisquer formas de aparelhamento.
“Em síntese, o que defendemos é um compromisso de toda a vida dos educadores: lutar por uma educação de qualidade, com liberdade de pensamento, e pelo fortalecimento da sua representação sindical, que não é apenas de caráter laboral, trabalhista, mas é também política e cultural”, define o professor Joaquim. Diante do resultado das urnas – que deram a vitória à professora Deumeires de Morais, apoiada por Jaime Teixeira -, o reconhecimento e o olhar democrático de Joaquim vieram reforçar suas convicções.
“Toda representação laboral existe para atender a categoria que representa. Para isso, precisa conhecer e reconhecer suas fragilidades, com uma gestão que saia de dentro de si mesma e de suas ambições para que possa fazer a leitura das necessidades com isenção, com sabedoria e,. sobretudo, com honestidade de propósitos”, afirma. Professor, filósofo e advogado, ele construiu sua trajetória a partir da educação como caminho em permanente construção.
FORMAÇÃO – Da sala de aula, da formação humanista e da experiência cotidiana no serviço público, nasce sua atuação no Direito, compreendido como ferramenta de mediação e fortalecimento institucional. Seu percurso se organiza no encontro entre educação, gestão pública, movimento sindical e trabalho de base, sempre guiado pela escuta, pela responsabilidade e pelo fiel compromisso com a dignidade de quem vive e trabalha nas instituições.
Neste contexto, a reflexão de Bertolt Brecht ajuda a iluminar sua trajetória. Ao afirmar que “do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”, o pensador alemão convida a deslocar o olhar do julgamento fácil para as estruturas que produzem os conflitos.
Joaquim classifica suas candidaturas à presidência da Associação Campo-grandense dos Professores (ACP) e da Fetems de experiências que se afirmaram como “tentativas de produzir novas fo rmas de escuta, de participação e organização, tensionando modelos cristalizados de representação”. Natural de Campinápolis (MT), ele iniciou sua formação política no movimento estudantil e na Pastoral da Juventude. Aprendeu que a política emerge do tecido social e das relações, não de estruturas abstratas.
Inspirado pelo legado de Dom Pedro Casaldáliga, engajou-se na defesa dos povos indígenas e na resistência à violência dos conflitos agrários, experiências que o colocaram em contato direto com as linhas de exclusão que atravessam o Estado e a sociedade brasileira. Em 1990, ingressou no Seminário Maria Mãe da Igreja, em Presidente Prudente (SP), e, em 1993, passou a cursar Filosofia na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande (MS).
Como representante do Centro Acadêmico de Filosofia (CAFIL), atuou na construção coletiva e no exercício das divergências como motor de mudança. A docência surgiu como desdobramento natural desse percurso. Em 1995, iniciou sua atuação como professor de História e, em 2000, tornou-se servidor público efetivo. Nas equipes técnicas das secretaria de Administração e da Secretaria de ducação, coordenando políticas públicas na Educação Básica do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e MOVA, passou a entender o Estado como campo de forças em que decisões podem tanto produzir cuidado como reproduzir desigualdades.
ATUAÇÃO COMUNITÁRIA – Desde 2005, atua como conselheiro no Conselho da Comunidade de Campo Grande, experiência que reforçou sua compreensão da justiça como processo relacional. A atuação se volta menos à punição e mais à reconstrução de trajetórias interrompidas, apostando na reinserção social, no trabalho e na educação como linhas possíveis de recomposição da vida. Entre 2008 e 2012, cursou Direito na UCDB, ampliando seu campo de ação sem abandonar a perspectiva ética que atravessa toda a sua trajetória.
Em 2025, esse percurso ganhou maior intensidade ao aprofundar seu trabalho de base nas favelas de Campo Grande. Fora dos gabinetes e das formas tradicionais de mediação, sua atuação se dá no intrínseco do cotidiano. Coloca a mão na massa, participa da reconstrução de famílias, compartilha responsabilidades, media conflitos e ajuda a reorganizar as condições mínimas de vida. Para ele, nada de excepcional. É o olhar de um educador sensível e atento às provocações do futuro, afirma.

