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Cirurgiã-dentista vira ré por morte de paciente após procedimentos estéticos 

Uma cirurgiã-dentista responde na Justiça por homicídio de uma paciente após a realização de diversos procedimentos estéticos. Ela foi denunciada pelo Ministério Público e se tornou ré por erros médicos que teriam levado à morte de Michelle Barbosa de Souza Rocha, em 2024.

Procurada, ela não respondeu aos questionamentos do g1 até a publicação desta reportagem.

Na quarta-feira, o g1 mostrou que outra cirurgiã-dentista, também virou ré em um processo por lesão corporal gravíssima de Eloah Carneiro Teixeira. Ela foi aluna e colega de Gracielly em cursos voltados a procedimentos estéticos faciais.

De acordo com a Polícia Civil e o Ministério Público, as investigações apontaram práticas irregulares envolvendo as duas profissionais. Segundo os órgãos, as dentistas teriam realizado procedimentos cirúrgicos complexos, como blefaroplastia (retirada de pele das pálpebras), platismoplastia e lifting facial, em locais inadequados.

As intervenções causaram complicações graves, como choque séptico, hemorragia e necrose. Em alguns casos, os problemas resultaram em morte ou colocaram as pacientes em risco iminente, situação agravada por falhas no acompanhamento pós-operatório.

De acordo com o relatório final da 42ª DP (Recreio), que indiciou Gracielly, a cirurgiã dentista “estava com seu consultório em funcionamento de forma velada, inexistindo sequer placa indicativa de exercício de atividade profissional no local.”

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pediu a prisão preventiva e o sequestro de bens no valor de R$ 250 mil denunciada por homicídio doloso qualificado e exercício irregular da medicina. A Justiça aceitou a denúncia, mas negou o pedido de prisão preventiva.

O processo segue em andamento na 16ª Vara Criminal da capital, onde a acusada responde por homicídio.

Michelle foi submetida a bichectomia (retirada de bolsas de gordura das bochechas), além de lipoaspiração de papada e colocação de fios no pescoço para auxiliar na firmeza da musculatura.

A investigação da 42ª DP (Recreio) aponta ainda que Gracielly teria realizado procedimentos de blefaroplastia e ritidoplastia (lifting facial) sem mencioná-los no contrato firmado com a paciente.

De acordo com uma resolução de 2020 do Conselho Federal de Odontologia, essas cirurgias são proibidas para cirurgiões-dentistas. A acusada nega as irregularidades.

Segundo o laudo de necropsia, a causa da morte de Michelle foi uma infecção na pele decorrente do procedimento estético, que se espalhou pelo corpo.

O exame aponta também a formação de coágulos que migraram para os pulmões, bloqueando a circulação sanguínea e levando à morte da paciente. Gracielly responde ainda a outros três processos por erros médicos.

“A família está indignada em ter ciência de que acusada se encontra em liberdade e exercendo livremente a sua profissão, mesmo após as investigações e perícia confirmarem que o óbito se deu devido ao procedimento estético realizado pela dentista”, afirmou a advogada Clarissa Araújo, que representa a família de Michelle, em nota enviada ao g1 (leia a nota completa mais abaixo).

De acordo com o Ministério Público, após deixar o local do procedimento, Michelle passou a apresentar sangramentos na boca e na urina, além de dores e inchaço.

Ainda segundo a acusação, Gracielly teria orientado a paciente a permanecer em casa, utilizando medicação e gelo, e desestimulado a busca por atendimento hospitalar, sob o argumento de evitar infecção.

Com a piora do quadro clínico, familiares levaram Michelle a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde médicos identificaram um “grave erro médico” e indicaram a necessidade de internação imediata em um hospital de grande porte.

Na unidade, a paciente sofreu um choque séptico e uma grande perda de sangue, sendo transferida para o Hospital Adão Pereira Nunes.

Familiares também acusam Gracielly de ter enviado mensagens falsas sobre o estado de saúde de Michelle. Segundo eles, a dentista afirmou que a paciente estava internada no CTI e apresentava melhora, enquanto, na realidade, ela permanecia no centro de traumas em estado grave.

Michelle em uma cama de hospital após procedimentos no rosto; paciente morreu três dias depois — Foto: Reprodução

A vítima acabou morrendo no dia 31 de maio de 2024, três dias depois de fazer os procedimentos estéticos.

À polícia, Gracielly afirmou que sugeriu que Michelle fosse ao consultório caso precisasse ser examinada e confirmou que orientou a paciente a procurar um hospital por receio de uma infecção.

Em depoimento, Gracielly afirmou que realizou apenas bichectomia, lipoaspiração de papada e colocação de fios de tração, e negou ter feito blefaroplastia ou lifting facial. Segundo ela, a paciente deixou o consultório bem e sem intercorrências.

Ainda de acordo com Gracielly, havia a expectativa de que Michelle fosse extubada no hospital, diante de uma suposta melhora no quadro de saúde.

Ao g1, Gracielly afirmou que a vítima morreu após ter tido os pulmões perfurados na UPA de Duque de Caxias, e que a morte de Michelle não teve a ver com o procedimento.

Em nota, a defesa diz que não houve “imprudência, negligência ou imperícia”, requisitos fundamentais para se configurar crime, e que Gracielly não foi citada sobre qualquer acusação formal do Ministério Público.

Nota da família de Michelle:

“A família está indignada em ter ciência de que acusada se encontra em liberdade e exercendo livremente a sua profissão, mesmo após as investigações e pericia confirmarem que o óbito se deu devido ao procedimento estético realizado pela dentista.

Cumpre esclarecer que se encontra devidamente comprovado no inquérito policial que os procedimentos estéticos foram realizados em local inadequado, que a dentista acusada não tinha licença para realizar todos os procedimentos e que houve total desprezo pelas normas básicas de segurança.

Importante relatar que o próprio relatório policial aponta que a investigada já vinha mantendo sua atividade de forma velada e que continua a realizar procedimentos invasivos, além de oferecer cursos e treinamentos, mesmo sem estrutura e sem autorização, o que demonstra um risco concreto de novas vítimas.

Sendo assim, verificamos que o risco de causar novas vitimas motivou o pedido de prisão preventiva e de suspensão do exercício profissional, já que a investigada continua em plena atividade profissional e representa uma ameaça real e imediata à ordem pública, contudo até o momento não foram implementadas as medidas cautelares necessárias, o que é lamentável.”

Cursos em comum

Certificado de Cynthia Heckert Brito como aluna de Gracielly Gandarão, ré em processo na Justiça do Rio — Foto: Reprodução

Certificado de Cynthia Heckert Brito como aluna de Gracielly Gandarão, ré em processo na Justiça do Rio — Foto: Reprodução

Certificados de conclusão de cursos mostram que Gracielly e Cynthia participaram juntas de diferentes formações entre 2019 e 2025.

Em 2019, Gracielly foi professora de Cynthia em um curso sobre alectomia, procedimento estético para afinar o nariz. No mesmo ano, ambas também participaram de um curso livre de lipo submentual cirúrgica, conhecida como lipo de papada, uma lipoaspiração realizada na região abaixo do queixo.

(Informações g1)

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