Juca Vinhedo –
A FRASE
“É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação”. (Senador Flávio Bolsonaro, dia 2/11).
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“Tem uma possibilidade de eu não ir até o fim e eu tenho um preço para isso, que eu vou negociar. Eu tenho um preço, só que eu só vou falar para vocês amanhã”. “. (Senador Flávio Bolsonaro, dia 7/11).
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“Essa candidatura é irreversível, palavras dele [Jair Bolsonaro]. Não vamos voltar atrás, vamos seguir em frente. A partir de agora é ir conversando com as pessoas, pra ter as pessoas certas ao nosso lado”. “. (Senador Flávio Bolsonaro, dia 8/11).
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Na calada
A Câmara aprovou na madrugada desta quarta-feira (10) o tal PL da Dosimetria, que recalcula penas dos envolvidos na trama golpista e nos atos de 8 de janeiro. O texto já foi jogado no colo do Senado, e Davi Alcolumbre, cheio de gás, prometeu votação ainda este ano, antes do recesso do dia 23. A turma do Planalto, claro, ficou de orelha em pé.
Surpresa no plenário
A fala de Alcolumbre, garantindo votação direta no plenário, caiu como um raio entre os líderes. Muita gente não esperava tanto entusiasmo para acelerar um tema tão sensível. O recado é claro: o Senado quer marcar posição na reta final de 2025, e sem muita paciência para longas discussões.
Clima azedando
O presidente da CCJ, Otto Alencar, não engoliu a pressa. Rebateu no microfone e lembrou que o projeto deveria passar pelo colegiado. Deputados da base de Lula acompanharam o protesto. Nos bastidores, o comentário é que a votação pode até aliviar a barra de Bolsonaro, mas promete inflamar ainda mais o clima político.
Meia vitória
A aprovação do PL 2.162/23 na Câmara soou como vitória pela metade para a oposição bolsonarista. Eles votaram a favor, é verdade, mas o sonho da anistia “ampla e irrestrita” ficou pelo caminho. Sem apoio suficiente no plenário, restou engolir um texto menos ambicioso e com impacto mais modesto no tabuleiro.
Candidatura-moeda
Nos bastidores, a coisa foi ainda mais curiosa. Flávio Bolsonaro, lançado como herdeiro político para 2026, colocou sua própria candidatura na mesa para tentar empurrar o projeto. Um lance ousado, típico de quem sabe que o relógio gira rápido quando o patriarca está atrás das grades. Mesmo assim, a articulação não rendeu o que a tropa queria.
Já é um começo
Condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses em regime fechado, Bolsonaro cumpre pena na Superintendência da PF desde 22 de novembro. A base bolsonarista aposta que o PL da Dosimetria pode cortar alguns anos dessa conta pesada. Nos corredores de Brasília, a frase é uma só: “não é a liberdade, mas já é um começo.”
Progressão com limites
O PL da Dosimetria, relatado por Paulinho da Força, mexe nas regras de progressão de regime: em vez de cumprir um quarto da pena, o condenado com bom comportamento poderá avançar após um sexto. Mas nada feito para crimes hediondos ou reincidentes. A oposição aposta nessa brecha para aliviar a barra de parte dos envolvidos no 8 de Janeiro, embora nem todos se encaixem no novo desenho.
Fora do cardápio
O texto ainda elimina a soma de penas para crimes contra o Estado Democrático de Direito, o que, na prática, daria um respiro importante para Bolsonaro. Porém, a redução extra de pena prevista para crimes cometidos em “contexto de multidão” não o alcança: vale só para quem não financiou nem liderou o ato. Como o STF aponta o ex-presidente justamente como o chefe da tentativa de golpe, esse desconto específico fica fora do cardápio.
Afastamento temporário
Michelle Bolsonaro, que comanda o PL Mulher, resolveu dar um tempo da rotina política após orientação médica. De acordo com nota divulgada pelo partido, ela enfrenta um quadro de imunidade baixa, situação que teria piorado desde a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. O afastamento é temporário, mas chamou atenção no núcleo bolsonarista.
Etapa decisiva
O Conselho de Ética da Câmara abriu na terça (9) a fase de oitivas dos processos que investigam os deputados Marcos Pollon (PL-MS), Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Zé Trovão (PL-SC). O trio interditou o plenário por mais de 30 horas, em agosto, após o pedido de prisão de Jair Bolsonaro. As representações vieram da Corregedoria e podem resultar até em suspensão de mandato.
Bancada rachada
A votação do PL da dosimetria escancarou a divisão da bancada federal de Mato Grosso do Sul. Bolsonaristas como Beto Pereira, Dr. Luiz Ovando, Marcos Pollon e Rodolfo Nogueira abandonaram o discurso da anistia “ampla e irrestrita” e votaram a favor do projeto que reduz a pena de Bolsonaro e dos condenados pelos atos de 8 de janeiro. Já Dagoberto Nogueira, Geraldo Resende, Camila Jara e Vander Loubet mantiveram o voto contrário, alinhados ao entendimento de que o texto não deve aliviar crimes contra a democracia.
Pollon na berlinda
Marcos Pollon chega ao Conselho respondendo a duas representações. A primeira, pelo bloqueio da sessão, pode lhe render 30 dias de suspensão. A segunda pesa ainda mais: declarações ofensivas contra o presidente da Câmara, Hugo Motta, feitas em protesto em Campo Grande. Pelo xingamento público, Pollon pode perder até 90 dias de exercício do mandato.
Defesa e provocação
Na defesa, Pollon alegou que tudo foi ato simbólico, protegido pela Constituição, e que não houve quebra de decoro. Fez questão de dizer que outros deputados já protestaram da mesma forma. E, num toque teatral, pediu que qualquer eventual punição venha impressa em “papel linho couchê”, para emoldurar e mostrar aos filhos como prova de que “não se acovardou”. Cena típica dos novos tempos no Congresso.
Contar bagunça
A filiação de Capitão Contar ao PL caiu como um rojão aceso no colo do grupo Riedel–Reinaldo. Valdemar da Costa Neto lançou Contar como pré-candidato ao Senado sem nem pedir bênção ao diretório estadual. Resultado: aliados que estavam na fila há meses agora assistem à porta sendo aberta para um recém-chegado… e o clima esquentou bem antes das convenções.
Reinaldo cochicha
A ausência de Reinaldo na filiação foi lida como mensagem clara: Contar não quer aproximação com o grupo que enfrentou em 2022. Ao mesmo tempo, Reinaldo tenta segurar as rédeas de Valdemar, que prometeu que ele mandaria no PL local, mas segue agindo por conta própria. No meio desse jogo, nomes fortes como Nelsinho Trad, Gerson Claro e Gianni Nogueira cobram definição imediata.
Fila do Senado
A disputa pelas duas vagas ao Senado virou um ringue antecipado. Nelsinho Trad já avisou que não sai do páreo de jeito nenhum. Gianni Nogueira, desconfiada do “clima” dentro do PL, abriu conversas com o Partido Novo. E Reinaldo Azambuja quer esperar pesquisas para montar o tabuleiro. Até as convenções, o desafio do grupo governista será outro: além de escolher os candidatos, segurar a avalanche de aliados que insistem em não sair da disputa.
Catan no jogo
João Henrique Catan resolveu assumir de vez o papel de pré-candidato ao Governo do Estado. Único deputado de oposição na Assembleia, ele tem rodado Mato Grosso do Sul e diz sentir “clamor das ruas” por uma candidatura própria. O curioso é que seu nome chegou a circular no PL antes da filiação de Reinaldo Azambuja, mas, com a entrada do ex-governador, a conversa esfriou. Mesmo assim, Catan cresceu no contraponto a Riedel e já aparece com 15,4% nas pesquisas do Instituto Ranking.
Partido x pesquisas
O problema de Catan é o endereço partidário. O PL assumiu compromisso de apoiar a reeleição de Eduardo Riedel, exigência de Reinaldo para comandar a sigla no Estado. Ou seja: para disputar o governo, o deputado teria que mudar de partido. Enquanto isso, os números mostram cenário de segundo turno, com Riedel na frente e Catan consolidado como terceira força. A oposição, que anda rareando na Assembleia, pelo menos ganhou um nome competitivo para animar a corrida.
Largando na frente
A pesquisa do Instituto Ranking trouxe um recado claro: Reinaldo Azambuja entra na disputa pelo Senado com o pé na frente. Nos três cenários testados, o ex-governador aparece sempre na liderança, oscilando na casa dos 25% a 26%. É um sinal de que seu nome ainda tem lastro forte no eleitorado sul-mato-grossense, mesmo depois das turbulências internas no PL.
Nelsinho no encalço
Quem permanece colado em Reinaldo é Nelsinho Trad, que marca entre 20% e 21% nos cenários pesquisados. O senador segue mostrando musculatura e não pretende arredar pé, como ele próprio já disse nos bastidores. Gerson Claro e Vander Loubet aparecem bem posicionados em cenários distintos, mostrando que a disputa tem espaço para rearranjos conforme os palanques forem se definindo.
Novos nomes
A entrada de Capitão Contar e Simone Tebet nos cenários mexe nas porcentagens, mas não altera o topo. Contar chega a 16,4%, enquanto Simone varia de 10% a 15%, mostrando potencial competitivo. Gianni Nogueira também surpreende ao bater dois dígitos em um dos cenários. O fato é que, com tanta gente no páreo, o jogo promete esquentar muito antes das convenções.
Ganha fôlego
O PSD entrou de vez no tabuleiro eleitoral de 2026. O partido recebeu luz verde do governador Eduardo Riedel para montar chapas de estadual e federal dentro do grupo que apoiará sua reeleição. A conversa ocorreu em reunião com lideranças da sigla, que reúne nomes importantes como Barbosinha, Pedrossian Neto, Jaime Verruck e Nelsinho Trad. O recado foi claro: o PSD terá espaço e musculatura própria na engrenagem governista.
Perde o troféu
Gilberto Kassab até tentou filiar Riedel ao PSD, mas voltou para casa sem o troféu principal. Em compensação, ganhou um prêmio de peso: o compromisso do governador de cuidar do partido no Estado. Desde então, a sigla fortaleceu o time com a filiação de Barbosinha e de Jaime Verruck, que agora sonha alto e tenta emplacar seu nome na disputa pelo Senado, enfrentando nada menos que Nelsinho Trad dentro da própria casa.
Órfãos do governismo
Com o aval de Riedel, o PSD vira destino tentador para deputados e aliados que não se encaixam no PP, PL ou PSDB, três siglas que, por diferentes razões, não agradam a todos no grupo governista. A estratégia inicial de montar uma aliança enxuta, com quatro partidos, ficou inviável. A necessidade de manter aliados respirando forçou a ampliação. No fim das contas, o PSD emerge como válvula de escape e peça-chave para equilibrar o jogo.
Tarifaço não segurou
Mesmo com o tarifaço imposto pelos EUA, Mato Grosso do Sul deve fechar 2025 batendo recorde de exportações. De janeiro a novembro, o Estado já acumulou US$ 9,8 bilhões em vendas externas, praticamente igualando os números de 2024. A média mensal indica que o recorde de 2023 (US$ 10,5 bilhões) está logo ali na esquina. Para quem temia um tombo com as tarifas do governo Trump, o resultado surpreendeu.
Puxando o trem
O saldo positivo tem três motores: a queda na importação do gás boliviano, o ganho de escala da celulose após a operação plena da Suzano em Ribas do Rio Pardo e a escalada da carne bovina. Só em 2025, as exportações de carne saltaram 51,1%, chegando a US$ 1,7 bilhão. Em novembro, o boi ultrapassou a celulose e virou o produto mais exportado do Estado, com 29% das vendas do mês.
EUA em retração
A China segue mandando no comércio exterior sul-mato-grossense: comprou 38,2% das exportações em novembro e já soma 45% no acumulado do ano. Os EUA, apesar do tarifaço, continuam como segundo maior parceiro, com US$ 477 milhões em compras — mas o volume é 22,5% menor que o do ano passado. O recado do mercado é claro: mesmo com turbulência internacional, a pauta exportadora de MS continua robusta e diversificada.
Emprego pleno
O boom industrial colocou Mato Grosso do Sul entre os líderes nacionais em emprego, com a menor taxa de desocupação do país. O governo surfa essa onda, mas já encara o novo desafio: preparar gente suficiente para ocupar as vagas criadas pela chegada de grandes indústrias. Como diz o governo, o Estado vive “momento histórico”, combinando pleno emprego com forte demanda por qualificação.
Capacitação acelerada
Nos últimos dois anos, mais de 450 mil trabalhadores passaram por cursos e formações ofertados pelo Governo do Estado e parceiros. O esforço garantiu feitos expressivos: MS é 1º lugar em desocupação e 2º em competitividade do trabalho. Mas o crescimento rápido gera “dores naturais”: algumas regiões já não conseguem suprir vagas técnicas. A resposta tem sido ampliar cursos, reforçar ensino integral e calibrar formações conforme a vocação de cada município.
Levando alegria
A ação “Sorrisos de Natal”, promovida pela Prefeitura de Dourados e pela Guarda Municipal, mudou o fim de semana de cerca de 200 crianças da Comunidade Vitória. Pela primeira vez lembradas em época de Natal, elas receberam brinquedos e atenção num gesto que resgata dignidade e pertencimento. A cena de meninos e meninas sorrindo, abraçando o prefeito e agradecendo emocionados fala mais alto que qualquer discurso.
Além do uniforme
A mobilização dos guardas de Dourados mereceu aplauso. A maioria estava de folga, mas abriu mão do descanso para entregar brinquedos arrecadados na campanha. É a prova de que a corporação tem lado: o lado das famílias que mais precisam. Sob orientação de Marçal Filho, a Guarda vem se aproximando das comunidades, mostrando que segurança pública também é acolhimento e presença social.
Ganhando corações
O prefeito fez questão de vestir o gorro do Papai Noel e ir pessoalmente à Comunidade Vitória. Foi recebido como uma figura ainda desconhecida, e saiu de lá reconhecido com carinho, respeito e esperança. Sua interação espontânea com as crianças, os abraços, as brincadeiras e as palavras de estímulo mostraram uma gestão que não se esconde atrás de gabinete.
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BASTIDORES DO PODER
Carla Zambelli e as voltas que o mundo dá
Teve um tempo, não muito longe assim, em que Carla Zambelli parecia absolutamente à vontade no papel de algoz. Lula estava preso em Curitiba, 2018 ainda cheirava a lava jato e camiseta verde-amarela, e ela gravou um vídeo em tom de deboche: pedia “à Polícia Federal, ao Ministério Público, ao Judiciário” que ajudassem o petista a passar o Natal em família. A solução, segundo ela, era simples:
“Deixa o Lula passar o Natal com a família dele… os filhos, bota eles na cadeia junto.”
Ria. Fazia graça. A plateia virtual aplaudia. E a cena entrava para o arquivo morto da internet, aquele porão implacável onde nada se perde — só espera a hora de voltar.
Corta para 2025. A mesma Carla Zambelli, agora não mais na moldura confortável das lives e coletivas em Brasília, mas num processo pesado no Supremo Tribunal Federal. Condenada a 10 anos de prisão por articular e comandar a invasão do sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça, em parceria com o hacker Walter Delgatti, para falsificar um mandado de prisão contra Alexandre de Moraes. Não era mais meme, não era mais tweet indignado: era sentença, voto por voto, em plenário.
Às vésperas do Natal de 2025, Carla Zambelli continua atrás das grades na Itália, numa cela distante das câmeras que um dia lhe deram tanta projeção. Em vez do cenário de guerra cultural das redes sociais, o que há é grade, rotina, advogado entrando e saindo, audiência marcada, audiência adiada, parecer de promotor, canetada de juiz estrangeiro. O mundo que ela imaginava controlar com frases de efeito e vídeos virais encolheu para o espaço estreito de uma prisão preventiva em país europeu.
A ironia é cruel, mas é difícil ignorá-la: aquela frase sobre “deixar o Lula passar o Natal com a família, bota os filhos na cadeia junto” volta como bumerangue. Não porque alguém tenha desejado a ela a mesma cena – família inteira atrás das grades – mas porque a vida tem dessas: às vezes, o que a gente despeja com gosto sobre o outro volta, não igual, mas parecido o suficiente para embrulhar o estômago.


