Juca Vinhedo –
A FRASE
“Imagine Bolsonaro discursando de fora do país, dizendo-se perseguido por uma ditadura. Seria péssimo para o país.”
(José Benedito da Silva, colunista da Revista “Veja”, sobre possível fuga do país, antes da prisão na Polícia Federal).
Lula lidera
A CNT/MDA jogou luz no pós-prisão de Jair Bolsonaro. A pesquisa, que já captou parte do humor do eleitorado depois do sábado turbulento, mostrou que Lula segue navegando com folga em todos os cenários de segundo turno. O impacto da detenção mexeu no tabuleiro, mas não no favoritismo do presidente. A eleição de 2026 está longe, mas o recado é claro: a direita ainda não sabe quem veste a camisa titular.
Oito cenários
Os números chegam a ser repetitivos: Lula vence Bolsonaro, Michelle, Eduardo, Tarcísio, Ratinho Jr., Zema, Caiado e até Ciro. A variação é só de margem, não de direção. O campo oposicionista aparece pulverizado, sem rumo e com dificuldade de se reorganizar no calor da crise. Falta alguém que segure o rojão.
Fila congelada
Com Bolsonaro atrás das grades, o grupo tenta respirar e olhar para 2026, mas a pesquisa deixa claro que falta musculatura. Tarcísio figura como o nome mais competitivo, mas ainda apanha de Lula. O resto, por ora, nem arranha. É a política mostrando aquela velha lição: sem liderança consolidada, pesquisa vira espelho; e o espelho não está bonito para a oposição.
Fiscal da marmita
A PF agora vira fiscal de quentinha. Por determinação de Alexandre de Moraes, as marmitas que chegarem para Jair Bolsonaro na prisão vão passar por vistoria oficial. A medida veio depois de a defesa pedir “alimentação especial” para o ex-presidente — que, ao que tudo indica, não confia nos temperos da cadeia. É o Brasil criando um novo órgão público: o Instituto Nacional de Vigilância da Marmita Política.
Ansiedade no almoço
Michelle Bolsonaro contou a aliados que está aflita com a dieta do marido. Tem medo que o cardápio da prisão piore as crises de soluço e vômito do ex-capitão. Flávio Bolsonaro reforçou o drama à imprensa, dizendo que a saúde do pai “preocupa a família”. Resumo da ópera: a casa caiu, mas a aflição do clã, por ora, é o arroz com feijão.
Golpe, Abin e PF
Enquanto a discussão gira em torno da procedência da marmita, o que pesa mesmo é a sentença: 27 anos e três meses em regime fechado. A condenação envolve liderança de organização criminosa, tentativa de golpe, uso indevido da PRF, movimentações na Abin e ataques ao processo eleitoral. O prato principal do processo é robusto — a comida, essa sim, virou acompanhamento.
Cuidado com as palavras
No rastro da prisão de Jair Bolsonaro, o deputado Paulinho da Força entrou em campo prometendo reduzir a pena do ex-presidente para dois anos por meio da tal “Dosimetria”. A ideia é transformar o antigo PL da Anistia numa versão mais palatável, embora com o mesmo objetivo. Mas falta o principal: Hugo Motta, presidente da Câmara, ainda não se comprometeu a colocar o projeto em pauta. Sem a chave da porta, todo esse barulho vira só ensaio.
Flávio na jogada
Flávio Bolsonaro articula uma manobra no plenário: convencer Motta a pautar o PL da Dosimetria e, no calor da votação, apresentar um destaque que ressuscite o texto original que, no fim das contas, concede anistia ampla ao pai. A tática é velha conhecida: muda-se o nome, ajusta-se o marketing, mas o efeito prático é o mesmo. A bancada bolsonarista aposta que, uma vez em plenário, o ambiente político engole as resistências.
Centrão: moeda de troca
Para tentar viabilizar o plano, o PL negocia diretamente com o Centrão. A oferta é simples e nada sutil: apoio nas eleições de 2026 em troca de adesão à dosimetria. A expectativa é que, com o acordo fechado, os deputados fiquem constrangidos a votar contra o projeto durante a manobra. O problema é que o Centrão só fecha negócio quando sente poder, e, com Bolsonaro preso e Ramagem foragido, a moeda do PL perdeu parte do valor. A briga promete ser pesada.
Barrado na Portaria
A Portaria 1.104/2024 da PF virou muro entre Bolsonaro e seus aliados. O governador Tarcísio de Freitas, que já estava ajeitando a gravata para a visita, deu de cara com a regra: só entra família e advogado. O jogo político que Bolsonaro mantinha a pleno vapor na prisão domiciliar agora está na base da mímica: ninguém chega perto para combinar o roteiro de 2026.
Visita cronometrada
A portaria é dura: familiares só podem ver Bolsonaro às terças e quintas, por 30 minutos, um de cada vez. Nada de foto dos “três mosqueteiros”. Cada filho entra sozinho e sai rápido. Foi assim com Flávio e Carlos, sob autorização expressa de Moraes, seguindo a norma ao pé da letra. A PF virou relógio suíço: chegou, falou, abraçou, acabou.
No controle remoto
Tecnicamente, Alexandre de Moraes poderia flexibilizar tudo, mas não mexeu em nada. Está aplicando a portaria como evangelho. Para advogados, o horário é outro, mas também com tempo contado. O resultado é simples: Bolsonaro isolado, sem articulação política e sem aquele vaivém de aliados que sustentava seu tabuleiro. Quem quiser vaga na disputa de 2026 vai ter que fazer fila… do lado de fora.
Cadeiras vazias
A sanção da nova faixa de isenção do IR, que deveria ser foto oficial de harmonia institucional, virou palco de ausências calculadas. Hugo Motta e Davi Alcolumbre simplesmente não apareceram. Não foi descuido: foi sinalização. Os dois presidentes do Congresso resolveram mostrar que estão de mau humor com o Planalto, e que sabem usar a agenda oficial como mensagem.
Em ebulição
Hugo Motta chegou no limite com o governo durante a novela do PL Antifacção. A treta começou com Gleisi chamando o texto de “lambança legislativa” e escalou quando Lindbergh Farias resolveu cutucar a relatoria de Derrite e o próprio Motta. Resultado: rompimento declarado e clima de pedreira na relação com o PT. A ausência na cerimônia do IR foi só o capítulo mais vistoso de um mal-estar que já virou campanha.
Alcolumbre ferido
Davi Alcolumbre, por sua vez, não engoliu a escolha de Lula pelo advogado-geral Jorge Messias para o STF. O presidente do Senado fazia lobby firme por Rodrigo Pacheco e esperava gratidão, ou, pelo menos, comunicação prévia. Não teve nem uma coisa nem outra. A resposta veio na forma de ameaça silenciosa: “Vou mostrar ao governo o que é não ter o presidente do Senado como aliado”. O recado está dado. Agora, é esperar os próximos capítulos dessa queda de braço.
Ramagem na lista
Alexandre de Moraes determinou que o nome do deputado Alexandre Ramagem entre no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões. É a formalização do óbvio: o parlamentar está condenado e deveria estar preso. O detalhe é que o Brasil procura o corpo, mas o corpo está passeando nos Estados Unidos. A Justiça corre no papel; Ramagem corre no mapa-múndi.
Pelas bordas
Segundo a PF, a saída foi no estilo filme B: Ramagem teria ido até Boa Vista, atravessado a fronteira por algum país vizinho e voado para os EUA longe dos radares. A operação coincidiu justamente com o fim do julgamento da trama golpista. Não foi turismo – foi estratégia. E estratégia com cheiro de fuga programada.
Mandato por teleconsulta
Mesmo longe e condenado, Ramagem mantém mandato enviando atestados à Câmara para trabalhar remotamente. É o parlamentar 5G: não pisa em Brasília, não enfrenta a pena, mas segue como se estivesse tudo em ordem. A inclusão no BNMP deixa claro que o cerco jurídico apertou. Agora falta a parte difícil: trazer o deputado de volta ao CEP brasileiro.
Precedente Zambelli
Os bolsonaristas da Câmara entraram em campo para tentar evitar que Alexandre Ramagem perca o mandato de imediato, como determinou Alexandre de Moraes. A estratégia é simples: usar o “caso Carla Zambelli” como colchão jurídico e político. Como a Câmara demorou para executar a cassação dela, a oposição agora tenta repetir o filme, desta vez para ganhar tempo enquanto Ramagem segue foragido nos EUA.
Motta no tiroteio
O presidente da Câmara, Hugo Motta, virou peça-chave da manobra. Ele não disse nem sim, nem não; ficou naquele clássico “vou analisar quando chegar”. O silêncio calculado reforça a ideia de que Motta está medindo forças entre PL, PT e centrão antes de qualquer movimento. A ordem de Moraes é clara: execução imediata e meramente formal. Mas, na política, formalidade nunca foi sinônimo de pressa.
Plenário como escudo
Aliados de Bolsonaro querem empurrar o caso para o plenário, repetindo a jogada feita com Zambelli. Já o PT pressiona pela aplicação automática do artigo 55 da Constituição: trânsito em julgado, perde-se o mandato, ponto. No entorno de Motta, a avaliação é cumprir o rito constitucional para evitar desgaste institucional. Mas a prisão de Bolsonaro e a fuga cinematográfica de Ramagem deixaram o ambiente tão inflamado que qualquer decisão agora vale muito mais do que parece.
Calendário-armadilha
A marcação da sabatina de Jorge Messias para 10 de dezembro caiu como bomba no Planalto. Para aliados de Lula, Davi Alcolumbre montou uma armadilha elegante: deu pouco mais de duas semanas para o AGU conversar com os 81 senadores e tentar garantir votos. O governo chama o calendário de “dramático”. E, convenhamos, no Senado ninguém gosta de correr… só quando interessa.
Messias em maratona
Jorge Messias começou uma romaria no Congresso para angariar apoio. Está conversando com quem pode, com ajuda de André Mendonça e Jaques Wagner. Mas o presidente da Casa, que é quem realmente importa, simplesmente não o recebeu. O curioso é que Alcolumbre marcou a sabatina antes mesmo de chegar a documentação formal do Planalto. Recado mais claro do que esse não existe: o desgaste político virou método.
Queda de braço
A tensão subiu de vez depois que Lula escolheu Messias, contrariando o nome preferido de Alcolumbre, Rodrigo Pacheco. Agora, o Planalto admite que o presidente terá que entrar pessoalmente na negociação para virar votos. Jaques Wagner já avisou que não existe sabatina tranquila: o placar costuma ser apertado e o clima, pesado. A equação é simples: sem Alcolumbre, Messias entra mancando na CCJ; com Lula no jogo, vira queda de braço pública. E dezembro promete ser longo.
Reinaldo assume
Em sua primeira reunião como presidente do PL em Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja chamou a tropa para “unidade” e falou em corrigir “injustiças” contra Jair Bolsonaro. O encontro marcou sua estreia oficial à frente da sigla.
Ausências que falam
A reunião teve cadeiras vazias de peso: João Henrique Catan, crítico declarado da escolha de Reinaldo, não apareceu. Também ficaram de fora Rodolfo Nogueira e Marcos Pollon, que seguiram para Brasília após a prisão de Bolsonaro.
Disputa interna
Enquanto Reinaldo fala em união, o PL vive um xadrez eleitoral: Rodolfo tenta lançar a esposa ao Senado; Pollon sonha com o governo, apesar de o partido já ter prometido apoiar Eduardo Riedel. A harmonia pregada no discurso ainda parece distante da realidade.
Palanque solo
Lideranças do MDB já definiram: se Simone Tebet decidir disputar o Senado por Mato Grosso do Sul, ela terá um palanque próprio, sem o apoio oficial do partido. A orientação é clara: nada de dividir palco com Lula no Estado.
Rixa antiga
Segundo emedebistas, o caminho foi definido há mais de seis meses. O impasse não é pessoal com Simone, mas político: a cúpula estadual não aceita alinhar-se ao presidente. Enquanto isso, o MDB mantém firme o apoio à reeleição de Eduardo Riedel.
Jogo nacional em aberto
Simone ainda aguarda a posição de Lula para decidir se concorre por MS ou atende ao apelo de aliados que a querem candidata em São Paulo. Apesar da pressão do PT por uma dobradinha no Estado, ela tem sinalizado que, se entrar na disputa, será marchando ao lado de Riedel, e não dos petistas.
Presente de aniversário
No dia 20 de dezembro, Dourados ganha um presente histórico: a inauguração oficial do tão sonhado Hospital Regional. A nova estrutura, entregando atendimento de alta qualidade, marca um divisor de águas na saúde pública da região e reforça o compromisso do governo com a população.
Tecnologia que salva
O HRD será o primeiro hospital fora de uma capital a integrar a Rede Nacional de Hospitais e Serviços Inteligentes do SUS. A chegada da UTI Inteligente, com recursos de Inteligência Artificial e big data, promete agilizar diagnósticos e reduzir drasticamente o tempo de espera, especialmente em cardiologia e neurologia.
Alcance nacional
Dourados entra no seleto grupo de apenas 14 UTIs inteligentes do país, ao lado de grandes capitais como São Paulo, Rio e Brasília. Para a ministra Simone Tebet, a iniciativa representa um salto tecnológico que coloca o município na vanguarda da saúde pública brasileira.
Justiça seja feita
Embora muitos tenham contribuído para a conquista, é inegável que o deputado federal Geraldo Resende vive um momento de realização com a inauguração do Hospital Regional. Desde 2015, quando Reinaldo Azambuja assumiu o governo, Geraldo abraçou a causa e atuou firme para evitar que o Ministério da Saúde cancelasse o convênio herdado da gestão Puccinelli.
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BASTIDORES DO PODER
A Marquesa que movia ministros
Nos tempos do Primeiro Reinado, o Paço de São Cristóvão parecia ter duas entradas: a porta oficial, por onde passavam ministros e documentos urgentes, e a porta invisível, controlada por Domitila de Castro, a reluzente Marquesa de Santos. Era ela quem modulava, sem esforço aparente, o humor, e às vezes até as decisões de Dom Pedro I, que alternava decretos e visitas à Rua do Carmo com a mesma desenvoltura de quem troca de cavalo.
Nos bastidores, ministros e deputados viviam entre cochichos e cálculos: havia quem jurasse prever o futuro político do Império observando apenas a disposição com que o imperador voltava do sobrado de Domitila. A oposição fazia discursos moralistas; os aliados torciam para que nenhum assunto de Estado coincidisse com o auge dos suspiros imperiais. Domitila, por sua vez, sabia identificar manobras políticas com a precisão de um marechal, e não se intimidava diante de ninguém.
O romance, porém, foi crescendo junto com o desconforto da corte, até que ficou impossível separar a alcova da governança. Quando até os aliados começaram a franzir a testa, Dom Pedro percebeu que precisava fechar aquela porta invisível para manter o trono firme. Domitila deixou o Paço com discreta elegância. E entrou, definitivamente, para a galeria das personagens mais influentes da política brasileira, onde até hoje reina como soberana dos bastidores.


