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Assentamentos de MS: Comissão articula ações efetivas para implantação de rede trifásica

Falta de energia na área rural foi dos temas debatidos em reunião na ALEMS nesta quarta-feira

O produtor rural Alceu Cabral, de Jaraguari, estima prejuízo de cerca de R$ 10 mil na produção de leite e de queijo em decorrência de quedas de energia. Essa situação, que se repete com outras famílias de agricultores, foi discutida na tarde desta quarta-feira (26) em reunião da Comissão de Desenvolvimento Agrário, Assuntos Indígenas e Quilombolas, realizada no plenarinho Nelito Câmara, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS).

Proposta pelo deputado Zeca do PT, presidente da Comissão, a reunião definiu como encaminhamento a criação de um grupo de trabalho para buscar soluções efetivas, a curto ou médio prazo, para o problema da falta de energia. Entre outros pontos, esse grupo vai discutir, com a concessionária Energisa, a substituição da rede monofásica pela trifásica nos assentamentos.

“Temos que trabalhar na solução fundamentalmente para três problemas”, considerou o deputado Zeca do PT. Os problemas destacados pelo parlamentar dizem respeito à queda constante de energia — identificando, inclusive, as localidades mais afetadas e que permanecem por mais tempo sem fornecimento —, às ações concretas necessárias para substituir a rede monofásica pela trifásica e à urgência na troca de postes em regiões onde a infraestrutura já não atende às demandas dos produtores.

A discussão dessas questões será avançada por um grupo de trabalho definido durante o encontro e que se reunirá com a Energisa e com o Governo do Estado. A mudança da rede monofásica para a trifásica pode ampliar a capacidade e a estabilidade do fornecimento de energia, permitindo o uso de equipamentos agrícolas mais potentes, como bombas de irrigação, resfriadores de leite e motores de produção.

Prejuízo significativo

A melhoria no fornecimento de energia ajuda a reduzir problemas como o enfrentado por Alceu Cabral, que trabalha com produção de leite e queijos. Ele relatou, durante a reunião, as dificuldades enfrentadas pela falta de energia elétrica em sua propriedade. Ele disse que as interrupções são constantes e ocorrem mesmo em dias de clima estável. “Nossa energia é muito instável. Constantemente cai, mesmo com tempo bom. Sem vento, sem chuva, ficamos dois, três dias sem energia”, afirmou.

Cabral explicou que trabalha com câmaras frias para armazenar leite e queijos, mas, sem energia, esses equipamentos rapidamente perdem a refrigeração. “As câmaras frias, quando ficam sem luz, viram uma estufa em pouco tempo. E eu perco toda a minha produção, como já aconteceu diversas vezes”, relatou o produtor. 

O prejuízo financeiro, segundo Alceu Cabral, é significativo. Ele estima perdas em torno de R$ 10 mil, com perdas contantes, com volume, por ocorrência, de 50 a 100 litros de leite, que seriam transformados em queijo. Além disso, quando o produto já está pronto, também é comprometido pela falta de refrigeração. “Meu produto tem inspeção sanitária. Então, eu não posso vender qualquer produto. Quando a câmara esquenta, perco o leite e os queijos”, contou.

Falta de energia compromete desenvolvimento econômico

“Nós temos um problema real, concreto, constatado no dia a dia, que é o problema da queda de energia na área rural”, considerou o deputado Zeca do PT. Conforme o parlamentar, as interrupções frequentes comprometem, inclusive, o êxito de iniciativas relacionadas ao desenvolvimento econômico dos assentamentos.

O deputado afirmou que, a partir do próximo ano, está previsto o lançamento de um programa de implantação de pequenas agroindústrias nos assentamentos rurais, com recursos assegurados por emendas parlamentares dos deputados federais Vander Loubet e Camila Jara (ambos do PT). O projeto contemplará cinco segmentos de produção: frutas, leite, pão, mandioca e mel. “Se queremos agregar valor ao que a agricultura familiar produz, melhorando a renda das famílias, é fundamental garantir energia de qualidade”, afirmou.

Energisa

O gerente comercial da Energisa, Artur Gandra, falou, durante o encontro, sobre os motivos das interrupções de energia na área rural e sobre as ações que a empresa está implementando para reduzir o problema.

Segundo ele, eventos climáticos extremos têm ocorrido com maior frequência em todo o país, e Mato Grosso do Sul não é exceção. “Estamos lidando com situações climáticas cada vez mais severas. Rajadas de vento acima de 100 km/h, tempestades súbitas e outros fenômenos têm impactado a rede elétrica, especialmente em áreas rurais”, afirmou.

Reunião contou com presença de representes do Governo e da Energisa

Gandra destacou que a concessionária já desenvolve uma série de ações estruturais e tecnológicas para tornar o sistema mais resistente. Entre elas estão processos de resiliência de rede, instalação de equipamentos automáticos de restabelecimento, além de investimentos para tornar as estruturas mais robustas, capazes de suportar ventos mais fortes e minimizar danos. “O objetivo é reduzir cada vez mais o impacto dessas situações e melhorar a qualidade do fornecimento, inclusive nas localidades rurais”, enfatizou Gandra.

Poços artesianos

Durante a reunião, também entrou em pauta a Resolução 774/2022, da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semagro), que regulamenta os atos de outorga de direito de uso de recursos hídricos em Mato Grosso do Sul. O tema foi apresentado por Daniel Torres de Alencar, fiscal ambiental do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), que explicou a importância da regularização de poços e do controle do uso da água no estado.

Segundo ele, a outorga funciona como um ato administrativo semelhante ao licenciamento ambiental, porém específico para recursos hídricos. “A regularização do poço é o que chamamos de outorga. É uma forma de o Estado saber como a água está sendo utilizada e em quais condições”, afirmou. Alencar destacou que o procedimento segue as diretrizes definidas no manual de outorga estabelecido pela Resolução 774/2022.

O problema, conforme discutido na reunião, é que esta – a regularização dos poços artesianos – é uma exigência também do Banco do Brasil para a concessão de crédito aos produtores familiares. Isso tem emperrado muitas operações.

Também para buscar resolução a esse problema, foi constituído um grupo de trabalho com representantes do gabinete parlamentar, dos trabalhadores rurais, do Governo. O grupo vai tratar do assunto com a Imasul e com o Banco do Brasil.

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