Juca Vinhedo –
A FRASE
“Estão abrindo um caminho para a consolidação do crime organizado pelo país, com o enfraquecimento da Receita Federal e da Polícia Federal. Isso é um contrassenso. Agora que nós começamos a combater o andar de cima do crime organizado, você vai fazer uma lei protegendo o andar de cima do crime organizado?”
(Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, ao criticar o relatório do projeto antifacção, apresentado pelo deputado Guilherme Derrite – PP-SP)
Lula encurta distância
Pesquisa do Instituto Ranking Brasil Inteligência mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reduziu significativamente a vantagem de Michelle Bolsonaro (PL) na corrida eleitoral de 2026, em Mato Grosso do Sul. A diferença, que era de 15 pontos percentuais em março, caiu para apenas cinco neste mês. A sondagem ouviu 3 mil eleitores em 30 cidades entre os dias 1º e 8 de novembro.
Petista “vira”
O levantamento também aponta que Lula ultrapassou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nas intenções de voto. Em março, o presidente estava seis pontos atrás do paulista; agora, aparece um ponto à frente. O resultado reforça a tendência de recuperação do petista em redutos historicamente bolsonaristas.
Diferença cai
Nas simulações de segundo turno, Lula ainda perde para Jair Bolsonaro (PL), mas a distância entre ambos diminuiu de 26 para 12 pontos percentuais. A pesquisa indica que o presidente ampliou vantagem sobre outros possíveis adversários, como os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil), Ratinho Júnior (PSD) e Romeu Zema (Novo). A margem de erro do levantamento é de 1,8 ponto percentual.
Otimismo discreto
O crescimento de Lula nas pesquisas vem sendo interpretado dentro do PT como sinal de que o presidente começa a recuperar terreno fora dos grandes centros do Nordeste, especialmente no Sudeste e no Centro-Oeste. Dirigentes petistas avaliam que a tendência reflete o impacto de programas sociais retomados e o aquecimento da economia. Já na oposição, a leitura é de alerta: aliados de Bolsonaro e Tarcísio reconhecem que o avanço do petista exige
Tarcísio sem fôlego
Nos bastidores, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem esfriado os ânimos sobre uma eventual candidatura à Presidência em 2026. Embora siga visitando Jair Bolsonaro, o paulista repete a quem ouve que seu foco é a reeleição em São Paulo. Só deixaria o Palácio dos Bandeirantes se o ex-presidente pedisse pessoalmente — o que, até agora, não aconteceu.
Aliados no escuro
Enquanto Tarcísio mostra pouco apetite pelo Planalto, Jair Bolsonaro adota o silêncio estratégico. Afirma que ainda não é hora de decidir quem será o nome da direita em 2026. Mesmo assim, aliados acreditam que o governador paulista segue como o “plano A” e que há um acordo velado para o anúncio da candidatura no próximo ano, às vésperas da janela partidária.
Indefinição trava
A hesitação de Tarcísio em assumir o papel de sucessor natural de Bolsonaro tem criado um vácuo de liderança no campo da direita. Enquanto o governador paulista adota um discurso cauteloso, cresce nos bastidores o movimento em torno de Michelle Bolsonaro, vista por parte da base como alternativa capaz de manter viva a “marca Bolsonaro” em 2026. A indefinição, por ora, alimenta disputas internas e deixa o campo conservador sem um rumo claro.
Aposta em Simone
O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, reafirmou que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, deve disputar o Senado por Mato Grosso do Sul em 2026. Segundo ele, Simone “é um dos grandes e qualificados quadros do partido” e tem trajetória consolidada no Estado, onde já foi prefeita, deputada estadual, vice-governadora e senadora. Rossi avalia que uma candidatura local reforçaria sua identidade política com o eleitor sul-mato-grossense.
“Fora do Estado, não!”
Baleia Rossi ponderou que uma eventual disputa por outro Estado poderia prejudicar o futuro político de Simone Tebet. Para o dirigente, isso poderia ser interpretado como um afastamento de suas bases. Ele destacou que a ministra mantém forte atuação voltada ao desenvolvimento de Mato Grosso do Sul e que, por isso, “há grande possibilidade” de ela buscar o retorno ao Senado por seu Estado de origem.
Assédio político
Mesmo sem confirmação oficial, o nome de Simone Tebet tem despertado interesse de aliados do governo Lula. Uma ala do PT nacional defende sua candidatura ao Senado para reforçar o palanque presidencial em 2026. O assédio aumentou depois que ela apareceu liderando uma pesquisa para o Senado em São Paulo, mas o MDB nacional insiste que o destino político da ministra deve continuar sendo Mato Grosso do Sul.
Trad reage
O ex-deputado federal Fábio Trad (PT) criticou a proposta de alterações no projeto de lei que trata do combate às facções criminosas. O relator, Guilherme Derrite (PP), licenciado do cargo de secretário de Segurança de São Paulo, sugeriu retirar a Polícia Federal, o Ministério Público e o Gaeco das investigações sobre organizações como o PCC e o Comando Vermelho. Trad classificou a medida como um retrocesso e afirmou que há “caroço nesse angu”.
Papel da PF
Após críticas, o relator Guilherme Derrite recuou parcialmente e propôs que a Polícia Federal continue atuando no enfrentamento às facções, mas mediante autorização prévia dos governadores. Para Fábio Trad, a exigência vai na contramão da estratégia nacional de combate ao crime organizado e enfraquece uma das instituições mais respeitadas do país na área de segurança.
“Causou estranheza”
Fábio Trad também questionou a decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), de designar Derrite, secretário estadual e opositor declarado do governo Lula, como relator da proposta. O ex-deputado considerou incomum a escolha de um membro licenciado do Executivo paulista para conduzir um projeto de relevância nacional, quando há mais de 500 parlamentares em exercício no plenário.
“Bangue-bangue” legislativo
O deputado Marcos Pollon (PL-MS), conhecido por sua defesa ferrenha do armamentismo, voltou à carga com três projetos que ampliam o porte de armas para produtores rurais, empresários e motoristas. A proposta soa mais como um aceno ideológico do que uma solução prática para a violência. Em vez de fortalecer as forças de segurança, o parlamentar aposta na lógica do “cada um por si”, incentivando o aumento de armas em circulação, justamente o que especialistas apontam como fator de risco, não de proteção.
Populismo na mira
As novas investidas de Pollon em favor do porte de armas miram categorias numerosas e economicamente ativas, o que revela o evidente viés eleitoral das propostas. Em nome da “autodefesa”, o deputado tenta reaquecer a agenda bolsonarista do armamento civil, que já mostrou seus efeitos nocivos: aumento de acidentes domésticos, feminicídios e conflitos interpessoais. Segurança pública se faz com política de Estado, não com projetos de lei que transformam cidadãos em vigilantes armados.
Contradições e gatilhos
O mesmo deputado que protagonizou um motim na Mesa Diretora da Câmara, em agosto, e depois disse “não saber o que estava acontecendo” por ser autista, agora propõe armar parte da população. A incoerência é gritante: quem admite dificuldade para lidar com situações de estresse defende liberar armas para milhões de pessoas? A retórica de Pollon reforça o radicalismo e desvia o foco de políticas sérias de prevenção e inteligência policial, o que de fato reduziria a criminalidade.
Maioria com conservadores
A maioria dos deputados federais de Mato Grosso do Sul votou favoravelmente ao projeto que revoga a resolução do Conanda e restringe o aborto legal, mesmo em casos excepcionais, como estupro e risco de vida. Entre os favoráveis estão Beto Pereira (PSDB), Luiz Ovando (PP), Marcos Pollon (PL) e Rodolfo Nogueira (PL). O placar nacional foi de 317 votos a 111, com o projeto avançando na Câmara.
Divisão marca votos
A bancada sul-mato-grossense mostrou divisão entre partidos aliados do governo estadual. Camila Jara (PT), Dagoberto Nogueira (PSDB) e Geraldo Resende (PSDB) votaram contra o projeto, alinhando-se a movimentos em defesa dos direitos das mulheres. Vander Loubet (PT) não votou por motivos de saúde. A divergência interna, especialmente entre tucanos, expõe diferenças de posicionamento dentro das legendas de centro.
Desembargadores no radar
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu processos administrativos disciplinares contra os desembargadores Marcos José de Brito Rodrigues e Sideni Soncini Pimentel, ambos do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. As investigações apontam suspeitas de vantagens ilícitas e movimentações financeiras ligadas à compra e venda de gado. O procedimento foi aprovado por unanimidade e pode resultar em sanções, como aposentadoria compulsória.
Gado na mira
Segundo o relator do caso, ministro Mauro Campbell, há indícios de que as aquisições de bovinos e insumos agropecuários pelos magistrados teriam sido usadas para mascarar recebimento de recursos ilícitos. No voto, Campbell destacou a existência de pagamentos em espécie e operações sem lastro bancário, consideradas “sinais robustos” de dissimulação patrimonial.
Não barra processo
Embora o desembargador Sideni Pimentel tenha se aposentado antes do julgamento do CNJ, o conselho decidiu manter a abertura do processo administrativo. A defesa argumentou que o magistrado se retirou voluntariamente para não interferir nas investigações, mas o órgão entendeu que a apuração deve continuar, uma vez que os fatos sob suspeita ocorreram durante o exercício da função.
Ultima Ratio
As suspeitas contra os desembargadores de MS têm origem na Operação Ultima Ratio, da Polícia Federal, deflagrada em 2023. A investigação apura um suposto esquema de venda de decisões judiciais envolvendo magistrados, advogados e lobistas. Em buscas realizadas na época, foram apreendidos cerca de R$ 3 milhões em espécie na residência de um desembargador aposentado. O inquérito segue sob relatoria do Superior Tribunal de Justiça.
Energia mais barata
A redução na conta de luz ajudou a segurar a inflação em outubro. O IPCA ficou em 0,09%, o menor resultado para o mês desde 1998. Segundo o IBGE, o recuo de 2,39% na energia elétrica residencial foi determinante para o índice. A migração da bandeira tarifária vermelha patamar 2 para o patamar 1 reduziu a cobrança adicional nas contas e impactou diretamente o custo de vida das famílias.
Inflação abaixo de 5%
Com o resultado de outubro, o IPCA acumulado em 12 meses caiu para 4,68%, voltando a ficar abaixo de 5% pela primeira vez desde fevereiro. Ainda assim, o indicador segue acima do limite superior da meta do governo, de 4,5%. Se não fosse a redução na energia, a inflação do mês teria sido de 0,20%, segundo o IBGE.
Arroz e leite em queda
O grupo de alimentação e bebidas apresentou estabilidade em outubro, com variação de apenas 0,01%. O comportamento foi puxado pela queda nos preços do arroz (-2,49%) e do leite longa vida (-1,88%), que compensaram altas da batata-inglesa (8,56%) e do óleo de soja (4,64%). Foi a menor variação para o mês de outubro desde 2017.
No alto escalão
O governador Eduardo Riedel (PP) reuniu-se com lideranças da Assembleia Legislativa para discutir, entre outros temas, a vacância no Tribunal de Contas do Estado (TCE/MS). O encontro contou com a presença do ex-governador Reinaldo Azambuja (PL) e serviu para alinhar os próximos passos sobre a sucessão do conselheiro Jerson Domingos, que se aposentou recentemente.
Influência política
A articulação em torno do nome de Sérgio de Paula para o Tribunal de Contas é vista como mais um sinal da coesão do grupo político que governa Mato Grosso do Sul desde 2015. A aliança entre Eduardo Riedel e Reinaldo Azambuja continua a ditar o ritmo das principais decisões no Estado, garantindo governabilidade e preservando influência sobre os espaços estratégicos.
Reorganizando o ninho
O futuro presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, deve reunir os três deputados federais tucanos de Mato Grosso do Sul – Beto Pereira, Dagoberto Nogueira e Geraldo Resende – para definir os rumos do partido após a saída de Reinaldo Azambuja para o PL. Aécio afirmou ter conversado com o ex-governador e garantiu que o PSDB “não acabou” no Estado, destacando que ainda há lideranças dispostas a reorganizar a sigla.
Beto pode assumir
Nos bastidores, o nome do deputado Beto Pereira é cotado para assumir a presidência estadual do PSDB até fevereiro. Dagoberto não tem interesse em disputar o comando, enquanto Geraldo Resende tenta costurar sua permanência. O acordo, articulado por Reinaldo Azambuja e o governador Eduardo Riedel, prevê que Beto fique à frente do partido com apoio do deputado estadual Pedro Caravina, que pode ocupar a vice-presidência.

BASTIDORES DO PODER
Pedra sob suspeita
Era uma tarde nublada quando Vargas decidiu subir a serra para Petrópolis — passeio de lazer, dir-se-ia, com a esposa Darci e um ajudante de ordens. Mas a serra, caprichosa e abrupta, tinha outros planos: no dia 25 de abril de 1933, um bloco de pedra rolou da montanha, atravessou a capota do automóvel presidencial e acertou em cheio o ajudante de ordens, levando-o à morte instantânea.
Vargas e a primeira-dama ficaram feridos — ele com fraturas, ela com gravidade ainda maior. Nesse momento, a figura pública que tratava de decretos, discursos e aparições, viu-se reduzida a um homem imobilizado, tentando conter a dor e o espanto nas montanhas da Floresta da Tijuca.
Nos corredores do poder, esse acidente virou tema de sussurros: “Será que foi atentado ou fatalidade?”, perguntavam uns; outros comentavam que até as rochas daquela serra deixavam sinais de que a política era terreno escorregadio. Vargas, ali, não era só presidente: era passageiro vulnerável, sob o risco literal de uma pedra suspeita.
Hoje, a pedra que atingiu o automóvel está preservada no acervo do Museu Imperial, em Petrópolis, sendo testemunha silenciosa de que até o homem que parecia subir sozinho ao poder pode ser soterrado por uma pedra que ele jamais viu chegar.

