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‘Grande patifaria’, sem perdão, ‘fator Contar’, valentia arrefecida, Marçal inclusivo e indígenas

A FRASE

 “As pessoas têm o direito de falar o que quiserem – inclusive idiotices.”
(Zeca do PT, deputado estadual e ex-governador, em plenário da Assembleia Legislativa de MS, ao rebater críticas de opositores durante o “repúdio ao repúdio”.)

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Juca Vinhedo –

Anistia sem perdão

A tentativa de transformar os atos de 8 de janeiro em “exageros perdoáveis” não vem convencendo a opinião pública. Pesquisa Genial/Quaest mostra que 47% dos brasileiros rejeitam qualquer tipo de anistia aos condenados pelos ataques golpistas, e esse número só cresce. Outros 35% defendem o perdão geral, inclusive a Bolsonaro, e 8% aceitariam aliviar apenas os manifestantes. Ou seja: a tese do “erro coletivo” não colou. o país não esquece quem tentou incendiar a democracia.

Dosimetria na corda bamba

Nem Michel Temer nem Aécio Neves conseguiram vender a ideia de que as penas foram “pesadas demais”. O chamado PL da Dosimetria, que busca reduzir as condenações impostas aos golpistas, enfrenta rejeição de 52% dos entrevistados. Só 37% apoiam a proposta, alegando excesso nas punições. Parece que a sociedade, cansada de impunidade seletiva, não quer saber de “meias-penas”, e vê nesse projeto mais um capítulo da velha novela: o perdão aos de sempre.

Mobilização gelada

O ato pró-anistia na Esplanada tentou esquentar, mas ficou morno. Mesmo com anúncios e convocações de peso, como as do pastor Silas Malafaia e parlamentares bolsonaristas, o evento admitiu logo no início que teve adesão reduzida. Um dos comunicadores subiu no trio elétrico e disse: “sabemos que é uma terça-feira, não esperávamos milhares”. O que era pra mostrar força virou sintoma de fim de festa.

‘Cabe num fusca’

No ápice da manifestação, estima-se que cerca de 2.080 pessoas participaram do ato em Brasília. Número que, para os padrões de mobilização política bolsonarista, representa um público “flopado”. A baixa presença jogou água fria nas pretensões de impulsionar o projeto de anistia e reforçar a narrativa de apoio popular.

Curto circuito

O tropeço da manifestação obrigou aliados de Bolsonaro a fazerem contorcionismos retóricos. Um dos organizadores admitiu em carro de som que não esperava “milhares de pessoas”, e que a ideia era “mandar mensagem” aos parlamentares, não lotar a Esplanada. O discurso oficial caiu para “ato simbólico”, como se força política se medisse em megafonia, não em presença real.

Recuando, recuando…

Se por trás dos palanques havia garantia de engajamento, a prática mostrou o contrário. Parlamentares do centrão e alguns deputados que vinham ensaiando apoio estratégico à anistia já ensaiam recuos discretos. A baixa presença no ato fragiliza o argumento de apelo popular para empurrar o projeto no Congresso, e pode transformar aliados em observadores cautelosos.

PEC enterrada

A famigerada PEC da Blindagem, aprovada na Câmara, morreu de overdose de rejeição no Senado. A proposta, que limitava a atuação do STF e do Ministério Público e dificultava a prisão de parlamentares, foi reprovada por 63% dos brasileiros. Apenas 22% apoiaram a ideia. As manifestações contrárias tomaram as ruas e, segundo a pesquisa, até deram fôlego novo a Lula: 39% acham que ele saiu mais forte da polêmica. Pelo visto, o povo não quer blindagem: quer responsabilidade.

Valentia arrefecida

Conhecido por seu entusiasmo armamentista e por se apresentar como defensor da “liberdade”, o deputado Marcos Pollon (PL-MS) agora parece ter trocado o coldre pela cautela. Depois de dois processos abertos no Conselho de Ética da Câmara, o parlamentar divulgou nota dizendo que as punições “enfraquecem a democracia”. O tom, antes inflamado, deu lugar a uma retórica institucional e cuidadosamente medida: quase um “tiro de festim”.

Do discurso ao desconcerto

Um dos processos é fruto de um discurso pró-anistia feito em Campo Grande, em agosto, fora do ambiente da Câmara. Pollon afirma que estava apenas exercendo seu direito de manifestação. O problema é que o gesto, somado à ocupação do plenário da Câmara, pesou na balança do Conselho de Ética. O parlamentar, que gosta de posar de destemido, agora fala em “ato legítimo de debate político” e na “integral proteção constitucional da palavra”. A coragem segue firme, desde que com prazo de suspensão contado.

Autodefesa desarmada

Quando o cerco apertou, Pollon, que é CAC assumido, apelou para um argumento inusitado: disse que, por ser autista, “não tinha plena compreensão” do que ocorria durante o motim no plenário. A explicação causou espanto até entre aliados. De atirador confiante a parlamentar confuso, o deputado tenta transformar o episódio em mal-entendido. No fim, o discurso de “valentia patriótica” parece ter ficado no gatilho da conveniência.

Temporada de números

Começou o período em que pipocam pesquisas para todos os gostos e, muitas vezes, para todos os lados. Cada instituto com sua régua, cada pré-candidato com sua versão da “verdade estatística”. É a fase em que todo mundo está na frente e ninguém quer ficar atrás. Por isso, toda pesquisa merece leitura cautelosa, sobretudo quando os resultados destoam tanto entre si. O eleitor ainda está distante da urna, e o cenário político, em ebulição.

O Fator Contar

Se pesquisa divulgada nesta terça-feira (7) estiver correta, há um dado que merece atenção: o ex-deputado Capitão Contar (PRTB) está mostrando força na pré-candidatura ao Senado, para as eleições do ano que vem. Com 25,5% no “primeiro voto” e 21,56% no cenário geral, o ex-candidato ao governo aparece colado no ex-governador Reinaldo Azambuja (PL). É um desempenho que poucos previam e que, se mantido, pode quebrar a hegemonia do grupo político que domina o Estado há quase uma década.

Desafio da retomada

Já Reinaldo Azambuja, com 21,56%, ainda lidera, mas com uma margem apertada e um campo adversário mais pulverizado. O ex-governador, que busca um retorno pela porta do Senado, carrega o peso de oito anos de governo e o ônus natural do desgaste. Ainda tem musculatura política e base consolidada, mas o cenário indica que o eleitor sul-mato-grossense está disposto a ouvir outras vozes.

Pedras no tabuleiro

De acordo com a mesma sondagem do Instituto de Pesquisa Resultado (IPR), enquanto Reinaldo Azambuja e Capitão Contar polarizam a corrida, os demais pré-candidatos tentam não ficar fora do radar. Nelsinho Trad (PSD) e Simone Tebet (MDB) mantêm desempenho razoável, com índices entre 12% e 17%, dependendo do cenário, o que os coloca como alternativas consistentes, mas ainda sem o fôlego de liderar.

Em busca da viabilidade

No mesmo levantamento, Marcos Pollon (PL) e Soraya Thronicke (Podemos), nomes fortes do campo conservador, aparecem discretos, com percentuais que giram entre 2% e 4%. Gianni Nogueira, Gerson Claro e Jaime Verruck surgem em patamares residuais, abaixo de 2%. Vander Loubet (PT), que aparece em um dos cenários com pouco mais de 5%, representa o campo petista ainda em busca de uma candidatura viável.

Repúdio em série

A sessão de terça-feira o tempo esquentou na Assembleia. Tudo começou quando Zeca do PT apresentou repúdio ao presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, e à senadora Tereza Cristina (PP), acusando-os de “bolsonarismo terraplanista” e de terem se calado diante dos desmandos do governo Bolsonaro. O petista criticou o discurso ruralista e defendeu o PAC,  e isso foi o suficiente para acender o estopim do plenário.

Coronel x ex-governador

Coronel David (PL) reagiu de pronto, apresentando um “repúdio ao repúdio” e defendendo Famasul e Tereza Cristina. Zeca não deixou barato: “Coronel é coronel lá na polícia. Aqui, não vem querer dar ordem”. A temperatura subiu e o presidente Gerson Claro (PP) precisou intervir. No fim, entre gritos e apartes, Zeca resumiu a ópera: “As pessoas têm o direito de falar a idiotice que quiserem — e eu o de responder”.

Pantaneiro vitorioso

O deputado Zeca do PT foi protagonista de outra notícia essa semana. Depois de 18 anos, anunciou que venceu, também, no Supremo Tribunal Federal (STF), a ação contra promotores do Ministério Público, a quem acusa de ter armado a “grande patifaria” da chamada farra da publicidade. O ex-governador quer agora transformar a vitória judicial em indenização de cerca de R$ 500 mil. Promete acionar a Justiça para que o Estado cobre o valor dos próprios promotores e defende o afastamento deles do MPE.

Águas turvas

Bonito, famosa pelas águas cristalinas, acordou esta semana com o nome manchado de lama. A operação “Águas Turvas”, do Gecoc, jogou luz sobre um esquema de corrupção em licitações, e o contraste não poderia ser mais simbólico. Entre os presos, Luciane Cíntia Pazette, responsável pelo setor de licitações da Prefeitura, esposa do pastor e vereador bolsonarista Pedro Aparecido Rosário, o “Pedrinho da Marambaia” (PP). O mesmo que, há poucos dias, a homenageou na Câmara, exaltando sua “legalidade e transparência”. Ironia pouca é bobagem.

Voando alto

Em apenas um mês, a Latam transportou 3.184 passageiros entre Dourados e Guarulhos — número expressivo, considerando que os voos operaram apenas três vezes por semana. A ocupação média dos voos decolando daqui alcançou 128 pessoas; no recorde, foram 136 assentos preenchidos de 144 disponíveis. O dado é prova concreta de que a demanda reprimida existia, de fato.

Conectividade que vale

Mais do que número, é símbolo de ambição bem colocada: Dourados, que ficou anos sem voos comerciais, agora reentra no mapa aéreo. O marco reforça a vocação regional do município e sinaliza que o esforço da Prefeitura para reativar o aeroporto já dá retorno. Para quem discursa em termos de desenvolvimento, logística e atratividade econômica, isso é combustível de primeira.

Inclusão garantida

O prefeito Marçal Filho anunciou a convocação de 210 professores de apoio aprovados no concurso de 2023 para atuar na Educação Especial. É um passo significativo para atender estudantes com deficiência ou necessidades especiais. Esse movimento expressa compromisso claro com a inclusão, transformando promessa em ação concreta nas salas de aula.

Alívio para a famílias

Com esse reforço, prevê-se melhora no apoio individualizado e no acompanhamento de alunos que dependem de assistência mais direta. Até hoje, inúmeros estudantes esperavam por suporte que nem sempre chegava. Ao convocar esses professores, a gestão melhora a relação entre demanda e serviço, e dá um fôlego novo para que escolas ofereçam educação mais digna para todos.

Buscando a concórdia

A Frente Parlamentar da Câmara de Dourados tem dado sinais sólidos de efetividade: avança na mediação entre comunidades indígenas e produtores rurais, com diálogos constantes e mobilização de atores nessa encruzilhada social. Essa postura de ponte merece aplausos, porque resolve tensão onde muitos preferem armar discurso.

Da pauta ao relatório

Além das conversas, a Frente já apresentou relatórios técnicos e projetos de mediação, mostrando que não quer apenas chamar atenção, mas entregar resultado. Ao unir representação política e compromisso social, os vereadores demonstram que legislar também é reconciliar, não só ostentar poder.

Manter o ritmo

Mais difícil que iniciar uma mediação é mantê-la viva. A Frente Parlamentar de Dourados acerta ao unir diálogo e sensatez, mas precisa garantir continuidade, sem deixar que o tema se perca entre discursos ou trocas de legislaturas. Construir pontes é tarefa demorada, exige persistência, paciência e menos vaidade. Por enquanto, o saldo é positivo: a Câmara mostra que, quando quer, sabe ser instrumento de paz.

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BASTIDORES DO PODER

A cabeça de burro da praça

Foi numa tarde tórrida, daquelas em que o vento briga com o corpo por cada gota d’água, que a pequena vila, que um dia se tornaria Dourados, viu nascer sua primeira maldição.

O sol ardia sem piedade quando uma nuvem de poeira se levantou no centro, dançando com folhas secas e redemoinhos de terra. Era o prenúncio da tempestade.

Minutos depois, o céu desabou: água, trovões, relâmpagos. E, entre um estrondo e outro, um raio certeiro caiu bem no meio da praça, onde estavam amarrados os burros dos colonos. Dizem que foram cerca de dez, todos fulminados no mesmo instante.

Assustados, os homens, ainda com o cheiro de enxofre no ar, decidiram cortar as cabeças dos animais e enterrá-las ali mesmo, como quem tenta encerrar o assunto antes que o medo encontre palavras. Foi um gesto prático, talvez supersticioso. O certo é que, a partir daquele dia, a praça ganhou fama de mal-assombrada. E, com o tempo, o episódio virou lenda: a de que as tais cabeças continuam ali, sepultadas sob o chão batido, espalhando azar pela cidade.

Os mais supersticiosos juram que é por isso que tantas obras públicas “não andam”, e que licitação emperra, verba evapora e projeto se perde nas gavetas de gabinete. Dizem que nada vai pra frente porque a cidade ainda carrega, bem no coração, a praga dos burros. O povo, claro, gosta de repetir a história, porque ela explica o que nem o mais detalhado cronograma consegue justificar.

O tempo passou, Dourados cresceu, o barro virou asfalto e a praça ganhou bancos, flores e wi-fi. Mas a lenda resiste, firme como poste de madeira antiga. Quando alguma promessa oficial se arrasta demais, alguém sempre repete, meio sério, meio brincando: “é a cabeça de burro que não deixa”.

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