Walter Carneiro Jr. (*) –
Na guerra das insanidades políticas, perdemos todos.
Enquanto se escolhe o “maluco favorito” — seja de direita, de esquerda, do Judiciário
e até de fora do País, a democracia, que deveria ser o único pacto inegociável no
processo de construção nacional, vai sendo relegada ao papel de coadjuvante.
O Brasil já mostrou no passado que é capaz de construir consensos. Nos anos 1980,
vivemos a redemocratização. A Constituição de 1988 firmou o pacto da liberdade. Em
1989, Lula e Collor disputaram a primeira eleição direta para presidente em quase três
décadas.
O país se dividiu, mas respeitou as regras do jogo. FHC, Mário Covas e Lula, adversários
ferrenhos no campo político, mas respeitosos nas relações pessoais, tinham clareza de
que a política é conflito, mas conflito dentro das margens da democracia e das
relações civilizadas.
Hoje, a cena é a negação desse espírito. O adversário virou inimigo. O Parlamento é
palco de sabotagem. CPIs viram instrumento de propaganda. A Constituição, quando
não ignorada, é reinterpretada como peça descartável.
O resultado é um país que já não debate. Apenas, grita.
Tiramos de cena a disputa eleitoral e colocamos no lugar a polarização afetiva.
Resultado: vivemos em campanha perpétua, sem tempo para respirar e pensar nas
soluções para os problemas reais do País.
Dias atrás, ouvi do meu pai, o ex-deputado estadual Walter Carneiro, aos 83 anos,
resumir a tragédia nacional: “Vivemos tempos em que cada um terá de escolher o seu
‘maluco’ favorito. Tem o maluco de direita, o maluco de esquerda, o maluco do
Judiciário, o maluco internacional.
Infelizmente, tive que dar razão a ele. Estamos atônitos, sem rumo, sonhando que a
sociedade exija mais racionalidade no trato com a gestão pública e menos
espetacularização performática nas redes sociais.
Vejo hoje todos defendendo convicções cegas, sem olhar para a sociedade, para o
mundo, ou para as normas da convivência democrática.
Os pilares da República estão esquecidos. Rogo a Deus que possamos retomar a
normalidade de nossas vidas.
O diagnóstico de meu pai é emblemático, duro, mas certeiro. O país parece refém de
um concurso de radicalismo. No lugar de estadistas, surgem personagens que se
vendem como encarnações da pátria, mas que, no fundo, apenas disputam a primazia
de gritar mais alto.
A democracia, que não rende espetáculo, é tratada como uma notinha de rodapé.
Mas é justamente essa rotina sem glamour — ou seja, a de respeitar regras, conviver
com adversários, aceitar limites, ouvir opiniões com as quais não concordamos sem
desqualificá-las — coisas básicas que garantem estabilidade e harmonia. É pouco?
Talvez. Mas a alternativa é o abismo, os rompimentos pessoais, as famílias
contrariadas, ou seja, a ruptura social baseada na raiva e no ressentimento.
Por isso, antes de escolhermos nossos “malucos favoritos”, seria prudente escolher o
caminho construtivo da democracia, aquele caminho que busca resolver os problemas
da desigualdade social, da educação, da saúde, da segurança, enfim, os caminhos do
crescimento econômico, da sustentabilidade e do bem-estar geral das pessoas.
A história já mostrou que insistir no atraso e no retrocesso institucional não é apenas
um erro, é uma maluquice que pouco a pouco nos inviabilizará como País.
(*) É advogado e Sec. Adjunto da Casa Civil do Governo de Mato Grosso do Sul.