José Henrique Marques –
Em entrevista exclusiva ao jornalista Lupércio Marques, da Revista Conexão Cidade, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), 52 anos, disse que “está mais do que provado que a polarização política é extremamente prejudicial para o Brasil, pois atrapalha o diálogo equilibrado e enfraquece nossa democracia. Quem perde nesse cenário é a população”, e denuncia que “enquanto muitos políticos brigam diante das câmeras e usam discursos calculados para inflamar suas bases, nos bastidores acontecem acordos obscuros”.
Na entrevista publicada hoje, na 69ª edição da Revista Conexão Cidade, e reproduzida pela Folha de Dourados, a senadora nascida em Dourados e criada em Campo Grande, diz que a política surgiu para ela como “novidade” e que, em 2018, saiu “da fila dos que reclamam e entrar na fila dos que fazem o que é certo. Foi assim que comecei a me envolver nos movimentos democráticos de rua, atuando como advogada em causas ligadas a essas iniciativas, até receber o convite para me filiar e me candidatar ao Senado Federal. Nunca foi algo que eu planejasse desde o início, mas encarei como um desafio: a oportunidade de promover as mudanças pelas quais sempre lutei pelo nosso país”.
Soraya Thronicke disse também que seu projeto político nas eleições de 2026 é buscar a reeleição e que ao logo deste mandato apresentou mais de “80 projetos de lei em áreas diversas, como economia, desburocratização judicial, proteção de mulheres, crianças e idosos, punição mais rigorosa para criminosos e combate à corrupção”.
A senadora, na entrevista, se posiciona contra o “tarifaço de Trump” e ao ataque bolsonarista às sedes dos três poderes da República em 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
Leia a seguir, a entrevista na íntegra.
Lupércio Marques – Senadora, para começar essa entrevista, gostaria que a senhora dissesse aos nossos leitores quem é Soraya Thronicke e o que motivou uma empresária e advogada bem-sucedida a ingressar na política.
Soraya Thronicke – Sou Soraya Vieira Thronicke, sul-mato-grossense, nascida em Dourados e criada em Campo Grande. Sou empresária, advogada de formação, com atuação principalmente em Direito de Família e Sucessões — área que sempre me trouxe grande realização profissional. Minha OAB continua ativa, porque advogar é uma paixão que carrego comigo, mesmo estando hoje dedicada à vida pública. Sou bisneta do Coronel Firmino Vieira de Mattos, que teve papel importante no desenvolvimento político de Dourados no século passado. Apesar dessa ligação histórica, minha família nunca teve tradição política. Por isso, a política surgiu como uma novidade, tanto para mim, quanto para eles. Encaro essa trajetória como uma missão e tenho a sorte de contar com o apoio incondicional da minha família nesse caminho.
Sou bisneta do Coronel Firmino Vieira de Mattos, que teve papel importante no desenvolvimento político de Dourados no século passado
Há muito tempo vinha me incomodando com os rumos que o país estava tomando, especialmente diante de tantos escândalos de corrupção. Percebi que apenas reclamar não bastava. Era preciso agir, ter coragem de enfrentar o sistema e fazer a diferença. Sair da fila dos que reclamam e entrar na fila dos que fazem o que é certo. Foi assim que comecei a me envolver nos movimentos democráticos de rua, atuando como advogada em causas ligadas a essas iniciativas, até receber o convite para me filiar e me candidatar ao Senado Federal. Nunca foi algo que eu planejasse desde o início, mas encarei como um desafio: a oportunidade de promover as mudanças pelas quais sempre lutei pelo nosso país.
A senhora, em sua primeira eleição, tornou-se senadora do Mato Grosso do Sul e obteve 373.712 mil votos, um percentual de 16,19% como recebeu essa vitória e como foi ser eleita senadora da República Federativa do Brasil?
Sim, foi realmente uma grande surpresa! Quando participamos de uma disputa como essa — e no meu caso, foi minha primeira eleição — é claro que buscamos a vitória. Mas diante do cenário, com tantos nomes tradicionais da política concorrendo, sabia que minhas chances eram menores, especialmente por não ter experiência prévia em cargos eletivos e não vir de uma família tradicionalmente política. Por isso, a vitória não apenas me surpreendeu, como também trouxe um senso ainda maior de responsabilidade. Representar bem aqueles que confiaram o voto em mim e, acima de tudo, todos os eleitores de Mato Grosso do Sul que merecem o melhor, tornou-se meu compromisso diário desde então.
Em 2022, a senhora foi candidata a presidente do Brasil pelo União Brasil, chegando em 5º lugar com mais de 600 mil votos. Como foi essa experiência em sua vida, particular e política?
Foi uma experiência intensa e incrível. Apesar de já ter sido eleita para o Senado Federal, a candidatura à Presidência da República trouxe desafios diferentes e ainda maiores. Aprendi muito, tive a oportunidade de conhecer de perto a realidade do Brasil de norte a sul e compreender os principais problemas enfrentados pela população. Além disso, pude perceber a grandiosidade de uma campanha presidencial, algo realmente desafiador, mas também profundamente engrandecedor. Assim como na minha eleição ao Senado, ser candidata à Presidência não foi uma escolha pessoal planejada; as circunstâncias me conduziram a isso. Sou extremamente grata por todas as oportunidades e pelos aprendizados que essa jornada proporcionou, tanto na vida política, quanto na pessoal.
“Assim como na minha eleição ao Senado, ser candidata à Presidência não foi uma escolha pessoal planejada; as circunstâncias me conduziram a isso”
Em sua campanha a presidente do Brasil qual foi o fato que mais marcou a senhora?
Muitos momentos me marcaram durante a campanha, mas o que mais me impactou foi a forma como me tornei candidata. Eu não tinha essa pretensão e fui praticamente convocada para assumir o lugar de Luciano Bivar, então candidato do União Brasil à Presidência. Assumi essa posição com muita responsabilidade, ciente de que seria um grande desafio. O segundo fato que mais me marcou foi conhecer de perto a realidade tão difícil do povo brasileiro em diversos estados. Percebi que, mais do que brigar por ideologias políticas, as pessoas querem prosperar e melhorar de vida. Quem tem fome não pode esperar — não se interessa por disputas midiáticas ou embates políticos. Quer soluções concretas e rápidas para os desafios do dia a dia.
Senadora, a senhora poderia destacar suas principais conquistas e projetos no Senado Federal?
Nesses quase sete anos de mandato, tenho trabalhado intensamente para levar o melhor para o Mato Grosso do Sul e, ao mesmo tempo, aprovar projetos que contribuam para o desenvolvimento do país. Apresentei mais de 80 projetos de lei em áreas diversas, como economia, desburocratização judicial, proteção de mulheres, crianças e idosos, punição mais rigorosa para criminosos e combate à corrupção. Além de apresentar projetos, atuo ativamente na articulação política para que essas propostas sejam aprovadas. Ao longo desses anos, conseguimos aprovar medidas que promovem o desenvolvimento econômico, avançar na reforma tributária e aprimorar leis de proteção às mulheres. Atualmente, estamos trabalhando em projetos voltados à proteção infantojuvenil na internet, combatendo a exposição abusiva e a exploração de menores. Também tenho atuado de forma combativa em Comissões Parlamentares de Inquérito, investigando crimes como os ataques antidemocráticos do dia 8 de janeiro, irregularidades em jogos online e, agora, a CPMI do INSS, que vai apurar descontos fraudulentos de pensionistas e aposentados. Mais uma vez, buscamos respostas e soluções concretas para a população brasileira.
“Tenho atuado de forma combativa em Comissões Parlamentares de Inquérito, investigando crimes como os ataques antidemocráticos do dia 8 de janeiro”
A senhora teve recentemente a frente da relatoria da CPI das BETS, seu relatório não foi aprovado, acabou em “pizza” esta CPI? A senhora foi ameaçada por alguém? O que a senhora pode nos dizer resumidamente sobre a CPI das BETS?
Não, a CPI das BETs não acabou em pizza. Quando se diz que uma CPI termina em pizza, geralmente se refere a uma investigação mal conduzida ou sem encaminhamento. No Congresso Nacional, quando o trabalho é bem-feito, os resultados são remetidos aos órgãos competentes, como Ministério Público e Polícia Federal, para que as investigações continuem. E foi exatamente isso que aconteceu com a CPI das BETs. Meu relatório, apesar de rejeitado, foi construído de forma robusta, com muitos indícios e provas de crimes graves cometidos por diversos investigados. Chegamos a indiciar 16 pessoas. Embora o relatório tenha sido rejeitado — o que, na minha opinião, foi uma decisão motivada por interesses próprios — encaminhei todos os elementos coletados para a Polícia Federal, Ministério Público, Ministério da Justiça e outras autoridades competentes, garantindo o prosseguimento das investigações. Fiz minha parte, lutei até o fim praticamente sozinha. Portanto, se houve pizza, a pizzaiola definitivamente não fui eu.
Na sua opinião o tarifaço de Donald Trump em relação ao Brasil é puramente econômico ou também é político?
A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros é desproporcional e possui motivação mais política do que técnica. Essa decisão prejudica não apenas o Brasil, mas também os próprios norte-americanos, que, ao adotarem práticas protecionistas, caminham para o isolamento e penalizam parceiros comerciais. Embora Donald Trump se apresente como liberal, medidas como essa vão na contramão do livre mercado e certamente trarão prejuízos para os Estados Unidos. O mercado internacional se reorganizará, enquanto a economia norte-americana tenderá a enfrentar limitações. Quando tentam nos impor limites, é exatamente nesse momento que devemos enxergar oportunidades de crescimento, fortalecimento e independência. O Brasil tem capacidade, competência e resiliência para virar esse jogo e transformar desafios em conquistas.
“Embora Donald Trump se apresente como liberal, medidas como essa vão na contramão do livre mercado e certamente trarão prejuízos para os Estados Unidos”
Como a senhora avalia o papel do Mato Grosso do Sul na integração econômica com países vizinhos, como Paraguai, Bolívia e Chile, especialmente com o avanço da Rota Bioceânica?
Sempre fui uma grande defensora do desenvolvimento logístico de Mato Grosso do Sul, por estarmos no coração da América do Sul, fazendo fronteira com dois países e divisa com cinco estados brasileiros. Nossa posição geográfica é privilegiada e deve ser aproveitada como um motor de crescimento econômico. A Rota Bioceânica é um instrumento estratégico para essa integração com os vizinhos, permitindo escoar nossa produção, aquecer o mercado brasileiro e promover o desenvolvimento de toda a região. Acredito que a Rota Bioceânica representa uma oportunidade real de acelerar o progresso logístico e econômico, e o Mato Grosso do Sul tem um papel fundamental nesse processo.
Quais são suas propostas para fortalecer o agronegócio no estado sem comprometer o meio ambiente, especialmente no Pantanal e no Cerrado?
O primeiro passo é desmistificar a ideia de que desenvolvimento e preservação ambiental são incompatíveis. Com o avanço das novas tecnologias, o agronegócio brasileiro — que sempre foi a força motriz do país — pode crescer de forma sustentável, equilibrando produtividade e respeito às normas ambientais, que são rigorosas e essenciais. É possível desenvolver nossa agricultura e pecuária sem comprometer áreas sensíveis, como o Pantanal e o Cerrado, garantindo geração de riqueza, empregos e proteção ambiental para as próximas gerações.
“É possível desenvolver nossa agricultura e pecuária sem comprometer áreas sensíveis, como o Pantanal e o Cerrado”
Como a senhora enxerga a polarização política no Brasil? Qual o caminho para um diálogo mais construtivo no Congresso Nacional?
Está mais do que provado que a polarização política é extremamente prejudicial para o Brasil, pois atrapalha o diálogo equilibrado e enfraquece nossa democracia. Quem perde nesse cenário é a população. Enquanto muitos políticos brigam diante das câmeras e usam discursos calculados para inflamar suas bases, nos bastidores acontecem acordos obscuros. A população deveria olhar mais para ações reais dos seus representantes: os projetos aprovados, os recursos enviados, a execução correta das políticas públicas e a fiscalização. É isso que realmente impacta a vida das pessoas, e não discursos inflamados ou brigas ideológicas. Só avançaremos enquanto país quando houver união em torno de propósitos comuns, respeitando opiniões divergentes, mas trabalhando juntos em temas essenciais, como a economia. Se a economia vai mal, toda a estrutura social do país sofre. E é nisso que todos deveríamos focar.
Qual a sua posição sobre a reforma tributária e seus impactos para empresas e para a população sul-mato-grossense?
Sempre fui a favor de uma reforma tributária, inclusive durante minha campanha à Presidência da República. O carro-chefe das minhas propostas era o Imposto Único — uma reforma equilibrada, inteligente e revolucionária, em que a tributação seria essencialmente feita sobre a movimentação financeira. Ou seja: quem ganha e movimenta mais, paga mais; quem está na base da pirâmide, paga menos. A reforma que foi aprovada, no entanto, não atende completamente a esse equilíbrio, e por isso critiquei o texto-base e apresentei emendas importantes para tornar o sistema tributário mais justo. Apesar das ressalvas, considero que sua aprovação era necessária para o momento. Trata-se de um tema complexo, e acredito que será preciso retornar a ele constantemente, aprimorando e ajustando conforme surgem novas demandas para garantir um sistema tributário mais justo e eficiente para todos os brasileiros, incluindo o povo de Mato Grosso do Sul.
Quais são suas propostas para melhorar a infraestrutura logística do MS e aumentar a competitividade do estado no mercado internacional?
Sou uma grande defensora do desenvolvimento logístico de Mato Grosso do Sul e um dos modais com mais potencial, que por muitos anos ficou negligenciado, é o aquaviário. Desde o início do meu mandato, participo de reuniões com setores de interesse e autoridades nacionais e internacionais para tratar do desenvolvimento logístico aquaviário, da reestruturação e reabertura de portos, e da integração das hidrovias brasileiras com países vizinhos. O objetivo é levar soluções viáveis que reduzam os custos logísticos das produções brasileiras, já que a navegação é o meio de transporte mais barato e, ao mesmo tempo, causa impacto ambiental muito menor, permitindo transportar grandes volumes com menos combustíveis poluentes. Recentemente, participei da consulta pública do projeto de concessão da Hidrovia do Rio Paraguai, a primeira iniciativa no Brasil, a convite do Ministério de Portos e Aeroportos. O processo está avançando rapidamente e, em breve, comemoraremos a integração do trecho sul da hidrovia, entre Corumbá e Porto Murtinho, fortalecendo ainda mais a competitividade do Mato Grosso do Sul no mercado internacional.
“meu objetivo é disputar a reeleição ao Senado Federal, para continuar trabalhando pelo povo sul-mato-grossense”
Quase finalizando esse bate papo, qual o futuro político de Soraya Thronicke?
Não posso prever com exatidão meu futuro político, pois a política é dinâmica e os ventos podem mudar destinos. Mas posso compartilhar meus desejos e planos atuais: meu objetivo é disputar a reeleição ao Senado Federal, para continuar trabalhando pelo povo sul-mato-grossense com a mesma dedicação que tenho demonstrado ao longo destes anos. Oito anos de mandato parecem muito, mas, na prática, podem ser pouco para aprovar projetos, realizar obras importantes, melhorar a saúde, a educação, a segurança, a infraestrutura e cuidar das pessoas. Por isso, meu desejo é fazer cada vez mais pelo nosso estado. Independentemente do que o futuro político reserve, meu compromisso com Mato Grosso do Sul e com sua população vai além do cargo de senadora. Como cidadã, desejo o melhor para nosso estado e continuarei lutando para que seja mais próspero e melhor para todos.
“Sou uma grande admiradora do governador Eduardo Riedel, pois acompanho de perto o trabalho realizado por sua gestão”
Sua avaliação do governador Eduardo Riedel?
Sou uma grande admiradora do governador Eduardo Riedel, pois acompanho de perto o trabalho realizado por sua gestão. Temos formado uma parceria sólida, trabalhando juntos pela população e garantindo que os recursos destinados pela Bancada Federal sejam aplicados da melhor forma possível. Confio na capacidade e no compromisso do governo com a população e, por isso, boa parte das minhas emendas é destinada ao Executivo estadual. Minha avaliação sobre o governador é, sem dúvida, a melhor possível, pelo trabalho sério e comprometido que tem desenvolvido em Mato Grosso do Sul.
Senadora, em nome da Revista Conexão Cidade agradeço sua entrevista e deixo aberto o espaço para senhora nos deixar uma mensagem a cidade de Campo Grande que comemora 126 anos.
Agradeço a todos os campo-grandenses e desejo o melhor para esta cidade tão querida, que me acolheu sempre tão bem. Tenho verdadeira paixão por Campo Grande, onde cresci, estudei, me casei, constituí família e vivo momentos de grande felicidade. Que os próximos 126 anos sejam de mais progresso, desenvolvimento e oportunidades. Nos próximos anos, estarei aqui, trabalhando ainda mais para colaborar com o caminho de prosperidade para todos que moram, trabalham ou visitam nossa Capital Morena. Parabéns, Campo Grande!