O Brasil está vivendo um dos anos mais críticos em termos de segurança digital. Em apenas seis meses de 2025, o governo federal já contabilizou cerca de 5 mil ataques cibernéticos contra órgãos e sistemas da administração pública.
O dado, divulgado pelo painel do Centro de Prevenção, Tratamento e Resposta a Incidentes Cibernéticos de Governo (CTIR Gov), reforça o alerta sobre as vulnerabilidades das redes governamentais diante de criminosos cada vez mais sofisticados.
- Quase 5 mil incidentes em meio ano
- Como agem os cibercriminosos
- O ataque milionário via Pix
- O desafio de proteger o Estado digital
- O que pode ser feito
Além do número expressivo de ocorrências, o país ainda enfrenta as consequências do maior ataque hacker da sua história: o desvio bilionário via Pix investigado pela Polícia Federal. As ameaças, que vão de vazamento de dados a fraudes financeiras em larga escala, mostram que o cenário exige mais do que nunca medidas robustas para proteger os sistemas públicos e a economia nacional.
Quase 5 mil incidentes em meio ano

De janeiro a julho de 2025, o CTIR Gov já registrou 4,8 mil ataques cibernéticos, uma média de 26 por dia. Do total, cerca de 3 mil episódios envolveram vazamento de dados, revelando a fragilidade na proteção de informações pessoais e estratégicas.
Em comparação, 2024 havia encerrado com 9,8 mil ocorrências, o maior índice desde 2021, quando a série histórica começou a ser compilada. Em 2023, primeiro ano do atual governo, os incidentes chegaram a 4,9 mil ao longo de 12 meses — um número que, em 2025, praticamente já foi atingido apenas no primeiro semestre.
O CTIR Gov, gerido pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), não divulga quais órgãos ou ministérios foram atingidos, mas considera como incidente qualquer evento adverso, confirmado ou suspeito, que comprometa a integridade, confidencialidade ou disponibilidade dos sistemas de rede do governo federal.
Como agem os cibercriminosos
Segundo o painel, os tipos de ataque mais comuns envolvem abuso de websites, invasão de contas de e-mail e criação de páginas falsas para captura de dados pessoais. Entre os principais estão:
- Abuso de sítio web: desfiguração de páginas oficiais ou invasão de servidores.
- Abuso de e-mail (SMTP): uso indevido de contas para envio de mensagens maliciosas.
- Página falsa (phishing): clones de sites legítimos para roubar senhas e informações bancárias.
- Scan: varreduras não autorizadas em redes para identificar brechas.
- Software vulnerável: exploração de sistemas sem atualização.
- Vazamento de dados: exposição indevida de informações na internet.
A prática de ataques do tipo DRDoS (Distributed Reflection Denial of Service) e falhas em criptografia também aparecem como pontos críticos monitorados pelo CTIR Gov.
O ataque milionário via Pix
Em meio ao aumento dos ataques, o Brasil também assiste à investigação de um crime sem precedentes: um ataque hacker que drenou milhões via Pix em poucos minutos a partir de contas reserva no Banco Central.
O esquema, investigado pela Polícia Federal, envolveu invasão aos sistemas da C&M Software, empresa intermediária que integra instituições financeiras ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Com uso de credenciais legítimas de clientes da empresa, os criminosos conseguiram movimentar rapidamente centenas de milhões em valores.
Até agora, o prejuízo estimado já ultrapassa R$ 800 milhões, podendo alcançar mais de R$ 3 bilhões, segundo cálculos preliminares. Só da empresa BMP, especializada em serviços bancários, foram desviados cerca de R$ 400 milhões.
A investigação busca identificar os autores do ataque, rastrear o dinheiro e entender como as credenciais de acesso foram obtidas. Para especialistas, o caso expõe falhas graves na segurança das integrações entre sistemas bancários e no monitoramento das chamadas contas de liquidação.
O desafio de proteger o Estado digital
O aumento dos ataques cibernéticos contra a administração pública não é um fenômeno isolado do Brasil. No mundo todo, governos têm sido alvo de hackers interessados em roubar informações sensíveis, aplicar golpes financeiros ou simplesmente desestabilizar serviços essenciais.
No entanto, especialistas apontam que a combinação de redes desatualizadas, ausência de investimentos consistentes em cibersegurança e falta de pessoal qualificado torna o Estado brasileiro especialmente vulnerável.
As estatísticas do CTIR Gov reforçam que o problema é crônico e exige ações estruturantes. A cada ano, o número de notificações cresce, enquanto a complexidade dos ataques evolui.
O que pode ser feito
Entre as recomendações de órgãos de controle e especialistas em segurança digital estão:
- Atualização constante dos sistemas e softwares utilizados pelo governo.
- Capacitação técnica de servidores públicos para identificar e responder a ataques.
- Investimento em criptografia mais robusta e autenticação em múltiplos fatores.
- Criação de planos de contingência para manter serviços essenciais em caso de invasões.
- Parcerias com a iniciativa privada para desenvolvimento de soluções inovadoras.
Além disso, é fundamental avançar na legislação sobre crimes cibernéticos e responsabilizar rapidamente os agentes identificados, para desencorajar novas investidas.
(Informações Redação Terra)