Segundo a cuidadora, procedimentos de primeiros socorros foram realizados pelo marido da mulher
A cuidadora, suspeita de ser a responsável pela morte do bebê Gael, de três meses, descreveu o momento em que a criança morria. A criança foi deixada pela mãe sob os cuidados da mulher, em uma creche clandestina.
O caso aconteceu no bairro Tatuquara, em Curitiba. O caso está sob investigação da Polícia Civil do Paraná (PCPR), e o advogado da família, Igor José Ogar, aponta negligência e imprudência na condução do atendimento ao bebê.
Segundo a cuidadora, ela seguiu todos os procedimentos durante e depois a alimentação da criança.
“Dei mamadeira para ele, fiz arrotar, tudo certinho e notei que ele já estava com sono, querendo dormir. Aí eu peguei e coloquei na caminha da minha filha no quarto, a cada dez minutos eu ia lá. Aí numa dessas fui fazer almoço, preparar para outras crianças, eu voltei novamente no quarto, nisso ele já estava com a boquinha roxa e imóvel”, iniciou.
A mulher ainda afirmou que após perceber que a criança estava imóvel, o marido começou a fazer os primeiros socorros na criança enquanto ela falava com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
“Eu peguei o bebê no colo rapidamente, ele tava quentinho, só que não tinha reação no rostinho. Gritei para o meu marido, ele começou a fazer os primeiros procedimentos com a criança virada de bruço. Soltou muito leite e liguei para o Samu em seguida. Conversando com a médica no telefone, no viva voz ali, ele ia fazendo os procedimentos de acordo com o que ela mandava”.
Segundo a cuidadora, ela cobrava cerca de R$ 300 por mês. O valor era por meio período e atendia crianças de até sete anos. Gael seria o único bebê naquele dia.
A cuidadora contou que anos antes já tinha recebido orientações da vigilância e do Conselho Tutelar. Ela não regularizou a situação, por causa dos custos.
“Depois que a Vigilância foi eu cheguei a abrir um “MEI” (Microempreendedor Individual), só que daí precisava de muitas coisas. Fui investigar bombeiro e tudo mais, só que eu não tinha (dinheiro). Não é um valor que dê para você investir em alguma coisa. A gente tirava para o nosso sustento e para a própria alimentação das crianças”.
A mãe de Gael relatou à RICtv que tentou conseguir vaga para o filho na rede pública de educação infantil, mas não obteve sucesso.
“Eu fiz inscrição do Gael com um pouco mais de 30 dias de vida.”
Ela conta que seus outros dois filhos frequentam creches municipais, mas que, no caso de Gael, a vaga não foi disponibilizada.
“Eu não conseguia a vaga. Daí eu optei em arrumar uma pessoa pra cuidar. E ela foi bem recomendada, ela cuidava de criança há muito tempo ali. É muito tempo mesmo, acho que tem mais de 10 anos. E nunca, pelo menos que eu saiba, tinha reclamação dela.”
Em meio à dor, a mãe expressou sua revolta com o desfecho trágico:
“Vocês não sabem o que é entregar o filho vivo e pegá-lo morto! […] Ela não salvou o meu filho! Eu cheguei e meu filho tava morto! Ele tava morto!”, disse a mãe emocionada.
Morte de bebê em creche clandestina: segundo a mãe, cuidadora devia ter socorrido a criança
Ela também criticou a conduta da cuidadora, alegando que havia possibilidade de buscar socorro imediato:
“Ela tinha carro! Ela podia ter pegado o meu filho e colocado junto no carro, procurado ajuda! Ele não tinha acabado de morrer! Ele não tinha, ele tava roxo!”
Segundo o relato, o bebê teve uma crise de bronquiolite anteriormente, mas já havia se recuperado:
“O Gael teve sim uma crise de bronquiolite, mas ele ficou 24 horas na UPA do Tatuquara, internado em observação, e o médico optou em mandar ele pra casa por conta de um risco maior no hospital, e ele ser muito bebê. Mandou ele pra casa com tratamento, e eu não mandei ele para nada, para ninguém cuidar, tanto é que eu nem trabalhei quando ele ficou doente, ele ficava comigo. E ela começou a cuidar do meu filho depois que ele já tinha melhorado, disse.
Além disso, a mãe também disse que levou o filho para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) recentemente.
“A crise que deu de bronquiolite nele foi antes dela pegar o meu filho para cuidar. Não foi quando estava com ela. Ele já estava melhor. Já, sim, ele já tinha melhorado. Não tinha nenhum sintoma disso. […] Ele teve uma consulta na UPA, na unidade de saúde, e ele estava bem de saúde, ele não tinha nada, ele foi avaliado, nada, nada”, completou a mãe.
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Advogado acusa suspeita de negligência
O advogado da família, Igor José Ogar, afirmou que o caso é grave e que há relatos de outros pais sobre irregularidades no mesmo local:
“É um caso gravíssimo que inicia-se nesse momento e que certamente, diante dos relatos e da gravidade dos fatos trazida pela família, vai muito além dessa falta de cuidado, dessa negligência, imprudência, ou talvez até imperícia.”
O advogado apontou que há indícios de que a responsável tenta transferir a culpa pela morte da criança à mãe:
“A família me relata que, anteriormente aos fatos, essa mulher que cuida dessa… eu vou chamar… não posso nem chamar de clínica, nem de creche. Eu não sei qual seria o nome adequado. Talvez nem valha a pena dizer aqui. Fique isso na mente de cada um. Mas é um nome que vai desprestigiar o trabalho dessa pessoa.”
“Nós entendemos que ela tenta colocar a responsabilidade ainda na mãe. Não bastasse perder o filho, o Gael, ela ainda tenta projetar uma culpa pra mãe, dizendo que a mãe levou essa criança adoecida.”
O advogado reforçou que Gael havia passado por consulta médica recentemente e não apresentava problemas de saúde:
“A mãe, por bem, e por sorte — posso dizer por Deus — tinha recentemente levado o Gael a um médico pediatra que não constatou nenhum tipo de doença ou algo que pudesse acometer a morte dessa criança. Então nós descartamos essa possibilidade.”
Ogar também apontou que a creche clandestina agiu com imprudência e que outros pais relataram irregularidades:
“Reforçamos ainda, diante dos relatos da mãe, de toda a família e também de outros pais de crianças, que aquela clínica ali agiu, sem dúvida nenhuma, com imprudência, negligência e, talvez, se houve alguém falseando ser uma pessoa cuidadora profissional, até com a imperícia.”
O caso está sendo investigado e a cuidadora foi presa e ouvida pela Polícia Civil, mas liberada após o pagamento de fiança. O marido da mulher continua preso. O corpo do bebê foi encaminhado para exames no Instituto Médico-Legal (IML), que devem apontar mais detalhes da causa da morte.
Gael, o bebê, de três meses, que morreu engasgado na creche clandestina, foi sepultado na manhã desta terça-feira (20), no cemitério do Boqueirão.
Relembre o caso: morte de bebê em creche clandestina de Curitiba
Um bebê, de três meses, morreu engasgado na tarde desta segunda-feira (19), em uma creche clandestina no bairro Tatuquara, em Curitiba.
De acordo com nota da PCPR, as informações preliminares apontam que o bebê teria morrido após se afogar com leite. Porém, a causa da morte só poderá ser confirmada oficialmente após exames periciais, que já foram solicitados pelas autoridades.
Bebê morto em creche clandestina: mulher presa paga fiança e é solta
A mulher presa suspeita pela morte de um bebê, de três meses, em uma creche clandestina, pagou uma fiança de R$ 3 mil e foi liberada, segundo a Polícia Civil do Paraná (PCPR).
Dessa forma, o delegado Fabiano Oliveira, afirmou que a suspeita vai responder em liberdade pelo crime de homicídio culposo, quando não há intenção de matar. O marido da mulher foi encaminhado para a cadeia pública.
Advogado de defesa dos suspeitos se manifesta
O advogado de defesa do casal, Junior Ribeiro, se manifestou sobre o caso por meio de nota. Leia na íntegra:
“Maria Eliza atua como cuidadora de crianças há mais de uma década, sempre no mesmo endereço, e jamais houve qualquer tipo de incidente, reclamação ou apontamento negativo por parte dos pais ou responsáveis. Ao longo desses anos, nunca se registrou sequer um relato de ferimentos, maus-tratos ou negligência envolvendo qualquer criança sob seus cuidados.
No dia do lamentável ocorrido, a mãe da criança a deixou aos cuidados de Eliza pela manhã, informando que a bebê ainda não havia se alimentado. Eliza procedeu a amamentação, aguardou que a criança arrotasse e, em seguida, a colocou para dormir em segurança, deitada de lado, em um ambiente visível da cozinha, onde preparava o almoço para as demais crianças.
Cerca de dez minutos depois, ao verificar o estado da bebê, percebeu alteração em sua coloração e, imediatamente, em estado de desespero, chamou seu esposo, que iniciou os procedimentos de emergência. Simultaneamente, ela entrou em contato com o Samu, que a orientou, por telefone, a colocar o bebê em decúbito frontal e iniciar massagem cardíaca, a qual foi mantida até a chegada da equipe médica.
É importante esclarecer que, há cerca de dois anos, o local recebeu uma visita do Conselho Tutelar e, após vistoria, não foi identificado qualquer indício de abuso ou negligência. As crianças estavam bem cuidadas, alimentadas e apresentavam bom estado geral, razão pela qual não houve qualquer medida ou sanção.
De igual forma, a Vigilância Sanitária realizou visita orientativa, recomendando apenas a busca por regularização formal, sem determinar o encerramento das atividades nem aplicar qualquer penalidade, reconhecendo que a sra. Eliza prestava um serviço de caráter social, que muitas vezes supre a ausência de políticas públicas adequadas.“
O casal lamenta profundamente a perda irreparável dessa criança, compartilha da dor da família e permanece à disposição das autoridades para esclarecimentos, colaborando de forma transparente com todas as investigações. (RIC)