Ilson Boca Venancio –
Meu personagem de hoje é o poeta compositor, membro da ALBD – Academia de Letras do Brasil, Seccional Dourados, o amigo Moises Crestani. Eu o conheci nos anos setenta quando ele e muitos artistas circulavam em busca de um espaço para mostrar os seus trabalhos artísticos, participando de concursos literário e festivais de música.
Combinamos um horário para conversarmos e o resultado da nossa conversa é o fruto dessa nossa história. Ele foi me revelando dados da sua vida nesse mundo das artes da qual sempre esteve envolvido desde criança.
Quando criança ficava observando o seu pai, Senhor Victório Crestani, tocar seu trombone lendo a partitura, leitura que para ele que era leigo no assunto, achava muito difícil. Seu pai era do grupo da igreja em que ele frequentava, onde tocavam as músicas gospel.
Quando começou a aprendizado da escrita na escola, começou a sentir vontade de escrever poesias. Ele diz que escrever é uma forma de conversar consigo mesmo, pondo no papel os seus sentimentos e conflitos questionáveis.

Ele conta que quando escrevia uma poesia sempre pedia para que alguém lesse suas escritas e emitissem a opinião, mas nem sempre as respostas o satisfaziam. Se o tema fosse triste, logo a pessoa lhe dizia que ele estava muito triste, se a poesia fosse de amor diziam que ele estava romântico, mostrava para outro e ouvia como resposta “nossa com você está bravo!!” Então ele ficava envergonhado porque não estava bravo, nem triste e muito menos romântico! Era apenas uma poesia! Então ele ficava decepcionado e rasgava os versos.
Então com medo de escrever e alguém ler e não entender seus poemas passou a decorar seus poemas e foi guardando para si mesmo. Foi quando já adolescente no colégio, tinha uma amiga que sempre lhe pedia para declamar para ela as suas poesias. Assim ele não guardava suas escritas mais as decorava e sempre declamava para a sua amiga, sem saber que ela anotava tudo. Certo dia ela lhe presenteou com um caderno.
Então viu que nele havia mais de uma centena dos seus poemas, lhe deixando emocionado. Guardou esse caderno como se fosse uma jóia perdida e recuperada, mais com as mudanças de casa esse caderno acabou se perdendo, mas foi a partir desse presente recebido que voltou a escrever seus poemas e nunca mais parou.

Mudou-se para Dourados em 1971, logo após a realização do quarto festival da música popular brasileira de Dourados, evento muito elogiado, mas foi nas realizações dos festivais estudantis que ele começou a compor suas músicas.
Relembra que quando ouviu os intérpretes ainda adolescentes cantar no Fempop, viu que entre eles tinham alguns com voz bonita e bem postada, que combinavam com o estilo de músicas que ele gostava de compor, logo fez amizade com eles! Assim quando a UDE “União Douradense dos Estudantes Secundaristas” realizou o primeiro Festival Estudantil de Música Pop com músicas inéditas, ele participou. Começou a compor músicas para os festivais, sempre com boas interpretações acompanhada por bons músicos, e as suas músicas alcançavam boa classificação, e em alguns desses festivais participava com várias composições.
O sucesso geralmente acontecia ficando sempre entre as três melhores colocações. Destacou que quando participou do festival interno do Colégio Objetivo, a sua música ganhou o primeiro lugar.
Ele disse ter participado de festivais em Dourados, Campo Grande, Corumbá e também em cidades do interior de São Paulo. Assim suas composições ficaram bem populares em festivais, entre elas as canções : “Tudo é antigo,” “Um novo dia”, entre outras.
Na década de 80, quando a TV Morena começou a realizar o Fessul, Festival Sul-mato-grossense da Canção, ele compôs várias músicas para participar do evento. Suas composições se classificaram entre as três primeiras colocações. Quando a TV promoveu o Festão – Festival da canção sertaneja, mesmo não tendo afinidade com a música sertaneja, se aprofundou no tema ouvindo muitas músicas de raiz e se inspirou a compor para participar. A sua composição contou com a participação do músico José Roberto Vellosa no violão, (Beto Vellosa), e do acordeonista Nelson Domingos, o nosso consagrado Dominguinhos.

Recentemente compôs uma música em parceria com o músico e compositor Beto Vellosa (José Roberto Fernandes Vellosa), outro artista que assim como ele trilhou pelo caminho dos festivais.
Moisés me disse que apesar de contar com a participação de amigos na interpretação de suas músicas, no processo de criação das letras e melodias para os festivais, sempre atua sozinho. Uma da últimas composições “Velas Orientais” produzida em vídeo contou com a parceria e interpretação de Beto Vellosa.
Sempre firme com a literatura, no ano de 1978 com a realização do I Concurso da Grande Dourados de Contos e Poesias, participou ficando em quarto lugar, e em 2019 lançou o seu primeiro livro de poesias, com o título “Para não morrer comigo”!
Em 2021 lançou o seu segundo livro “Varal das Lembranças” onde faz uma reflexão poética da sua trajetória. Relembra com saudades dos bons tempos dos festivais, onde o artista-compositor podia expor seu canto e suas ideias, provocando questionamentos e promovendo transformações! Sem festivais ele segue em frente tecendo versos em rimas, coletando suas poesias, que já são muitas e grande partes delas sem publicar. Persistente como todo artista vai criando formas de aos poucos ir publicando!


Em 2022 se tornou membro fundador da Academia de Letras do Brasil, Seccional de Dourados, onde ocupa a cadeira de número 17, tendo como Patrono o poeta Elpídio Reis.
Eu que sempre acompanhei e aprecio o trabalho desse meu amigo, poeta e compositor, meu confrade Moisés Crestani, só tenho a agradecer por essa conversa que resultou nessa história.
