Sophia morreu aos 2 anos. — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução
Stephanie de Jesus Da Silva e Christian Campoçano Leitheim se tornaram réus em processo que investiga a morte da menina, de 2 anos, por estupro e espancamento
Por Rafaela Moreira, g1 MS — Mato Grosso do Sul –
As mensagens trocadas por Stephanie de Jesus da Silva e Christian Campoçano Leitheim, acusados por estupro, espancamento e pela morte de Sophia OCampo, obtidas com exclusividade pelo g1, mostram que a mãe e o padrasto combinaram uma justificativa para a morte da menina. Leia as mensagens na íntegra mais abaixo.
“Inventa algo ou me manda preso. Fala que ela se machucou no escorregador do parquinho, igual da outra vez. Tô indo me matar no pontilhão”, escreveu Christian em mensagem a mãe da menina.
Stephanie de Jesus Da Silva e Christian Campoçano Leitheim seguem presos — Foto: Redes sociais
A quebra de sigilo telefônico de Stephanie e Christian, durante a investigação da Polícia Civil, mostra que o casal sabia das implicações da morte da menina, de 2 anos e 7 meses, e que tentaram “criar uma história” para contar à polícia. Na conversa também é possível entender que Christian já tinha tido comportamento agressivo com a menina antes do dia da morte.
Sophia morreu com dois anos em Campo Grande — Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução
As mensagens foram trocadas quando a mãe da menina estava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino, onde a criança já chegou sem vida no dia 26 de janeiro. Stephanie de Jesus Da Silva e Christian Campoçano Leitheim, mãe e padrasto de Sophia, seguem presos.
A transcrição da conversa entre Christian e Stephanie consta no inquérito policial encaminhado para Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) e obtido pelo g1.
Leia a transcrição abaixo:
Christian, às 17h11: Eu não sei. Inventa algo ou me manda preso. Fala que ela se machucou no escorregador do parquinho, igual da outra vez. Tô indo me matar no pontilhão.
Christian, às 17h15:Eu não tenho condições de cuidar de filhos
Christian, às 17h17 (Áudio chorando): Eu te avisei que algum dia ia dar azar. Que você ia perder suas coisas. Eu te avisei que sua vida ia ficar pior comigo, mas você não acreditou.
Stephanie, às 17h18 (Áudio chorando):Eles falaram que ela morreu faz horas. Eu não acredito nisso. Antes de sair de casa, ela falou com a gente. Ela queria ir no banheiro. Ela falou, não estou louca.
Christian, às 17h25: Eu vou me matar. Tô saindo. Não vou levar o celular, nem identidade, para quando me acharem, demorar para reconhecer. Desculpa Stephanie, vou sair da sua vida. Me manda preso para eu pelo menos me sentir menos culpado. Se eu tivesse escutado aquela hora, ela tava bem agora.
Stephanie, às 17h30: Disseram que ela foi estuprada
Christian, às 17h30: Nunca. Isso é porque não sabe o que aconteceu com ela e querem culpar alguém. Sei que você não vai acreditar em mim
Stephanie, às 17h31:Viram o corpinho dela. Abriram ela
Christian, às 17h31: Da minha parte eu nunca denegrir o corpo dela. Eu juro
Christian, às 17h32 (Áudio): Se você achar que é verdade, pode me mandar preso. Pode fazer o que quiser, já perdi minha filha mesmo
Réus
Stephanie de Jesus Da Silva e Christian Campoçano Leitheim se tornaram réus no processo que são acusados por estupro, espancamento e morte de Sophia OCampo. A denúncia foi acolhida pelo juiz Carlos Alberto Garcete, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, nesta sexta-feira (10).
A mãe e padrasto da menina foram denunciados pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) por homicídio duplamente qualificado, estupro de vulnerável, e no caso dela, omissão de socorro.
Entenda o caso
Relato de homofobia contra o pai. 30 atendimentos em unidades de saúde antes de morrer. Casa em situação insalubre. Boletins de ocorrência. Mãe e padrasto presos. A morte da menina Sophia Jesus Ocampo, de 2 anos, chocou moradores de Campo Grande e é alvo de investigação da Polícia Civil.
As idas de Sophia à unidade de saúde eram frequentes. O prontuário médico da menina consta que ela passou por 30 atendimentos médicos em unidades de saúde da capital, uma delas por fraturar a tíbia.
Stephanie de Jesus Da Silva e Christian Campoçano Leitheim, mãe e padrasto de Sophia, estão presos preventivamente pelos crimes de homicídio qualificado e estupro de vulnerável.
No dia 26 de janeiro, a mãe levou Sophia à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Coronel Antonino, onde a menina já chegou morta. O médico legista constatou que o óbito havia ocorrido cerca de sete horas antes.
O laudo de necrópsia do corpo da menina, emitido pelo Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), apontou que a causa da morte foi por traumatismo na coluna cervical e confirmou que Sophia foi estuprada.
A declaração de óbito aponta que a causa da morte foi por um trauma na coluna cervical, que evoluiu para o acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica. O documento ainda diz que a menina sofreu “violência sexual não recente”.
Pai acusa homofobia
Jean, Sophia e Igor — Foto: Arquivo Pessoal
O pai de Sophia acusa a mãe da criança de homofobia durante as tentativas de buscar pela guarda da menina. Jean Carlos Ocampo diz ter tentando a guarda da filha, mas “ela [mãe da menina] dizia que não deixaria a filha com dois homens”.
“A questão da homofobia existiu. A gente vê mães reclamando que o pai não é presente, e nesse caso tinha um pai tentando se fazer presente e ignoravam”, afirma o pai da menina.
Jean relata vários momentos em que a homofobia barrou a relação entre ele a filha. “Teve esse preconceito por ser dois pais, porque quando você quer ajudar, as coisas acontecem, ainda mais no estado em que a minha filha chegava em casa. Eu mostrava fotos dos hematomas, mostrava a neném, e nada era feito”.