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Crônica em retalhos: enfim, 2011

Wilson Valentim Biasotto * – 12/03/2011

 
Águas de março
Lembra-se o leitor da maravilhosa música de Tom Jobim, “Águas de Março”? “(…) são as águas de março/ fechando o verão// é promessa de vida no meu coração” E não é que até mesmo as águas de março estão insistindo em não fechar o verão que se iniciou em 2010? Os sojicultores que estavam com um sorriso no rosto, depois de tantos anos de penúria, agora pedem clemência aos céus, de modo que as “águas de março, enfim encerrem o verão para que possam colher. E não é para menos, as primeiras estimativas dão conta de uma quebra de 20% na colheita.

Ano insepulto
Ora, se até o clima insiste em não fechar 2010, imagine no campo político? Afirmei várias vezes que 2010 foi o ano que não acabou ao menos para Dourados. Bem, vá lá, digamos que tenha se acabado com o Carnaval, afinal não se costuma dizer que no Brasil o ano só começa após o carnaval? Se um ano começa é porque o outro acaba, mas convenhamos se realmente acabou 2010 ainda não foi para o cemitério dos anos decorridos, é um ano insepulto, pois deixou muita coisa para trás, para se resolver.

Chagas abertas
As Operações Owari (ponto final) e Uragano (furacão) estão em aberto, mas algumas de suas consequências ainda fazem sangrar, muito mais que mordida de porco. As chagas estão abertas e dificilmente vão cicatrizar-se, mesmo porque os ferimentos não atingiram somente os envolvidos, os golpes resvalaram, as balas ricochetearam e atingiram órgãos vitais da administração pública do município.

Recapitulando
Nos 19 meses de sua administração Ari Artuzi conseguiu destruir quase toda a organização que a gestão Tetila havia conseguido recuperar à duras penas, durante seus oito anos de mandato. As escolas municipais começaram as aulas com atraso e ainda, em situação precária. A Saúde Pública deixou até de licitar medicamentos básicos; a Secretaria de Serviços Urbanos não deu conta de tapar os buracos das ruas; obras públicas foram paralisadas por conta da falta do tal “retorno” político; o corpo de funcionários inchou com a criação de cerca de 200 cargos de confiança, além dos que já existiam; a Assistência Social foi deturpada pelo assistencialismo, enfim, em menos de dois anos o estrago foi grande, talvez maior que um furacão.

Cinzas
Iniciamos a três dias, na quarta-feira de cinzas a nossa penitência. As cinzas, tanto quanto se depreende do Antigo quanto do Novo Testamento, têm sempre o significado de dor, morte, penitência. Em Dourados a nossa penitência não é só pelo advento da Quaresma pós-carnaval, mas principalmente a da purgação pela má escolha que fizemos em 2008.

Aprendizado pela dor
O aprendizado que se dá pela dor, apesar de lamentável, é emblemático. Penso que o povo de Dourados guardará bem a lição aprendida com a eleição de Artuzi. No entanto, a minha dúvida é se os nossos políticos terão aprendido, se as nossas forças vivas, terão tirado algum proveito?

Lamento, mas duvido
Torço para errar, mas duvido. Os políticos douradenses estão atrelados às forças da capital. Quando um ou outro político local se alvora com ares de soberania, logo tem as orelhas puxadas por algum figurão campo-grandense. Lembra-se o leitor que o PMDB queria lançar candidatura própria à prefeitura? Que fez o governador? Bateu na mesa e encerrou a questão. E o meu PT? Nem se fala, rompeu com a tradição que mantinha desde 1982 e apoiou o DEM. Eu inclusive levantei o meu crachá para votar a favor dessa coligação.

Nossas forças vivas
Por seu lado as nossas forças vivas, ou seja, as nossas entidades representativas – a exemplo do Sindicato Rural, ACED, Lyons, Rotary, Associação Médica, Entidades Religiosas, Universidades – lamentavelmente não conseguem estabelecer junto com a prefeitura um projeto para Dourados. Ao invés de apresentarem projetos para os políticos buscarem recursos, esperam que eles lhes tragam algumas benesses.

Críticas bem vindas
Da mesma forma como ao final de todas as minhas crônicas digo que as críticas são bem vindas, espero que os leitores entendam que escrevi essas linhas acima procurando buscar as raízes de nossos males, pois se não encontrarmos as causas, jamais nos livraremos de seus efeitos.

  • Suas críticas são bem vindas: [email protected]
  • Membro da Academia Douradense de Letras; aposentou-se como professor titular pelo CEUD/UFMS, onde, além do magistério e desenvolvimento de projetos de pesquisas, ocupou cargos de chefia e direção.

Fonte: Folha de Dourados

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