Dourados – 21/10/2011
A sinuca de bico na qual se encontra o prefeito Murilo Zauith é uma assertiva pronta e acabada deste poder de Campo Grande
José Henrique Marques
A tão propalada independência política de Dourados em relação a Campo Grande não passa de utopia. Como sede político-administrativa do Estado, é na capital que as principais decisões e articulações políticas acontecem e ponto final. Poder é poder, restando ao interior acatar e interpretar as batidas do martelo sob pena de ficar abaixo do patamar de mero coadjuvante em todo o processo, como vem acontecendo com a maioria dos municípios, principalmente aqueles de baixa densidade eleitoral.
A sinuca de bico na qual se encontra o prefeito de Dourados Murilo Zauith (PSB) é uma assertiva pronta e acabada deste poder de Campo Grande. Alinhado ao PT do senador Delcídio do Amaral, a partir da coligação de fevereiro deste ano na eleição extemporânea quando ainda pertencia ao DEM, Murilo corre o risco de enfrentar a máquina do governador André Puccinelli que tem três fortes alternativas para derrotá-lo: os deputados federais Geraldo Resende e Marçal Filho e a vereadora Délia Razuk. Os três sonham em chegar à Prefeitura com as bênçãos do governador.
O pano de fundo da sinuca política de Murilo é uma possível união de Puccinelli e Delcídio nas eleições de 2014, quando os dois principais caciques políticos da atualidade de MS tentarão trocar de lugar: o senador no Governo e o governador no Senado. Se houver essa aliança entre PT e PMDB, rivais históricos, Murilo sairá fácil da enrascada. O problema é que não há garantias para isso, porque em 2013, o PT elegerá novo diretório regional e novos delegados.
Para que a união PT/PMDB aconteça Delcídio precisará ter a maioria do diretório regional, já que o grupo do ex-governador Zeca do PT jamais aceitará essa hipótese, e Puccinelli terá que demover o atual prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad (PMDB) da idéia de ser governador do Estado partir de 2015. Para ambos, a tarefa é espinhosa.
Como as eleições municipais precedem à sucessão estadual reina a incerteza no futuro e, na dúvida, com certeza, Delcídio e Puccinelli articularão as candidaturas a prefeito isoladamente, a exceção, ao que parece de Corumbá, onde pretendem ‘ungir’ juntos um nome comum, a fim de azucrinar a vida de um adversário em comum: Zeca, que apóia o deputado estadual Paulo Duarte, do PT.
Então, a situação de Murilo é desconfortável. Se Puccinelli cismar que ele apoiará Delcídio lançará candidato do PMDB turbinado para vencer, pois o apoio do prefeito de Dourados a sua candidatura e eventualmente a de Nelsinho ao Governo será muito importante.
A importância de Dourados [segundo colégio eleitoral do MS] nas eleições de 2014 cresce na medida em que o PMDB tem dificuldade de encontrar um nome com potencial eleitoral para disputar a prefeitura de Campo Grande. O deputado federal Edson Girotto é alvo de denúncias e a vice-governadora Simone Tebet, que em surdina transferiu seu domicílio de Três Lagoas à capital, vem sendo questionada sobre a legalidade de sua eventual candidatura que configuraria uma tentativa de terceiro mandato [foi prefeita reeleita de Três Lagoas], prática vedada pela Constituição Federal.
Enquanto isso, Murilo protela ao máximo a discussão de sua candidatura à reeleição, na esperança de que surja alguma luz no final do túnel. Pretende entrar nesta pauta em abril ou maio torcendo por uma solução ao impasse Puccinelli/Delcídio que parece impossível.
Nesse imbróglio todo, o fiel da balança é Nelsinho Trad – o prefeito de Campo Grande. Portanto, Dourados é muito importante, mas depende da capital.
Fonte: Folha de Dourados