20/04/2015 07h24
Pacientes cardíacos são mais vulneráveis às consequências da dengue
Por: Folha de Dourados
Com a proliferação da doença no País, médicos enfrentam dilema de suspender medicamento essencial para cardíacos, que aumenta risco de hemorragia em casos de dengue
Diante do aumento da incidência de dengue em todo o País, o resultado é mais do que preocupante: muitos casos graves da doença resultam, inclusive, em mortes. Para pessoas com problemas no coração, o risco à saúde é maior ainda. Isso porque o tratamento da dengue exige a suspensão do AAS (ácido acetil salicílico), medicamento essencial para maioria dos cardíacos, mas que traz sérios riscos de hemorragia em casos da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
O AAS previne a formação de coágulos que podem levar ao infarto e angina. Médicos explicam que um acompanhamento rígido nesses casos é necessário para evitar problemas mais graves.
“Há um grupo de pacientes em situação mais crítica: aqueles que fizeram angioplastia e usam AAS e outras medicações associadas para evitar a trombose do stent que foi implantado na coronária depois de promover o desentupimento dela”, diz Abrão Cury, cardiologista do Hospital do Coração (HCor).
Quando alguém recebe um stent para manter a coronária “aberta” para o sangue fluir, o sistema imunológico entende que o implante é um corpo estranho, e tenta atacá-lo. Esse ataque aumenta o risco, estatisticamente, de formação de coágulos, que provocariam um infarto. Segundo Cury, o risco é alto no primeiro ano de implante. Depois desse período, o sistema imunológico acostuma com o corpo estranho e entende que agora ele faz parte do organismo e as chances de um ataque diminuem consideravelmente.
“Pessoas que têm esse dispositivo instalado precisam tomar remédios para prevenir o entupimento da coronária, então o AAS [que tem uso contraindicado em casos de dengue] é a recomendação para 100% das pessoas”, diz o médico.
Dilema recente
É aí que começa o dilema da medicina: como tratar um paciente que não pode ficar sem o AAS, mas deixá-lo em risco de sofrer uma hemorragia por causa do uso do remédio enquanto está com dengue? Os médicos afirmam que a situação ainda é nova. “Ficamos entre a espada e a parede”, diz o cardiologista do Instituto do Coração (Incor), Alexandre Soeiro, sobre como tratar o paciente.
“Não sabemos muito bem ainda porque é uma coisa recente. Até pouco tempo atrás não tínhamos esse problema [de epidemia de dengue], e agora temos que nos preocupar com o efeito colateral do AAS sobre a quantidade de plaquetas”, diz Soeiro, referindo-se a um dos problemas causados pela dengue: a queda de plaquetas. O AAS diminui ainda mais essas plaquetas, aumentando o risco de sangramento no corpo. Quando esse sangramento acontece no cérebro, é o chamado AVC hemorrágico.
Por outro lado, explica Soeiro, o AAS é um excelente protetor da coronária e do coração em geral. “Mas faz a plaqueta diminuir a funcionalidade, para não formar coágulo e trombo no coração”.
O cardiologista do Incor conta que os médicos não sabem qual é o procedimento ideal. “Não temos trabalhos científicos sobre isso. Pesando o risco-benefício, nossa orientação é suspender o AAS”, conta ele. “Tem risco de ter um novo infarto? Tem, sim, mas não só pela suspensão dele. Talvez parar com o AAS seja um agravante a mais”, preocupa-se ele.
Abrão Cury indica que o paciente com problemas cardíacos e que correria riscos ao suspender o AAS seja internado para um acompanhamento mais rígido. “Os pacientes de risco um pouco maior devem ser internados e ficar lá até passar o período da doença. Depois disso, podem voltar a tomar a medicação”.
A internação é necessária para acompanhar todos os sinais do doente. Se ele apresentar sintomas de que está infartando, já estará dentro do hospital e o atendimento será muito mais ágil.
Lançar mão de repelentes para ter certeza de que está protegido é uma atitude que pode salvar a vida de quem tem problemas do coração com necessidade de tomar o AAS. Além disso, medidas para evitar a proliferação da dengue em água parada devem ser tomadas por todos. A melhor forma de prevenir a doença é procurar focos de água limpa e parada em casa e eliminá-los. Objetos que acumulem água devem ser guardados de cabeça para baixo ou outra forma que impeça que o depósito de água. É importante lembrar que as caixas de água devem ser mantidas fechadas.
