10/01/2014 08h03
(*) Marcelo Mourão
Neste recém-iniciado ano de 2014, os corações e mentes do mundo inteiro estarão voltados para a Copa do Mundo, que pela segunda vez será realizada no nosso país. Os olhos dos brasileiros estarão voltados também para outro “evento”, realizado igualmente a cada quatro anos: as eleições para Governos estaduais, para a Assembleia Legislativa, para a Câmara dos Deputados, para o Senado Federal e para a instância máxima de poder, que é a Presidência da República.
Se a carruagem continuar a andar na velocidade atual, com obras de infraestrutura atrasadas (o que já gerou inclusive manifestação pública do presidente da FIFA, Joseph Blatter, que afirmou nunca ter visto algo semelhante desde que começou a trabalhar para a entidade, em 1975) o Brasil deve realizar a Copa, mas ficará devendo em muito para as edições realizadas em 2002 (Coréia e Japão) 2006 (Alemanha) e 2010 (África). É previsível que daremos o tal “jeitinho brasileiro” e, em pouco tempo, os aeroportos lotados, os estádios concluídos à toque de caixa, a rede hoteleira insuficiente para a demanda e o trânsito caótico serão esquecidos.
Se no caso da Copa do Mundo as falhas serão em pouco tempo tênue lembrança, no caso do outro “evento” (as eleições) os eventuais erros terão que ser tolerados e permanecerão na memória dos eleitores por longos quatro anos. É claro que é praticamente impossível que parcela dos eleitores não “compre gato por lebre”, como diz o adágio popular, e só se dê conta do engano quando o candidato no qual votou e elegeu figurar no rol dos malfeitores da coisa pública, como os mensaleiros “engaiolados” pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e outros de menor quilate e ainda impunes. Por isso mesmo, para nós brasileiros, um olho deve estar sim voltado para este grande evento, que emociona, alegra e une que é a Copa do Mundo, mas o outro olho precisa estar bem aberto para a eleição e para a vida que segue, politicamente falando.
Há um temor, generalizado e justificado, que a Copa do Mundo funcione como uma espécie de lenitivo, paralisando o país. Preocupada com um eventual vexame no que tange à infraestrutura, que impactaria diretamente na sua candidatura a reeleição, a presidente Dilma se manterá equidistante de “fios desencapados”, orientando sua base de apoio a fazer apenas o beabá e entupirá o Congresso de Medidas Provisórias, que trancam a pauta de votações. É praticamente certo que nas duas casas do Congresso Nacional (Câmara e Senado) temas como a Reforma Política, o Código de Mineração e o Marco Civil da Internet pouco avancem. Se para esses temas as previsões não são boas, quê dizer do PLS 204/2011, que torna corrupção crime hediondo, da PEC 6/2012, que exige ficha limpa para servidores públicos e da PEC 10/2013, que acaba com o foro privilegiado para crimes comuns?
Fazemos essas ponderações não para entoar o canto dos pessimistas, pois sabemos que o megaevento esportivo trará resultados positivos para o turismo, a cultura, a economia e para a infraestrutura, afinal as obras de mobilidade urbana, por exemplo, são perenes. Estarão à disposição dos brasileiros após a realização da Copa. Nossa intenção é que, a par de torcer pelo Brasil como Seleção, façamos uma corrente positiva de torcedores pelo Brasil como país. Um país que precisa avançar. Esse avanço passa necessariamente, a nosso ver, pelas reformas em andamento e pelas eleições de outubro.
Vamos aos estádios com alegria e às urnas com consciência. Na Copa como na eleição, que os jogadores atuem com maestria e fiquemos tanto com a taça como com representantes efetivamente comprometidos com a população.
Pensemos!!
(*) Vereador em Dourados
Por: Folha de Dourados
